terça-feira, 17 de julho de 2012

Praça Deodoro: "O ponto de encontro da turma jovem nos anos 60/70!!!" Eu e minha saudosa memória!!!

A Praça Deodoro, como é conhecida até hoje, fica localizada no bairro do Centro, em Maceió, e seu nome com certeza, foi uma homenagem ao Ilustre Alagoano Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Proclamador da República e primeiro Presidente do Brasil! A Praça tem em sua volta, algumas antigas construções e muito importantes e complementam o cenário bucólico do local. De um lado o prédio do Teatro Deodoro com seu anexo o Teatro de Arena Sergio Cardoso, que fica na Rua Barão de Maceió. Na outra extremidade o prédio da Academia Alagoana de Letras, em cujo prédio funcionou o Grupo Escolar Dom Pedro II. Eu inclusive estudei nele. Fica na Rua Cincinato Pinto. Tem também de um dos lado, o prédio do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, que fica na Travessa Dias Cabral e do outro a Câmara Municipal de Maceió, na Rua do Livramento. Parte das ruas acima, delimitam a Praça. No centro da Praça, existe uma estátua do Marechal Deodoro, montado em um cavalo. Tinha ainda, na esquina ao lado do Teatro, o prédio do Café AFA, onde durante a semana, quando estava torrando o café, deixava no ar um delicioso cheirinho de café! A sorveteria GUT-GUT, que nos seus tempos áureos, seus deliciosos picolés e sorvetes, não davam para quem queria, devido a sua grande procura. Era um local muito estreito e, quando estava cheio, era um "Deus nos acuda"! Tinha também a Funerária do Aristeu, também muito antiga, cujo dono era uma pessoa bastante conhecida em Maceió.
A Praça passou por várias reformas e modificações durante todos esses anos de existência, tirando toda a sua originalidade. Lá aconteciam vez por outra, as famosas "retretas", que nos sábados ou nos domingos as Bandas de Música do Exercito Brasileiro ou da Polícia Militar de Alagoas, tocavam músicas da época como também hinos e marchinhas conhecidas da platéia. A Praça ficava totalmente tomadas de pessoas que iam assistir, aplaudir e pedir bis durante o show! Era muito bonito!
A Praça era realmente o ponto de encontro da "patota" jovem que nos sábados e domingos vestiam suas "domingueiras" e saíam para ver as vitrines na Rua do Comércio, na Rua Moreira Lima e adjacências ou então iam assistir uma sessão de cinema no Cine São Luiz, o mais badalado de Maceió. Tinha também o Cine Ideal, que ficava bem próximo a Praça, sendo mais uma opção para aqueles que gostavam de bons filmes.
Na época fazíamos tudo para assistir filmes impróprios para menores de dezoito anos. Raramente conseguíamos pois sempre tinha um "Fiscal de Menor", na entrada do cinema e na maioria das vezes éramos barrados pelo Fiscal. Saíamos de cabeça baixa e totalmente "discabriados", entenda-se: com a cara de "sonso"! ou melhor: saíamos era "puto da vida", pois essa cena acontecia na frente das demais pessoas que iam assistir o filme. Eu não conto as vezes que isso aconteceu comigo e com a nossa turma!
Tinha também as tradicionais Missas na Igreja da Catedral, na Igreja do Livramento e também na Igreja de São Benedito, todas próximas da Praça e que muitos jovens iam assistir acompanhados pelos pais.
Com relação as vitrines, na época as lojas para divulgar melhor os seus produtos, deixavam as suas portas abertas e suas vitrines expostas e totalmente iluminadas até às 22:00 horas. Eita tempo bom! Até os ladrões só iam olhar as novidades! Nada de roubar! Cada loja fazia o melhor para atrair os seus clientes, pois sabiam, que com certeza, se eles gostassem de algum produto exposto na vitrine, voltariam depois à loja para adquiri-lo. As vitrines eram decoradas com os últimos lançamentos da moda masculina, feminina e infanto-juvenil. Isso no que diz respeito a vestuários. Tinham também as lojas de utensílios domésticos, discos(LP's) e equipamentos de som, brinquedos para a criançada, moveis, jóias, etc, etc... Era muito bom! as ruas ficavam totalmente tomadas pelos pais que levavam os filhos para passear e ver as vitrines, como também de muitos curiosos que iam olhar as as novidades. A turma jovem fazia a sua parte!
