terça-feira, 14 de abril de 2015

A Nossa Turma da Esquina de Dona Amélia & Praça da Faculdade de Medicina. Essa marcou época!!!

Foto 1
Olha minha gente! Escrever alguma coisa sobre a nossa maravilhosa turma é como tentar descrever os fatos e os momentos mais felizes que marcaram nossas vidas. Com certeza, seria como escrever um livro com um número infinito de páginas. Eu, além de ter tido o privilégio de ter participado dessa turma, desde praticamente o seu início, quando me lembro de tais fatos vividos, muitas vezes me empolgo tanto que fico como se estivesse em transe e quando volto à realidade só me resta sorrir e em silêncio curtir.
Na foto 2 abaixo, cedida pelo meu amigo Equinho, mostra literalmente a Esquina da Dona Amélia, nos anos 70. Da esquerda para a direita: Roberto Pinheiro, também conhecido como Roberto Doido, Equinho fumando cachimbo utilizando tabaco da marco Bulldog ou Half & Half, muito utilizados na época e eu Nicolau/Niel, magro e comprido que nem um dia de fome. Estamos exatamente na esquina da Dona Amelia, de frente a Venda do Seu Toledo que ficava de esquina do outro lado da Rua São Domingos. Eu e Equinho estamos na esquina do lado que dá para Rua São Domingos e o Roberto está mais para a Avenida Siqueira Campo.

Foto 2
Tudo se passou no maravilhoso cenário dos anos 60, e se prolongou até o início dos anos 80. Nesse período a nossa turma estava sempre junta aprontando por aí. Aliás, a nossa turma na realidade existe até hoje, muito dispersa em função vários fatores, mas graças a Deus, existe. Muitos dos nossos amigos lamentavelmente já se foram e isso tem contribuído bastante para cada vez mais nos unirmos e nos juntarmos sempre que possível.
Nesse período passamos pelas melhores fases das nossas vidas, passando pela infância maravilhosa! Pela adolescência rebelde até nos tornarmos adultos responsáveis e sempre caminhando juntos acompanhamos o início de vários movimentos  e fatos  que ocorreram pelo mundo e principalmente aqui no Brasil.
Na Inglaterra Os Beatles e Os Rolling Stones, com seus cabelos longos e suas guitarras elétricas espantavam o mundo com a sua forma irreverente de se vestir e cantar. Suas canções são tocadas e curtidas até hoje. Eu não me canso de curtir. Uma febre que logo se espalhou rapidamente mudando o comportamento e a forma de ver o mundo, dos jovens da época. Nos EUA, o homem chegava à lua, surgia o movimento negro “Black Power” onde os negros americanos numa forma de protestar contra o racismo iniciaram uma luta sem igual tendo como líder o Pastor Mártir Luther King.  No Brasil, o rádio era acredito eu, a forma de comunicação em massa que tínhamos na época. Notícias, músicas novelas("Jerônimo o herói do sertão", foi uma delas), era tudo através dessa incrível invenção que veio para realmente ficar e deixar todos nós brasileiros conectados com o resto do mundo. As grandes revistas também surgiam tais como o "Cruzeiro", "Fatos & Fotos" e muitas outras que com suas notícias e sua credibilidade marcaram época. As revistas infantis eram a coqueluche na época. O Zorro, O Tarzan, Tio Patinhas, etc... Não podiam faltar em nossos lares. Trocávamos revistas na porta de cinema ou em rodas de amigos. A Playboy era pé de cobra. Quando tínhamos a sorte de ter uma na mão de alguém da turma era um verdadeiro rebu pra ver de perto as fotos das mulheres peladas. A televisão foi, na minha humilde opinião, a maior invenção nesse período e com isso surgiram grandes programas ao vivo, seriados, desenhos animados e os famosos festivais de música popular nacional e internacional. Quem não curtiu? As telenovelas fez surgir uma nova geração de atores e intérpretes que se consagraram no cenário nacional. O cenário musical passava por grande transformação. A Bossa Nova surgia para realmente ficar e também seus grandes compositores e intérpretes. O Brasil mostrava seu novo ritmo para o mundo.
