segunda-feira, 13 de abril de 2015

Uma “aventura” de arrepiar!!!

Todos os dias, tento lembrar e fixar uma história das antigas na minha mente para escrever e publicar no meu blog. São tantas que na realidade muitas vezes me perco. É verdade! Minha mente como sempre vai viajando por um passado bem distante e começo então a lembrar daqueles maravilhosos momentos de forma tão nítida, que muitas vezes penso até que estou vivenciando tudo outra vez. É como se eu entrasse em transe e me desligasse de mundo atual tão cheio de problemas. Claro, problemas que todos nós estamos acostumados a ver, ouvir, vivenciar... Etc... Etc... Hoje eu acordei decidido: vou escrever mais uma história daquela bem cavernosa!
Certa noite estava bebendo com meus amigos Severino Guaxinim e Sivanildo, colegas e amigos da turma do Colégio Moreira e Silva, em algum daqueles “buracos” que gostávamos de frequentar, quando de repente o Guaxinim, como sempre, teve uma ideia daquelas que só surgiam quando já estamos “tungados”! Pra lá de Bagdá! Já havíamos bebido todas e as nossas mentes estavam transbordando de ideias doidas e muito perigosas. Essa história se passou no início dos anos 70, mas nunca esqueci.
O Guaxinim, é natural da cidade de São Luiz do Quitunde e muito embora morasse com a família aqui em Maceió, tinha parentes e muitos amigos morando naquela cidade onde nasceu e passou parte de sua infância e adolescência. Nossa “bufunfa”(dinheiro), já havia terminado e só tinha dado mesmo para pagarmos a conta do que consumimos. Lisos e sem saber o que fazer, ficamos à deriva. Foi então que o Guaxinim teve uma mirabolante ideia. Irmos juntos para São Luiz do Quitunde pra casa de sua tia. Topar nós topamos na hora! O problema era como chegarmos lá. Não tínhamos grana para pagar as passagens. Não tínhamos um puto se quer nos bolsos!
Lembro que na época havia chovido bastante naquela região e muitas cidades tinham sofrido com as enchentes. São Luiz foi uma dessas cidades atingidas. Muitas famílias ficaram desabrigadas. Foi um verdadeiro caos.
Enquanto caminhávamos sem destino, pensávamos e discutíamos como iríamos pagar a passagem de ônibus até São Luiz do Quitunde. Já era madrugada de domingo e foi então que de repente surgiu mais uma louca ideia! De quem foi não se sabe! O esquema era o seguinte: pegarmos o ônibus e quando chegarmos à cidade, na hora de descermos do ônibus, ou melhor, na hora de pagarmos as passagens, argumentaríamos que iríamos visitar nossa família da qual não tínhamos notícias desde que as chuvas e as inundações começaram e que lamentavelmente não tínhamos dinheiro, no momento, para pagarmos as passagens. Seguindo nosso plano, pegamos o ônibus e seguimos para a cidade de São Luiz do Quitunde. Na hora de descermos contamos a nossa história e a confusão logo começou. O motorista e o cobrador ameaçaram chamar a polícia e só fomos liberados após o Severino Guaxinim se identificar e se comprometer a pagar as passagens depois. O motorista e o cobrador conheciam a tia do Guaxinim e aceitou a tal proposta. Nessa situação eu e Sivanildo com certeza fazíamos parte da família.
Problema resolvido, fomos para casa da tia do Guaxinim que nessa altura já estava sabendo do ocorrido. Cidade pequena sabe como é!
Tomamos um café da manhã reforçado descansamos um pouco, curtimos a ressaca e quando acordamos estávamos prontos para aprontar. Estávamos com a roupa do couro. Lógico! Resolvemos então sair e dar uma volta pela cidade. Passamos por vários lugares e só aí vimos o quanto o Guaxinim era conhecido e querido por lá. Dava até pra arriscar uma cadeira na Câmara de Vereadores da cidade. Por onde passávamos todos paravam pra falar com ele. Era uma verdadeira loucura. Passamos então pela porta de um bar muito conhecido e lá se encontravam vários amigos de infância do Guaxina. A turma logo veio falar com o Severino e não largou mais ele. Fomos convidados para participar da brincadeira e aí é que foi bagaceira. Começamos a beber e tudo por conta da turma. Nós éramos visitantes famosos! Na realidade era tudo que queríamos.
