sábado, 14 de julho de 2012

Bar da Tapa! " A porrada comia no centro!!!"

Funcionava no mesmo local onde funcionou por muitos e muitos anos a Venda do Seu Toledo. Passou a ter esse nome, quando Seu Toledo acabou com a Venda e alugou o ponto para o Sebastião, que era conhecido pela turma como Basto, que depois de uma breve passagem como responsável pelo bar, desistiu da aventura. Não agüentou a pressão da turma e passou o ponto para o Júlio Mamão e o Valmiro. Figuras de "alta periculosidade", que faziam parte da nossa turma, principalmente o Júlio Mamão. Eram dois caras de físicos dobrados que nem "parede de igreja" e metidos a "brabos". O Júlio Mamão trabalhava na Prefeitura, mas era cedido ao Exército e trabalhava no Batalhão de Alistamento Militar. O Valmiro era policial civil e, freqüentava há algum tempo a venda Toledo, mas não fazia parte de fato da nossa turma. Era muito amigo do Júlio.
O local foi totalmente reformado. Ficou bem diferente de quando era a Venda do Seu Toledo.Investiram nos sentido de oferecer o melhor para os fregueses. Colocaram até uma pequena sinuca, se não estou enganado, uma tal “sinuca americana”, que tinha um furo a mais no centro com quatro pinos em volta, formando um quadrado, cuja distância entre um pino e outro passava apenas uma bola de bilhar. Era uma caçapa a mais no centro da sinuca. O Julio e o Valmiro, tinham um cuidado muito grande com o bar. Nesse ponto eram exemplares! Estava sempre limpo e arrumado. A maior preocupação era com a danada da sinuca, uma vez que era alugada e qualquer dano causado a mesma, eram eles que arcariam com o prejuízo. Pra se jogar uma partida, tinha que se comprar fichas que eram colocadas num local próprio na sinuca para liberar as bolas para o jogo. Cada ficha valia uma partida. A sinuca era novidade mesmo e todo mundo queria jogar! Jogava-se sinuca, apostando cerveja ou até mesmo dinheiro. Mas em pequenos valores só pra passar o tempo.
O bar não foi criado com o nome de "Bar da Tapa". Era conhecido como bar do Júlio Mamão, mas depois que aconteceram alguns fatos inusitados e pitorescos, envolvendo os donos, onde o tapa “comeu no centro”, passamos a chamar pelo sugestivo nome de "Bar da Tapa". Os dois não aprovavam a idéia mas, como era apenas uma versão da turma e encarada como brincadeira, acabaram aceitando. O cabra que se metesse a brabo e aprontasse, saía dali na "porrada"! Inclusive todos nós que erámos amigos. Ali se pagava até os centavos. Não tinha esse negócio de "deixa pra lá!". Seus donos negavam essa versão e se diziam pessoas pacatas e de boa índole. Era muito bom! A turma se reunia no Bar para jogar sinuca apostando cerveja ou na maioria das vezes só para passar o tempo e aprontar, pra ver se a coisa pegava fogo e a porrada “comia no centro”. Comíamos o juízo dos dois! Mas sempre acabava tudo bem! Afinal de contas éramos todos amigos. O Missinho, Laurinho conhecido como “tarzan da bunda grande’, Equinho "Pavão", o Geraldo “Cabeção”, o Bebeu o Jarbas “formiga de açúcar” e outros, comandavam a bagunça. Eu apenas ficava assistindo e preparado para correr, se alguma coisa desse errada.
Apareceram por lá, certa vez, dois sujeitos, com cara de quem já tinham tomado “umas quatro”! Sentaram em uma das mesas, pediram uma cerveja, perguntaram se tinha algum tira-gosto e já pediram um prato. O cardápio não era muito variado e as opções eram muito poucas. Logo depois começaram a jogar sinuca e entre uma tacada e outra, tomavam um gole de cerveja. Antes de cada tacada andavam de um lado para o outro em volta da sinuca, buscando a melhor posição para jogar na bola da vez. De repente o Júlio Mamão apareceu trazendo o prato com o apetitoso tira-gosto. Não me lembro bem o que era, só sei que os dois "tacaram" farinha e pimenta malagueta no tira-gosto, mexeram pra lá e pra cá, comeram uma garfada, balançaram a cabeça como que aprovando o sabor, deram aquele sopro, creio pelo forte ardor da pimenta, tomaram um gole de cerveja e continuaram jogando, bebendo e comendo do tira-gosto que, aliás, terminou virando uma verdadeira farofa, pela quantidade de farinha que eles tinham colocado no prato.