Na foto 3 abaixo, alguns dos amigos que participaram da Turma da Esquina de Dona Amelia. O Abelardo, o Bebéu, o Afonso, que frequentava a Esquina e o Carlinhos Matasma. Esse apelido era porque na época, existia um remédio para asma chamado de "Matasma" e se não estou enganado, ele tomava.


Foto 3
A Jovem Guarda também surgia e com ela os grandes ídolos e suas canções que embalaram a nossa juventude. O programa "Jovem Guarda" apresentado pela TV Record nos sábados à tarde e comandado pelo Rei Roberto Carlos, marcou época. Não tinha um cristão se quer, que não assistisse o programa. Eu assistia todos e muito mais no televisor da vizinha. Chamava-se na época, de "televizinha". A Tropicália também surgia como uma alternativa musical tentando implantar o seu ritmo e a forma psicodélica e irreverente de como se vestiam e se comportavam seus adeptos. O Movimento Hippie também aparecia e aqui em Maceió tinha muitos adeptos. Rolava de tudo! Era tudo "paz e amor"!
Muitos fatos políticos, sociais e econômicos importantes aconteceram nesse período. A Ditadura Militar foi uma delas e deixou muitas marcas. A moeda brasileira mudou de nome e de valores várias vezes. 
Nessa época surgiram também várias drogas e entorpecentes como a heroína e muitas outras. A maconha era consumida em larga escala, pelos os jovens de todo o mundo. Aqui em Maceió, foi uma verdadeira febre. Muitos jovens acabaram entrando nesse mundo sem volta e a maconha foi apenas o início. A Praça da Faculdade de Medicina era um dos pontos de encontro da turma do "fumacê".
Alguns dos nossos amigos da turma também experimentaram a danada da “erva venenosa”! De vez em quando davam "um tapinha" de leve e viajavam sob os efeitos da erva maldita. Ficavam muito doidos! Muito lombrados! Deliravam e chegavam até a ficar de "bode"!  Lembro de um dos nossos amigos que certa vez, de tão lombrado, estava lendo o jornal de cabeça pra baixo, numa boa! Outro, que depois de dar uma "puxadinha", gostava de cair do banco da praça da faculdade. Como já dizia Tim Maia: "É o bode da gente, é o bode bé"! Mas, graças a Deus, tudo não passou de uma pequena experiência! Apenas uma das diversas fases, quem vivenciamos!
Na foto 4 abaixo, mais amigos que faziam parte a Turma. O Chico, o Equinho, o Everaldo Ventola e o nosso grande amigo Francisquinho que foi barbaramente assassinado anos atrás e que até hoje, lamentavelmente, não se sabe quem o matou.


Foto 4
Nessa época surgiram também a onda das motos onde muitas impressionavam pelo tamanho, beleza e principalmente pela sua potência. Foi outra verdadeira febre! Todos queriam ter uma. Aqui em Maceió tinham vários personagens que ficaram bastante conhecidos pelas máquinas que possuíam. Era um verdadeiro desfile nos finais de semana na Praça Deodoro e em frente ao Cine São Luiz. Parece até que estou vendo! Lembro inclusive de dois famosos motoqueiros da época: o Beto Batera com sua Harley-Davidson e o Tadeu da Casa Funerária do Aristeu, que morava na Praça Deodoro e que também tinha uma moto muito possante. Sempre andavam desfilando pelas ruas de Maceió com uma gatinha na garupa. Gostavam inclusive de andar com um lenço amarrado na cabeça. Graças ao meu bom Deus, na nossa turma não tinha nenhum motoqueiro!
Curtíamos tudo isso numa boa e o nosso ponto de encontro era na esquina da antiga Rua São Domingos com a Avenida Siqueira Campos, na calçada da casa da Dona Amélia ou nos bancos da Praça da Faculdade de Medicina. Aqueles bancos circulares de marmorite branco com pintinhas pretas com um poste de iluminação no centro do canteiro central. Uma particularidade era que esses bancos tinham um “S” na cor preta e era o “S” de Sandoval Caju um dos Prefeitos de Maceió, na época.