Enquanto isso, em Maceió as nossas famílias estavam muito preocupadas e muito aflitas. Soubemos depois. Saímos no sábado à noite de casa para tomar algumas cervejas e estávamos nós em São Luiz de Quitunde, numa boa, num domingo que com certeza ainda teria grandes emoções.
A farra estava excelente! Cerveja, tira-gosto, músicas e um bom papo. Não queríamos mais nada! Ficamos nesse embalo até umas horas. Quando a farra acabou, partimos em direção da casa da tia do Severino quando o próprio sugeriu para que tomássemos a saideira num outro barzinho perto da casa de sua tia. Um convite desse a gente não enjeitava quando estávamos sóbrios imagine já encharcados de cerveja.
Entramos no bar e pedimos então uma gelada para lavar a prensa. O Guaxinim conhecia o dono do bar o que nos deixou bem mais à vontade. O Sivanildo era um negão muito doido e topava tudo. Não era atoa que o chamávamos de Nêgo Cão! O movimento estava muito pequeno e praticamente só havia nós no bar. Pra não dizer que estávamos sós, num outro ambiente do bar tinha uma mesa ocupada por uns poucos nativos. 
Logo que entramos no bar, o Sivanildo surpreso, exclamou: opa! Aqui tem Campari! Era ele e um Campari! Com um rápido olhar sondou o ambiente e sentou à mesa de frente para a prateleira onde estavam dispostas as garrafas de Campari. Conversa vai, conversa vem e o Negão olhava para o Campari sondava o ambiente e volta a conversar.
Já íamos pedir a conta, quando ele então meio raivoso desabafou: Pessoal! Vou roubar uma garrafa de Campari pra gente beber hoje à noite na casa de sua tia, Guaxinim! Tomamos um susto da porra e logo retrucamos a sua louca ideia. Tá ficando doido seu FDP! Já não basta o que nós aprontamos na chegada! Quer se fuder e fuder a gente! O Negão tranquilo falou: seus FDP! Medrosos! A barra está boa demais! Vamos pedir a saideira e quando o cara for buscar eu entro para o outro lado do balcão pego a garrafa de Campari numa boa. Deixa comigo! E sem querer conversa, se levantou encostou-se ao balcão próximo ao acesso da parte interna do bar onde estava o maldito Campari e chamou o dono do bar.
Esse, na maioria das vezes estava sempre no outro ambiente do bar conversando com as únicas pessoas que como nós ainda tomavam uma geladinha. Dito e feito. Quando o dono do bar chegou, então ele pediu a saideira e a conta. Quando o coitado deu as costas e desapareceu, Sivanildo rápido como um gatuno, entrou na parte reservada do bar, pegou a garrafa de Campari e rapidamente escondeu dentro da jaqueta jeans que usava. Não se sabe como. Voltou e sentou novamente à mesa e na maior cara de pau ficou esperando a cerveja.
Chega então o dono do bar muito educado com a cerveja e a conta. Um detalhe: estávamos sem dinheiro, mas o Severino recebeu de sua tia alguns trocados para que evitássemos outros problemas durante a nossa estadia na cidade. Bem! Tomamos a saideira, pagamos a conta e saímos direto pra casa, eu e o Severo dando cobertura ao larápio do Sivanildo. Viramos literalmente cúmplices.
Lá chegando tomamos aquele banho, vestimos as mesmas roupas, jantamos e já tínhamos combinado de tomar o diabo do Campari. Imagina só a nossa cara de pau! Fomos contra o furto e agora todos querendo usufruir daquele ato impensado. Éramos todos cúmplices! Irresponsáveis!