Depois dessa maratona, a turma jovem se reunia na Praça Deodoro e aí começava um ritual muito interessante: a maioria da turma jovem ficava dando voltas, pela Praça desfilando com a sua "domingueira", e lógico, uns paquerando, outros namorando, outros parados em grupos conversando e alguns sentados nos bancos existentes na Praça e, também batendo "papo". As voltas eram feitas no sentido horário. Não sei por que, mas a grande maioria caminhava em uma mesma direção. Era uma caminhada lenta e cadenciada como se todos estivessem andando em bloco e numa mesma velocidade. Era muito interessante! Tinha domingos que mal se podia andar, pela quantidade de pessoas presentes na Praça. Os mais afoitos e gaiatos, faziam o percurso ao contrário e encaravam as suas paqueras de frente.
Os "filhinhos de papai", desfilavam com os seus carros "guaribados" e suas potentes motos que na época, eram novidades. Muitos estacionavam suas máquinas na praça e ficavam curtindo uma fita cassete nos toca-fitas dos seus carros e, isso chamava a atenção de todos. Os "filhinhos de papai", também faziam questão de "aparecer"! Ligavam o som do carro nas alturas, tentando atrair a turma de "cocotas"! Diga-se de passagem! Era maioria! Cada uma mais bonita que a outra! Quando desfilavam usando mini-saías, aí era que "abafavam" mesmo!
A sorveteria GUT-GUT ficava lotada, pois todos que iam a praça, normalmente tinham de tomar um sorvete ou chupar um delicioso picolé. Tinham inúmeras opções e fazia parte do ritual! Era um verdadeiro desfile de moda, de veículos, de motos e tudo que tinha de novidade na época.
Tinha também na Praça, uma enorme variedade de lanches, que eram vendidos por Ambulantes que circulavam a Praça ou então já tinham o seu ponto certo e eram conhecidos de todos. Tinha a maçã vermelha e a pera importadas, se não me engano da Argentina, vendidas em carrinhos de madeira e dispostas na forma de pirâmides, para chamar a atenção. Tinha amendoim cozinhado ou torrado, com casca, que na época eram vendidos embrulhados de forma bem característica em folhas de revista. Tinha o Piruliteiro que vendia pirulitos enrolados em papel de embrulho e, colocados enfiados em um tabuleiro de Madeira todo furado, preso no centro por um cabo de vassoura que era carregado apoiado no ombro. Segurava-se o pirulito por um talo de bambu enfiado no centro do pirulito. O Cavaqueiro, que vendia "cavaco" dentro de uma lata grande e retangular, provavelmente de banha, pendurada no ombro e para chamar a atenção da criançada eles andavam tocando triângulo, o Pipoqueiro que vendia a pipoca preparada na hora de forma muito peculiar. A pipoca "Flor do Campo" era também muito procurada. O interessante é que essa pipoca já vinha pronta. Se não me engano, só existia uma firma que vendia esse tipo de pipoca. Tinha vários carrinhos padronizados onde a pipoca era tratada. O Pipoqueiro apenas esquentava a pipoca no carrinho onde eram vendida, colocavam em saquinhos de papel personalizados e poderia sair com sal e Manteiga derretida, colocados conforme o gosto do cliente. Tinha também a tradicional, também preparada na hora. O Roleteiro vendia o rolete de cana caiana, doce que só! cortada na hora em forma de roletes que eram enfiados em armações feitas de talos de bambu. Uma armação muito simples porém muito interessante e criativa. O algodão doce também não podia faltar. Feito na hora! tinha até fila para comprar. A farinha de amendoim e a de castanha de caju, eram vendidas em canudos feitos com papel de embrulho. Eram também muito procurada e muito deliciosas. Tinham também os Confeiteiros que, com os seus tabuleiros pendurados no pescoço, rodavam a praça vendendo tudo: drops de hortelã, confeito de hortelã, chiclete ping-pong, sabor