Aliás, mudando de pau pra cacete, até hoje nunca aceitei a mudança do nome da Rua São Domingos, no Prado, para Rua Lourival Mendonça. Uma homenagem póstuma da família Mendonça para o seu Patriarca que morou por muitos e muitos anos na Rua. Que me desculpe à família Mendonça! Creio que de certa forma tirou o sentido saudosista da rua. Para mim continua sendo Rua São Domingos.
Na foto 5 abaixo, mais amigos da Turma. O Geraldo Cabeção, o Haroldinho, o Haroldo que era um grande amigo e um craque de bola. Jogou inclusive pelo CRB(já falecido). Era irmão do Bebéu. E o João Chagas, irmão do Geraldo Cabeção.


Foto 5
Bem! Voltando aos entretantos! Na realidade Dona Amélia era uma Senhora já de certa idade que morava sozinha nessa casa de esquina, cujos verdadeiros donos moravam fora e só de vez em quando vinham à Maceió. Era uma espécie de cuidadora. A coitada da Dona Amélia sofria muito com a turma, pois fazíamos muita bagunça e muito barulho todos os dias até altas horas da madrugada. Muitas vezes a Dona Amélia por trás do muro com grade, pedia pelo amor de Deus para que parássemos de fazer barulho. Outras vezes ameaçava até chamar a Rádio Patrulha. Atitude que sabíamos que ela nunca tomaria. A nossa turma apesar da bagunça a respeitava e gostava muito dela e com certeza, a recíproca acreditávamos que era verdadeira. Afinal de contas ela conhecia todos os nossos familiares. Mas sempre baixávamos o volume quando ela pedia. Era uma perturbação danada, principalmente quando a turma, chegava de alguma festa ou quando todos estavam lá reunidos. Era bom demais! Coisa de adolescente e marmanjos desocupados da época!
Na foto 6 abaixo outros amigos da Turma. O Julio Mamão,  outro grande amigo já falecido, o Laurinho, o Mario Pitota e Missinho.


Foto 6
A nossa turma era a turma da bagunça. Era a turma das "maiadas". Éramos craques em "maiar". Entrávamos em qualquer lugar sem pagar. No Clube Fênix, na Portuguesa, AABB, etc...Praticamente em todos os Clubes Sociais aqui de Maceió, sempre dávamos uma de "penetra".  Brincávamos nas barbas dos seus Diretores, numa boa. Em festas e aniversários éramos mestres em maiar. Ler a página social dos principais jornais da cidade para saber onde aconteceriam as festas nos finais de semana e escolher a melhor festa ou o melhor baile era uma rotina para vários amigos da turma. Era a turma das"bandeiradas". Da Praia da Avenida até a Praia do Pontal da Barra, não tinha "cocota" que escapasse! Era a turma dos "xeixos". Fazer aquele lanche ou comer um delicioso "rango" e depois sair sem pagar nada, na maior cara-de-pau! Sempre que tínhamos oportunidade, atuávamos e muito bem! Era a turma das "brechadas". Era a turma da "zona". Literalmente! Nas antigas zonas de Jaraguá e depois nas zonas do Canaã, conhecíamos e frequentávamos muitas. Antigamente tinha um tal de "Fiscal de Menores", e um tal de um carro preto da polícia chamado de "Tintureira", que corríamos às léguas! Era a turma da perturbação. comíamos o juízo de todo mundo. Quando "encarnávamos em alguém! Coitadinho!
Na foto 7 abaixo, o Denisson que frequentava a Esquina, o nosso grande amigo Paulinho Buçú, que já não se encontra mais com a gente, o Pedro Gama e o Pereirão.


Foto 7
A esquina da casa de Dona Amélia era um ponto estratégico, pois ficava de frente à Praça da Faculdade de Medicina e também de frente a Venda do Seu Toledo, outra criatura que comeu o pão que o diabo amassou com a nossa bagunça. Além do mais a maioria da turma morava bem próximo à esquina da Dona Amélia. Bastava um assobio de um amigo e todos sabiam que alguém estava chamando. Aliás! Esse assobio era com se fosse um alerta para todos. Em qualquer lugar, quando ouvíamos esse assobio sabíamos que tinha alguém da turma por perto. Até hoje utilizamos esse assobio. 