Um deles, empolgado com o jogo e atento a jogada do amigo, pegou o prato com o tira-gosto e começou a comer encostado na sinuca, enquanto o outro se preparava para dar aquela tacada tentando "encaçapar" a bola da vez ou arriscar uma tacada numa bola de maior ponto. Pra encurtar a história, numa distração do sujeito que estava com o prato tira-gosto, o prato escorregou da mão do coitado e foi parar exatamente em cima da sinuca. Puta que pariiuuu!!!...porra! Gritou o Júlio Mamão, de olhos arregalados, quando viu o tira gosto, ou melhor, a farofa toda espalhada na sinuca. Vermelho que nem uma pimenta, exclamou em voz alta, quase berrando: Você só sai daqui depois de limpar essa porra e pagar o prejuízo, centavo por centavo! Se não, vai levar porrada! O sujeito, já meio “triscado”, tentou amenizar o estrago e limpar o feutro da sinuca, passando a mão na farofa, complicando ainda mais a situação, não só a dele como da sujeira do freuto da sinuca. O outro sujeito tentando tomar para si as dores do amigo, aí foi que o tempo esquentou! Foi um empurra pra lá, um toma pra cá, o Valmiro, quando viu que a situação estava séria, também entrou na briga, dando tapa pra todo lado. Foi um verdadeiro "Deus nos acuda". Resultado: Os coitados dos caras, ainda cabaleantes pela ação da bebida como também pela encrenca que tinham arrumado, além de apanhar e pagar a conta, com tudo que tinha direito, foram expulsos do bar e creio que nem por perto, passaram nunca mais.
Muitas outras cenas pitorescas desse tipo aconteceram, inclusive com a própria turma. Quando se juntavam o Laurinho, o Missinho, o Haroldo, Geraldo Cabeção e outros e começavam a chamar "Júlio Mamão", com a voz bem fina, principalmente quando ele dava as costas, só pra zonar com ele, o Júlio Mamão no começo apenas ria, mas se a brincadeira continuasse e tivesse algum freguês no local, ele ficava vermelho, serrava os punhos encarava qualquer um e dizia: Parem! Parem! Se não eu vou baixar a porrada em vocês! Quando a coisa esquentava, muitos saiam pra não levar porrada, era o meu caso e, os outros eram expulsos do bar pelo Júlio, na base do empurrão, que nessa hora já estava em tempo de explodir de tão vermelho! O Valmiro só ficava rindo, mas comos dentes serrados doido para entrar na confusão. Acalmado os ânimos, todos nós, um por um ia chegando de mansinho e, mais tarde estava lá toda a turma, novamente.
Lá também tinha o famoso "prego", mas quase ninguém se arriscava a usar essa “facilidade”. Quem não pagasse no dia acertado, estava lascado! deus me livre!
Como já citei, toda a turma frequentava o bar, mas na maioria das vezes só para passar o tempo. Estávamos lá todas as noites e durante o dia, nas horas vagas. Fazíamos muito barulho, dávamos mais trabalho do que lucro, mas embora o Julio Mamão não falasse abertamente, sabíamos que ele gostava da nossa presença no recinto. Dava mais vida ao ambiente e quem passava sempre parava pra tomar "uma", devido ao “movimento” do bar. Tinham os mais velhos, que antes do almoço ou à noite quando voltava do trabalho, tinham que assinar o ponto no Bar e tomar uma "lapada" de cachaça ou de conhaque ou uma cerveja gelada, comprar um maço de cigarros ou apenas pra bater um papo e saber das novidades. Era o caso do Seu Cícero “Marchante”, do Velho Chagas, pai do Geraldo "Cabeçhão", do Pedrão, do Pedro “Canguinha”, bota canguinha nisso! Do Didô “cabeça de navio”, que bebia na base da boca livre a famosa "BL". Era uma criatura muito boa, mas não gostava de pagar. Aliás, falando em Didô, diziam as más línguas, que quando ele ia pro mercado, não levava a famosa cesta de “titara” para trazer a feira. Trazia a feira no boné de tão grande que era a sua cabeça. Ele não gostava de jeito nenhum dessa brincadeira.
Bem, o bar não durou muito. Conflitos financeiros entre os pacatos donos. Passamos bons momentos ali naquele ambiente. Foi muito bom enquanto durou. Sempre é lembrado quando a turma se encontra para tomar uma "gelada" e conversar. O Valmiro desapareceu e o Julio Mamão continuou morando na mesma casa, praticamente enfrente ao Bar, na Av Siqueira Campo.

Nicolau Cavalcanti em 14/07/2012

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