domingo, 25 de novembro de 2012

Bar do Valter: "Doutor! O seu pitu está reservado e está do jeito que o Senhor gosta: muito gordo e recheado de coral!!!"

Quase todas as sextas-feiras à noite quando era solteiro mas já namorava firme a minha esposa Fatima, tínhamos de assinar o ponto no Bar do Valter, na Massagueira, um Povoado pertencente ao Município de Marechal Deodoro, distante 12 km de Maceió. Acredito que nos meados dos anos 70. Saíamos no nosso fusquinha amarelo 72 ansiosos para tomar uma cerveja bem gelada, conversarmos e degustarmos vários tipos de tira-gostos servidos no Bar do Valter. O pitu era um deles. Algumas vazes levávamos a nossas amiga e depois comadre Saletinha, uma colega de trabalho e cúmplice do nosso namoro, como também a Loló, nossa amiga da Rua Piauí, rua onde a Fatima morava, na época. Na foto abaixo, o pitu cru, acabado de ser retirado do covo.

O Bar o Valter foi praticamente um dos primeiros a se instalar na Massagueira. Quando chegávamos a Massagueira, a entrada sempre foi a mesma. Quando chegávamos a beira da lagoa, não existia aquele bar que hoje fica de frente para a lagoa e se, não me engano é o "Recanto da Lagoa", nem tampouco o Bar do Renato, o primeiro do lado direito. Pegávamos a esquerda e o primeiro bar, se não estou enganado era o Bar do Valter. O Bar ficava de frente a lagoa Mundaú e se não estou enganado, ficava onde hoje é o Bar e Restaurante "Camarão Pirata", que por sinal é um excelente local. Sempre que posso estou por lá com minha família, saboreando os seus deliciosos pratos. 
O Bar do Valter tinha uma grande área coberta com várias mesas e no lado direito de quem entrava no Bar ficava a cozinha, os WC's e a administração. Ficava na beira da lagoa e tínhamos um visão privilegiada da lagoa Mundaú. À noite, o ambiente tinha pouca iluminação e sempre foi um local tranquilo. Nos finais de semana era bastante procurado pela turma jovem e de casais de namorados que gostavam de namorar tomando uma cervejinha e degustando os deliciosos tira-gostos oferecidos no cardápio, como era o nosso caso. Muitas famílias inteiras também se reuniam para curtir o local e também para saborearem os deliciosos pratos, na sua maioria de frutos da lagoa e do mar.
Em dias de lua cheia, não perdíamos uma noite! Era maravilhoso ver a  lua refletindo seus raios e sua forma nas águas da lagoa Mundaú, como também clareando o céu em sua volta e mostrando aquela grande silhueta das copas dos coqueirais que margeiam todo o outro lado da lagoa, formando com isso, um maravilhoso e indescritível visual.
Gostávamos do Bar do Valter não só por tudo que já escrevi acima, mas também pelo pela excelente figura humana do seu dono, o Seu Valter. Pessoa maravilhosa! Nunca fui no Bar do Valter sem que ele pelo menos uma vez, não fosse à nossa mesa para nos cumprimentar e para saber se tudo estava certo. Se a cerveja estava gelada e se os tira-gostos estavam do nosso agrado. Não tínhamos do que reclamar! Quando tinha um tempinho à mais, até sentava ao nosso lado na nossa mesa para prosar um pouco. Gostávamos muito da sua conversa.
Os tira-gostos além variados, eram deliciosos. Tinha o guaiamum cevado, o siri de coral, o filé de siri, o maçunim, caldinhos dos mais variados, sem contar com os pratos para refeição. A peixada, a camarãozada, a pituzada... eram deliciosos!  Porém tinha um tira-gosto que dava água na boca só em ver o seu nome estampado no cardápio. Era o pitu cozinhado na água, sal, coentro e cebolinha! O pitu, crustáceo encontrado na época em grande quantidade nas nossas Lagoa, pescados de forma artesanal com Armadilhas chamadas de "covos", confeccionadas artesanalmente pelos nativos. Lá no Bar do Valter, era comum ter no cardápio esse maravilhoso tira-gosto aguardando pelos insaciáveis amantes do crustáceo. Eu e a Fatima adorávamos o pitu! Na foto abaixo, os "covos" utilizados para a pesca do pitu.

Eu e a Fatima éramos dessas pessoas apaixonados por esse prato. Ele preparando na água e sal, como já citei anteriormente, era como nós gostávamos. Acompanhado de cerveja bem geladinha, Era de lascar! Esquecíamos do tempo! O pitu ensopado no coco era mais servido para refeição. E que refeição! Vinha acompanhado do pirão de farinha de mandioca e arroz branco.
Fizemos uma grande amizade com o Seu Valter e toda vez que chegávamos no bar, ele já se aproximava dizendo: "amigos, tudo bem? Hoje tem pitu e está muito bom! Do jeito que vocês gostam"! Era cada pitu que muitos deles mediam mais de um palmo. Aí não tinha graça! começávamos com o pitu e depois comíamos o que a barriga aguentasse. Na foto abaixo, o pitu cozinhado na água e sal pronto para ser degustado. Irresistível!