Sempre tinha alguém da turma na esquina. Era impressionante! O movimento começava à tarde, quando a maioria da turma voltava da escola e se estendia até altas horas da noite. Aos poucos a turma ia chegando e quando menos se esperava, estava lá um monte de marmanjos desocupados e bagunceiros procurando sarna pra se coçar. Alguns chegavam e sentavam na calçada bem relaxados. Outros formavam pequenos grupos e a fofoca comia no centro. Outros ficavam de pé encostados ao muro olhando o movimento e conversando. Outros tantos, trocavam a Venda do Seu Toledo pela esquina e vice versa. De repente a esquina estava cheia. Só pra dar uma pequena ideia do tamanho da nossa turma, olha só as "peças boas" que frequentavam a esquina: eu é lógico, o Paulinho Buçu(tinha uma chibata da porra), o Tomatinho que gostava de imitar com a boca o som de um baixo ou de uma bateria o Biu Bomba, o João Bolinha, o Geraldo Cabeção, o Júlio Mamão, o Wellington Doido, o Zezinho, o Laurinho e seu irmão Beto, o Equinho, e seu irmão Jarbas formiga de açúcar, o Missinho, o Abelardo, o Everaldo, o Jorge Topogigio, o Vestibular, o Pereirão, o Beto Torreiro, o Mario Pitota, o Carlinhos Matasma, o Zequinha Cientista Maluco, o Carlinhos Lombra, o Francisquinho e seu irmão Tonho, o Piaba, o Pedro Gama e seu irmão Joaquim, o Paulo Chorão, o Bebéu  e seu irmão Haroldo, grande jogador, o Paquinha outro grande jogador e muitos outros. Até o Seu Toledo, quando estava de bom humor baixava por lá para conversar com a turma. Todos aprontavam, mas o Equinho, o Missinho, o Laurinho e o Geraldo Cabeção eram realmente grandes mestres.
Na foto 8 abaixo, o Petrucio Veras que apesar de ter a sua turma, também frequentava a Esquina, o Piaba, o Roberto Farias, irmão do Laurinho e o Zezinho.


Foto 8
Graças a Deus, a grande maioria da turma, apesar da fama de bagunceira, gostava muito de estudare de lá saíram vários Médicos, Engenheiros, Advogados, Tecnólogos, Economistas, Professores e muitos outros. 
A conversa era longa e ali era o ponto de partida para qualquer esquema que íamos aprontar. Tudo era discutido e decidido ali. Ali era como se fosse o “Congresso Nacional”! Ave Maria! Tinha até briga, mas sempre acalmávamos os ânimos dos mais exaltados. Afinal de contas éramos acima de tudo amigos. Ali a turma fazia de tudo. Fofocava, tirava onda com as "cocotas" e as "gostosas" que ali passavam como também com algumas figuras que chamassem a nossa atenção. Colocava-se apelidos nas pessoas que também passavam por lá. Ali se fumava de tudo. Do Continental sem filtro até o Minister ou outros cigarros mais caros. De vez em quando aparecia um "baseado" perdido por lá! Ali se fumava o cigarro até queimar os dedos ou o bico. A "tóia", o resto do cigarro, era famosa e rodava de bico em bico, até o cigarro praticamente apagar.
Bebia-se desde a Mucurí, a Pitú e a Saborosa, aguardentes da época, até o uísque, que raramente aparecia por lá. O Rum Montilla com coca cola e a cerveja Brahma ou a Antártica do Cabo, Pernambuco, eram as bebidas mais consumidas pela turma.
Tocava-se violão e se cantava os sucessos de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, Fevers, Incríveis e de todos os cantores e conjuntos de sucesso da época. Os nossos amigos Jarbas e o Francisquinho eram craques no violão. Lamentavelmente já se foram.