tutti-frutti e hortelã, uvas passas que eram vendidas em caixinhas de papelão, e se não estou enganado, eram importadas da Argentina, chiclete Adams, daqueles de caixinhas amarelas e vermelhas e com seus sabores tradicionais, drops dulcora, pirulitos de vários formatos e sabores. Tinha também um tipo de confeito de formato retangular, de vários sabores e eram embrulhados em papel onde tinha desenhadas frutas variadas. Tinha também outras variedades de confeitos bastante procurados. Vendia-se até cigarros, em maço ou a unidade. Tinha o quebra-queixo comum, com amendoim e o quebra-queixo americano, nas cores branca sabor baunilha, vermelha sabor maçã e verde sabor menta. Todos os dois eram bastante procurados e muito! muito! deliciosos! Eu particularmente, gostava muito do americano! E a "raspadinha"? Quem não lembra? Tinha de maçã, côco, maçã com côco, baunilha, maracujá, etc... Na realidade, era vendida em um carrinho com rodas de bicicleta, onde na parte de cima tinham várias divisórias onde se colocavam as garrafas de vidros cheias com as diversas "garapas" dos diversos sucos, como também as "garapas" de várias essências. Era chamada de "raspadinha", porque em cima do carrinho tinha um pedaço de gelo em barra que era raspado com raspador próprio para esse fim e que acumulava o gelo raspado em seu interior. O gelo raspado era colocado em um copo e, depois era colocada a "garapa"até a borda e escolhida de acordo com o gosto do freguês. Estava pronta a famosa e deliciosa "raspadinha"! A pedido do cliente, podia ser feita várias combinações com dois tipos de "garapas". Também tinha o Picolezeiro e o Sorveteiro que com o seus carrinhos faziam a festa da garotada. Aliás! De todos! O picolé e o sorvete da Sorveteria Ryalto, eram muito famosos pelo seu sabor inconfundível! Tinha também a Sorveteria DK-1, muito conhecida e ficava no Centro, na Rua Moreira e Silva. Um detalhe curioso na época, era que os picolés era enrolados em papel manteiga.
Figuras folclóricas e bastante conhecidas em Maceió, freqüentavam a Praça praticamente todos os dias. Tinha o tipo intelectual, que normalmente se reuniam nos bancos em frente ao Teatro, estudantes de diversos Colégios que, quando terminavam as aulas, iam pra lá passar o tempo, tinha um "Irmão", um Senhor moreno de óculos e com a Bíblia na mão, passava o dia pregando em voz alta, num tom eloqüente! Lá o que não faltava era Engrxate, que ganhava dinheiro engraxando sapatos de pessoas que por ali passavam. Tinha um, bastante conhecido da "patota" e, que chamava a atenção de todos, por ter uma cabeleira do tipo "black power" e por ter as pernas tortas. Muito tortas mesmo! "Cambotas"! como chamávamos! Tinha até um apelido mas não me recordo.
Mas, tudo isso, hoje, não passam de grandes recordações! E que recordações! O único local que ainda exite e funciona na Praça, da nossa época, é a Sorveteria GUT-GUT! Como já comentado, Um pequeno espaço imprensado entre construções maiores, que conseguiu sobreviver a tudo e continua vendendo os seus deliciosos sorvetes e picolés. Não sei se só sobrevive disso, ou oferece mais opções para os seus clientes!
A Praça, apesar dos pesares, sobreviveu a todos os atos de vandalismo cometidos por pessoas irresponsáveis, que se achando o dono da verdade, promoveram vários desmandos tendo simplesmente na mão, apenas uma caneta, para autorizar mudanças irreversíveis na arquitetura original da Praça. Os camelôs, sem respeitar nada e ninguém, armam suas barracas diariamente na Praça e nas calçadas deixando um dos nossos Cartões Postais, com uma imagem que não retrata a realidade do local dos velhos bons tempos!!!

Nicolau Cavalcanti em 17/07/2012

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