Um fato muito interessante aconteceu comigo e a Fatima numa dessas idas e vindas para o Bar do Valter. Estávamos como sempre, curtindo mais uma noitada maravilhosa e degustando aqueles maravilhosos tira-gostos. Não tínhamos pressa! Terminada a nossa farra, já bem tarde da noite, pagamos a conta, agradecemos o nosso amigo Valter e avisando que estaríamos de volta na semana seguinte, partimos. Ele como sempre fazia, agradeceu garantindo mais pitu ovado para nós, e sempre dos mais graúdos!
Hoje o pitu é um prato raro nos cardápios de bares e restaurante e quando se encontra é vendido à preço de ouro. Não sei se aqui em Maceió, existe algum restaurante que o famoso crustáceo conste no cardápio. Em alguns Municípios ribeirinhos ainda se encontra esse delicioso prato. Em Penedo, Município a mais de de 200 km de Maceió, ainda se encontra o pitu para se comprar e também para "traçar". Em Atalaia também existe um restaurante que  é muito famoso pela pituzada lá servida. Na foto abaixo, o pitu ensopado no coco. Com arroz, pirão de farinha de mandioca e um bom molho de pimenta, lambia-se até o prato! Delicioso!

Sim! Voltando aos entretantos! Saímos do bar no nosso fusquinha amarelo 72 em direção à Maceió e, não tínhamos percorrido 200 metros, quando percebi que um dos pneus estava baixo. Desci do carro e pra minha preocupação vi que realmente o pneu dianteiro direito estava furado. Pelo adiantado da hora, tinha de me virar sozinho. Pedi a Fatima para descer do carro, abri o "bocão" do fusquinha e retirei quase tudo de necessário para troca do pneu. Para minha surpresa, por mais que procurasse, não estava encontrando o danado do macaco. Não tinha como resolver aquele problema sozinho e nem tampouco com a Fatima.
Há uns 100 metros de onde parei o carro, tinha uma turma de nativos participando de um farra. Foi então que pensei! Vou chamar meus amigos daquela turminha ali para me ajudar e em troca daria uma grana para que eles continuassem bebendo pelo resto da noite. Não deu outra!  Fui Até eles, e pra minha alegria toparam na hora. Foi uma alegria geral e passamos a trabalhar na operação "troca pneu sem macaco". Tiramos a calota, daquela de ferro, em forma de cuia e niquelada, folgamos os 5 parafusos que prendiam jante, exatamente 5 parafusos. Depois levantamos o coitado do fusquinha no "muque", daí terminamos de retirar os parafusos, trocamos o pneu furado pelo o estepe, colocamos de volta os 5 parafusos, baixamos o fusquinha, reapertamos os parafusos e pronto! Tudo isso foi realizado com o lado do fusquinha levantado pelos nativos. Respirei fundo e tranquilo. Graças à Deus, tinha dado tudo certo. Os nativos ficaram tão empolgados com o trabalho que  até bateram palmas. Claro! no meio deles alguns já tinham tomado umas boas doses. Agradeci bastante a ajuda que nos deram e conforme tinha prometido, dei uma boa gorjeta para os meus amigos e eles muito satisfeitos também agradeceram bastante! Depois de todo esse trabalho, digno de uma equipe de fórmula 1, voltamos tranquilos para Maceió. Na foto abaixo Eu e meu fusquinha. Tinha muito cuidado com ele! Era um alisado danado! A Fatima dizia que eu gostava mais do meu fusquinha do que dela!

Confesso sinceramente, que não me lembro por quanto tempo, o Bar do nosso amigo Valter funcionou. Só sei que  fez muita falta quando acabou. E que falta viu!
Me lembro que há muitos anos atrás, estava andando no Centro de Maceió, quando de repente, vejo aquela figura simples, cruzando a calçada à minha frente. Parei e sem pestanejar falei: Seu Valter, o fazes por aqui, meu amigo? Ele acredito que, lembrando de mim, alegre e surpreso, por ter sido reconhecido, me cumprimentou e falou que estava dando um passeio em Maceió e aproveitando para resolver algumas pendências. Disse também que tinha vendido o Bar pois, apesar de ser uma boa fonte de renda, dava muito trabalho e que já não tinha mais idade nem paciência para administrar aquele tipo de negócio. Continuava trabalhando por conta própria, mas no ramo de corretor, negociando imóveis e terrenos, lá mesmo, na Massagueira.
Foi realmente uma pena que aquele Bar tenha acabado. Ficaram apenas as maravilhosas lembranças que me inspiraram a escrever essas poucas mas muito sinceras linhas, sobre o Bar e principalmente da maravilhosa criatura que era o nosso amigo VALTER!!!

Obs: Fotos copiadas do Google.

Nicolau Cavalcanti em 25/11/2012

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