Ouvia-se rádio como a Gazeta de Alagoas, a Difusora, a Palmares a Globo/Rio e a Rádio Mundial também do Rio, que na época era a Jovem Pan de hoje das rádios da época. Todos os lançamentos de cantores e conjuntos nacionais e internacionais ouvíamos em primeira mão, pela Mundial muito antes de chegarem aqui em Maceió. Todas essas rádios eram AM o que dificultava muitas vezes a sua sintonia.
O sábado era sagrado! Religiosamente das 18:00 às 19:00 horas tinha um programa dedicado exclusivamente aos Beatles, na Rádio Mundial. Era o "Cavern Club", que era comandado pelo DJ Big Boy e então, a turma que curtia os Beatles estava sempre lá na esquina reunida e quem tivesse rádio  portátil levava e ficava tentando sintonizar a Rádio Mundial AM para ouvirmos o programa. Era arretado! Emocionante! Quando alguém conseguia sintonizar a rádio, ficávamos todos juntos com os ouvidos ligados no rádio ouvindo às vezes muito bem e na maioria das vezes com muita interferência os lançamentos dos 4 cabeludos de Liverpool. O programa era excelente, mas lamentavelmente acabou quando o seu apresentador o DJ Big Boy faceleu. Nunca vou esquecer desse programa! Eu e o meu amigo Zezinho éramos fãs incondicionais dos Beatles. Aliás! Ainda somos! Não perdíamos um! Os rádios que tínhamos na época  eram das mais variadas marcas e ia desde o SHARP V8(Beto Torreiro), do Tropical da Philips(eu Niel), até o Transglobo da Philco(Érico). Ouvia-se até LP’s, numa radiola Philips portátil do nosso amigo Equinho. Só naquela época podíamos desfrutar dessas incríveis tecnologias.
Na foto 9 abaixo, eu Nicolau conhecido na época mais como Niel que era como meus familiares me chamavam. Ni de Nicolau e el de Elpidio, em homenagem a meus avós. Por fim o nosso grande amigo, irmão do Equinho, o Jarbas ou Jarbinhas que lamentavelmente já faleceu. A Turma era composta por muito mais amigos, mas infelizmente não tenho fotos.

Foto 9
A época era de Jovem Guarda, Festivais de Música Popular, da fita cassete, dos gravadores portáteis da Philips, toshiba, Panasonic, etc... Do LP, do compacto simples e duplo e até do mini LP que lamentavelmente não vingou. Das gravadoras Chantecler, Continental, CBS, Aplle dos Beatles e tantas outras. Na época também apareceram as famosas calças LEE e a LEVI’S e quem não tivesse uma dessas marcas estava fora de moda! Das calças "durabem" US Top". O relógio Rolex falsificado choveu por aqui em Maceió. Era época das camisas "volta ao mundo", dos sapatos "cavalo de aço", do motinha, o vulcabras e quando chovia tinha a "galocha", para vestir e os sapatos.
Tudo acontecia tão rápido que muitas vezes não nos dávamos conta de que assistíamos e de certa forma participávamos desses movimentos e desses momentos tão importantes para os jovens de todo o mundo. Era maravilhoso! Indescritível!
No início dos anos 80, quase todos os amigos da turma já estavam casados e todos de certa forma, prontos para iniciar uma fase bem diferente da que tínhamos até então. A grande maioria já tinha concluído a faculdade, outros já tinham até filhos. Alguns foram procurar novos desafios fora do estado, de forma que a turma já não se reunia como antes, restando apenas as grandes recordações.
Até hoje uma pequena parte da turma sempre se comunica e uma vez por ano, graças à iniciativa do nosso amigo Missinho participamos de um encontro de confraternização e conseguimos juntar boa parte da turma para manter sempre viva a nossa amizade e relembrar com muitas risadas as nossas aventuras.
O que escrevi foi apenas como era a turma, o ambiente em que vivíamos e o que se passava na época. As nossas aventuras e as loucas histórias que aprotávamos, se eu fosse escrever como já disse no início, seria um livro com um número infinito de páginas.   