Após um breve descanso reiniciamos os trabalhos. Abrimos a garrafa e começamos a beber o tal Campari puro. O danado descia rasgando tudo de guela abaixo. Apesar de termos forrado o estômago estávamos que não aquentávamos mais. Bebemos mais da metade da garrafa e demos um basta. Fomos dormir para, pela manhã da segunda-feira, retornarmos para casa e enfrentarmos a família, pois até então não havíamos dado qualquer notícia.
A segunda-feira então chegou. Acordamos e estávamos tomando café. A garrafa de Campari ainda estava sobre a mesa quando de repente alguém bateu na porta da casa e sua tia foi atender. Depois de um breve zum zum zum, ouvimos então a tia do Guaxinim falar: eu não acredito! Meus Deus do céu! Meu Padim Padre Cícero! E logo chamou o Severino e também a todos nós. Sua tia bastante irritada mostrou as duas pessoas que lá estavam na porta. Ficamos todos pálidos! Da cor de leite! Até o Sivanildo que era bem moreno. O sangue desapareceu completamente das nossas veias e assustados e trêmulos olhamos um para o outro, como se disséssemos: estamos fundidos e mau pagos. Na porta estavam simplesmente o dono do bar e o Delegado da cidade.
O dono do bar muito furioso encarou o Negão e logo falou: foi ele! Foi ele que roubou a garrafa de Campari! Apontando para o Negão Sivanildo. Perdemos a voz! Pra completar, a tia do nosso amigo Severo acabou de vez com qualquer chance de nos defendermos, quando em um tom raivoso disse: então aquela garrafa com um líquido vermelho foi roubada? Meu Deus do céu Severino meu sobrinho! Que decepção!
O Delegado uma pessoa até certo ponto compreensiva falou pra todos nós que estava ali para prender não só o Negão mais os dois que estavam com ele, no momento do furto. A tia do Severino começou a chorar e pediu pelo amor de Deus que não fizesse aquilo. O Delegado entendendo a situação da coitada da tia do Guaxinim sugeriu então que pagássemos a garrafa de Campari e que saíssemos da cidade no primeiro ônibus com destino a Maceió. 
Que vergonha meu Deus do céu! Balançamos a cabeça afirmativamente, pois nada saía das nossas bocas. A nossa voz desapareceu completamente. A tia do Severino assumiu e pagou o prejuízo, pediu mil desculpas para as pessoas que ali estavam. 
Tudo certo e graças a Deus liberados, tínhamos que correr contra o tempo, pois o ônibus saia em poucos minutos. Ouvimos um verdadeiro sermão da tia do Severo, que estava completamente transtornada a ponto de dizer que isso estava acontecendo pelas más companhias do Severino. Pedimos muitas desculpas para ela e prometemos que jamais faríamos isso.
Pegamos o ônibus com uma boa plateia de nativos curiosos já que o caso já era do conhecido na cidade e partimos rumo a Maceió, de certa forma, aliviados, mas muito arrependidos.
Em Maceió, quando chegamos, foi outra novela! Acredito que vocês devem estar imaginando. Mais apesar dos pesares tudo foi esclarecido e explicado tim-tim por tim-tim e tudo graças ao nosso bom Deus, voltou ao normal. Eu e o Sivanildo fomos à casa dos pais do Severino, afinal de contas o pai dele era irmão daquela senhora que nos acolheu e que realmente não merecia ter passado por esse tipo de constrangimento. Pedimos mil desculpas e mais uma vez nos comprometemos de não mais decepcioná-los. Reconhecemos a grande cagada que fizemos.
Passados alguns dias já estávamos juntos tomando uma e discutindo a besteira que fizemos e qual seria a próxima aventura. Claro sem polícia no meio.
Entrou por uma perna de pinto e saiu por uma de pato, seu Rei mandou dizer que contasse quatro!!! Como já dizia meus avós! 

Nicolau Cavalcanti em 04 de abril de 2015

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