Gostaria de poder descrever como era cada um dos nossos amigos, mas a essência dessa nossa amizade me diz que o bom é lembrar, sentir saudades, ri, se emocionar, etc...etc... pois são pessoas com certeza indescritíveis. Curtir e sentir saudades daqueles que já se foram, daqueles de certa forma não temos mais contatos e daqueles que temos a felicidade de tê-los juntos é a melhor forma de descrever cada um dos nossos amigos.


Nicolau Cavalcanti em 05 de abril de 2015

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Uma “aventura” de arrepiar!!!

Todos os dias, tento lembrar e fixar uma história das antigas na minha mente para escrever e publicar no meu blog. São tantas que na realidade muitas vezes me perco. É verdade! Minha mente como sempre vai viajando por um passado bem distante e começo então a lembrar daqueles maravilhosos momentos de forma tão nítida, que muitas vezes penso até que estou vivenciando tudo outra vez. É como se eu entrasse em transe e me desligasse de mundo atual tão cheio de problemas. Claro, problemas que todos nós estamos acostumados a ver, ouvir, vivenciar... Etc... Etc... Hoje eu acordei decidido: vou escrever mais uma história daquela bem cavernosa!
Certa noite estava bebendo com meus amigos Severino Guaxinim e Sivanildo, colegas e amigos da turma do Colégio Moreira e Silva, em algum daqueles “buracos” que gostávamos de frequentar, quando de repente o Guaxinim, como sempre, teve uma ideia daquelas que só surgiam quando já estamos “tungados”! Pra lá de Bagdá! Já havíamos bebido todas e as nossas mentes estavam transbordando de ideias doidas e muito perigosas. Essa história se passou no início dos anos 70, mas nunca esqueci.
O Guaxinim, é natural da cidade de São Luiz do Quitunde e muito embora morasse com a família aqui em Maceió, tinha parentes e muitos amigos morando naquela cidade onde nasceu e passou parte de sua infância e adolescência. Nossa “bufunfa”(dinheiro), já havia terminado e só tinha dado mesmo para pagarmos a conta do que consumimos. Lisos e sem saber o que fazer, ficamos à deriva. Foi então que o Guaxinim teve uma mirabolante ideia. Irmos juntos para São Luiz do Quitunde pra casa de sua tia. Topar nós topamos na hora! O problema era como chegarmos lá. Não tínhamos grana para pagar as passagens. Não tínhamos um puto se quer nos bolsos!
Lembro que na época havia chovido bastante naquela região e muitas cidades tinham sofrido com as enchentes. São Luiz foi uma dessas cidades atingidas. Muitas famílias ficaram desabrigadas. Foi um verdadeiro caos.
Enquanto caminhávamos sem destino, pensávamos e discutíamos como iríamos pagar a passagem de ônibus até São Luiz do Quitunde. Já era madrugada de domingo e foi então que de repente surgiu mais uma louca ideia! De quem foi não se sabe! O esquema era o seguinte: pegarmos o ônibus e quando chegarmos à cidade, na hora de descermos do ônibus, ou melhor, na hora de pagarmos as passagens, argumentaríamos que iríamos visitar nossa família da qual não tínhamos notícias desde que as chuvas e as inundações começaram e que lamentavelmente não tínhamos dinheiro, no momento, para pagarmos as passagens. Seguindo nosso plano, pegamos o ônibus e seguimos para a cidade de São Luiz do Quitunde. Na hora de descermos contamos a nossa história e a confusão logo começou. O motorista e o cobrador ameaçaram chamar a polícia e só fomos liberados após o Severino Guaxinim se identificar e se comprometer a pagar as passagens depois. O motorista e o cobrador conheciam a tia do Guaxinim e aceitou a tal proposta. Nessa situação eu e Sivanildo com certeza fazíamos parte da família.
Problema resolvido, fomos para casa da tia do Guaxinim que nessa altura já estava sabendo do ocorrido. Cidade pequena sabe como é!
Tomamos um café da manhã reforçado descansamos um pouco, curtimos a ressaca e quando acordamos estávamos prontos para aprontar. Estávamos com a roupa do couro. Lógico! Resolvemos então sair e dar uma volta pela cidade. Passamos por vários lugares e só aí vimos o quanto o Guaxinim era conhecido e querido por lá. Dava até pra arriscar uma cadeira na Câmara de Vereadores da cidade. Por onde passávamos todos paravam pra falar com ele. Era uma verdadeira loucura. Passamos então pela porta de um bar muito conhecido e lá se encontravam vários amigos de infância do Guaxina. A turma logo veio falar com o Severino e não largou mais ele. Fomos convidados para participar da brincadeira e aí é que foi bagaceira. Começamos a beber e tudo por conta da turma. Nós éramos visitantes famosos! Na realidade era tudo que queríamos.
Enquanto isso, em Maceió as nossas famílias estavam muito preocupadas e muito aflitas. Soubemos depois. Saímos no sábado à noite de casa para tomar algumas cervejas e estávamos nós em São Luiz de Quitunde, numa boa, num domingo que com certeza ainda teria grandes emoções.
A farra estava excelente! Cerveja, tira-gosto, músicas e um bom papo. Não queríamos mais nada! Ficamos nesse embalo até umas horas. Quando a farra acabou, partimos em direção da casa da tia do Severino quando o próprio sugeriu para que tomássemos a saideira num outro barzinho perto da casa de sua tia. Um convite desse a gente não enjeitava quando estávamos sóbrios imagine já encharcados de cerveja.
Entramos no bar e pedimos então uma gelada para lavar a prensa. O Guaxinim conhecia o dono do bar o que nos deixou bem mais à vontade. O Sivanildo era um negão muito doido e topava tudo. Não era atoa que o chamávamos de Nêgo Cão! O movimento estava muito pequeno e praticamente só havia nós no bar. Pra não dizer que estávamos sós, num outro ambiente do bar tinha uma mesa ocupada por uns poucos nativos. 
Logo que entramos no bar, o Sivanildo surpreso, exclamou: opa! Aqui tem Campari! Era ele e um Campari! Com um rápido olhar sondou o ambiente e sentou à mesa de frente para a prateleira onde estavam dispostas as garrafas de Campari. Conversa vai, conversa vem e o Negão olhava para o Campari sondava o ambiente e volta a conversar.
Já íamos pedir a conta, quando ele então meio raivoso desabafou: Pessoal! Vou roubar uma garrafa de Campari pra gente beber hoje à noite na casa de sua tia, Guaxinim! Tomamos um susto da porra e logo retrucamos a sua louca ideia. Tá ficando doido seu FDP! Já não basta o que nós aprontamos na chegada! Quer se fuder e fuder a gente! O Negão tranquilo falou: seus FDP! Medrosos! A barra está boa demais! Vamos pedir a saideira e quando o cara for buscar eu entro para o outro lado do balcão pego a garrafa de Campari numa boa. Deixa comigo! E sem querer conversa, se levantou encostou-se ao balcão próximo ao acesso da parte interna do bar onde estava o maldito Campari e chamou o dono do bar.
Esse, na maioria das vezes estava sempre no outro ambiente do bar conversando com as únicas pessoas que como nós ainda tomavam uma geladinha. Dito e feito. Quando o dono do bar chegou, então ele pediu a saideira e a conta. Quando o coitado deu as costas e desapareceu, Sivanildo rápido como um gatuno, entrou na parte reservada do bar, pegou a garrafa de Campari e rapidamente escondeu dentro da jaqueta jeans que usava. Não se sabe como. Voltou e sentou novamente à mesa e na maior cara de pau ficou esperando a cerveja.
Chega então o dono do bar muito educado com a cerveja e a conta. Um detalhe: estávamos sem dinheiro, mas o Severino recebeu de sua tia alguns trocados para que evitássemos outros problemas durante a nossa estadia na cidade. Bem! Tomamos a saideira, pagamos a conta e saímos direto pra casa, eu e o Severo dando cobertura ao larápio do Sivanildo. Viramos literalmente cúmplices.
Lá chegando tomamos aquele banho, vestimos as mesmas roupas, jantamos e já tínhamos combinado de tomar o diabo do Campari. Imagina só a nossa cara de pau! Fomos contra o furto e agora todos querendo usufruir daquele ato impensado. Éramos todos cúmplices! Irresponsáveis!
Após um breve descanso reiniciamos os trabalhos. Abrimos a garrafa e começamos a beber o tal Campari puro. O danado descia rasgando tudo de guela abaixo. Apesar de termos forrado o estômago estávamos que não aquentávamos mais. Bebemos mais da metade da garrafa e demos um basta. Fomos dormir para, pela manhã da segunda-feira, retornarmos para casa e enfrentarmos a família, pois até então não havíamos dado qualquer notícia.
A segunda-feira então chegou. Acordamos e estávamos tomando café. A garrafa de Campari ainda estava sobre a mesa quando de repente alguém bateu na porta da casa e sua tia foi atender. Depois de um breve zum zum zum, ouvimos então a tia do Guaxinim falar: eu não acredito! Meus Deus do céu! Meu Padim Padre Cícero! E logo chamou o Severino e também a todos nós. Sua tia bastante irritada mostrou as duas pessoas que lá estavam na porta. Ficamos todos pálidos! Da cor de leite! Até o Sivanildo que era bem moreno. O sangue desapareceu completamente das nossas veias e assustados e trêmulos olhamos um para o outro, como se disséssemos: estamos fundidos e mau pagos. Na porta estavam simplesmente o dono do bar e o Delegado da cidade.
O dono do bar muito furioso encarou o Negão e logo falou: foi ele! Foi ele que roubou a garrafa de Campari! Apontando para o Negão Sivanildo. Perdemos a voz! Pra completar, a tia do nosso amigo Severo acabou de vez com qualquer chance de nos defendermos, quando em um tom raivoso disse: então aquela garrafa com um líquido vermelho foi roubada? Meu Deus do céu Severino meu sobrinho! Que decepção!
O Delegado uma pessoa até certo ponto compreensiva falou pra todos nós que estava ali para prender não só o Negão mais os dois que estavam com ele, no momento do furto. A tia do Severino começou a chorar e pediu pelo amor de Deus que não fizesse aquilo. O Delegado entendendo a situação da coitada da tia do Guaxinim sugeriu então que pagássemos a garrafa de Campari e que saíssemos da cidade no primeiro ônibus com destino a Maceió. 
Que vergonha meu Deus do céu! Balançamos a cabeça afirmativamente, pois nada saía das nossas bocas. A nossa voz desapareceu completamente. A tia do Severino assumiu e pagou o prejuízo, pediu mil desculpas para as pessoas que ali estavam. 
Tudo certo e graças a Deus liberados, tínhamos que correr contra o tempo, pois o ônibus saia em poucos minutos. Ouvimos um verdadeiro sermão da tia do Severo, que estava completamente transtornada a ponto de dizer que isso estava acontecendo pelas más companhias do Severino. Pedimos muitas desculpas para ela e prometemos que jamais faríamos isso.
Pegamos o ônibus com uma boa plateia de nativos curiosos já que o caso já era do conhecido na cidade e partimos rumo a Maceió, de certa forma, aliviados, mas muito arrependidos.
Em Maceió, quando chegamos, foi outra novela! Acredito que vocês devem estar imaginando. Mais apesar dos pesares tudo foi esclarecido e explicado tim-tim por tim-tim e tudo graças ao nosso bom Deus, voltou ao normal. Eu e o Sivanildo fomos à casa dos pais do Severino, afinal de contas o pai dele era irmão daquela senhora que nos acolheu e que realmente não merecia ter passado por esse tipo de constrangimento. Pedimos mil desculpas e mais uma vez nos comprometemos de não mais decepcioná-los. Reconhecemos a grande cagada que fizemos.
Passados alguns dias já estávamos juntos tomando uma e discutindo a besteira que fizemos e qual seria a próxima aventura. Claro sem polícia no meio.
Entrou por uma perna de pinto e saiu por uma de pato, seu Rei mandou dizer que contasse quatro!!! Como já dizia meus avós! 

Nicolau Cavalcanti em 04 de abril de 2015