domingo, 30 de setembro de 2012

As nossas loucas caminhadas: "só sabíamos o início e o fim: na Esquina da Dona Amélia!!!"

A nossa turma da esquina da Dona Amélia, sempre estava perturbando por aí afora, se juntava Eu Niel, aliás, com relação a esse nome Niel, na realidade era mesmo o meu apelido colocados por meus avós. Colocaram meu nome, os nomes dos meus dois Avôs: Nicolau Elpidio. Para facilitar as coisas, tiraram a primeira sílaba do Nicolau, "NI" e a primeira do Elpidio "EL", juntou as duas e estava pronto o meu apelido: NIEL! Só funcionou enquanto não comecei a estudar! Meus amigos de infância só me chamam de Niel, mesmo sabendo o meu verdadeiro nome.
Sim! Saíamos todos juntos, sempre da Esquina da Dona Amélia: Eu, Erico, Jarbas, Zezinho, Carlinhos "Matasma", Missinho, Paulinho "Buçú", Beto "Torreiro", Ciço "Bomba", Geraldo "Cabeção", Laurinho, seu irmão Beto e muitos outros. Saíamos sem destino. Na foto abaixo, aparece a tão falada e famosa Esquina da Dona Amélia. Começando da esquerda: Roberto Pinheiro, Érico e Eu Niel.
As vezes íamos na Feira do Passarinho olhar a variedade de pássaros que eram vendidos ali. Na época tinha de tudo: xexéu, canário, sanhaçu, do azul e do cinza, azulão, papagaio... Tinha inclusive o mais procurado de todos: o curió. Esse passarinho dependendo da quantidade de repetições do seu canto, valia ouro! E tinha muito mais. Lá eram vendidas gaiolas de todos os tipos, tinha uma que conhecida como "pião" e era a mais cara, como também as gaiolas exclusivas para o cruzamento e reprodução de canários. Vendia-se também, barba de bode para confecção de gaiolas, alçapão, plantas que serviam como alimentação de passarinhos, osso de baleia, para fortalecer o bico, na época da muda, etc... Tinha tudo que se procurava para a criação de passarinhos.
A feira funcionava embaixo de alguns pés de amendoeiras que existem até hoje no local, nos fundos do Colégio São José e começava logo depois da Panificação Nossa Senhora das Graças.

Por incrível por pareça, o local não era sujo como hoje e até comíamos as amêndoas caídas não chão. Coisas de "moleque"! E isso éramos todos! Tinham aquelas amarelas que não manchavam as nossas línguas mas, as roxas deixavam não só a boca mas, a língua e até os dentes manchados de roxo, resultante o sumo das frutas. Na foto ao lado, um cacho de amêndoas ainda verdes, no pé de amêndoas. A Feira do Passarinho já não existe mais no local. Depois que o IBAMA, proibiu a comercialização de qualquer tipo de aves e armadilhas para capturar essas aves, o comércio de passarinhos praticamente acabou. Mesmo assim ainda funciona clandestinamente em uma outra área próxima ao mercado. De vez em quando os fiscais do IBAMA faz uma batida no local e recolhem todos os pássaros e as pessoas que estão cometendo esse ato ilícito.
Depois passávamos pela Feira do "Rato", que na realidade era a extensão da Feira do Passarinho. Lá encontrava-se de tudo. Eram artigos de segunda mão, mas ainda em perfeitas condições de uso. O bom, era o preço. Certos artigos, se comprava por menos da metade do preço. O nome da Feira do "Rato", surgiu exatamente por isso. Não tinha como se vender um produto qualquer pelo preço que ali era negociado, a não ser se fosse "roubado". Quando ocorria algum roubo de objetos pessoais ou de casa, a Polícia fazia uma batida no local. A maioria dos produtos ali vendidos eram produtos cuja procedência era legal. Muitas vezes, pessoas que estavam a precisar de dinheiro, ia lá vender alguma coisa, para conseguir algum trocado. Lá se encontrava: LP's, bicicletas, relógios, todo tipo de ferramentas, toca-fitas pra carro e portátil à pilhas, rádios e radiolas de pilhas os de válvulas, sobras de material de construção, etc...
Partindo dali, pegávamos a Rua Augusta, mais conhecida como Rua das Árvores, e íamos comer oiti. Parte da Rua Augusta, tem ainda hoje vários pés de oitizeiros e que, durante a época desses frutos dessas frondosas árvores, a Rua ficava repleta deles, no chão. Eram tantos frutos que caíam, principalmente quando estava ventando, que muitas pessoas evitavam passar no local, principalmente por baixo das árvores, com medo de algum daqueles frutos caísse em suas cabeças. O que não era difícil!

Passávamos um bom tempo "catando" dentre os oitis caídos no chão, aqueles que ficavam mais inteiros depois da queda, para depois "paparmos" um a um! Na foto ao lado, vários oitis ainda no pé de oitizeiro. Quando estavam maduros ficavam bem amarelinhos.
Antigamente aquela Rua era muito tranquila e não tinha o movimento de hoje. As casas eram todas residenciais. Andava-se tranquilamente na Rua, pois não existia esse movimento de pessoas, veículos e de comércio que se proliferou, a partir do final dos anos 60.
Da Rua Augusta, voltávamos em direção a Praça Deodoro, demorávamos um pouco sentados nos bancos de concreto que existiam, curtindo o movimento e depois retornávamos a esquina de Dona Amélia. Quando a Venda de Seu Toledo, estava aberta, assinávamos o ponto por lá e, depois cada um partia para suas casas. Uns almoçavam e iam para escola e outros descansavam o almoço e voltavam para esquina da Dona Amélia. Que vida boa!
Muitas vezes íamos acompanhar a construção do Estádio "Rei Pelé". Ficávamos impressionados com o tamanho da construção. Passávamos um bom tempo andando pela estrutura do Estádio. Fazíamos isso escondidos, pois não era permitida a entrada de pessoas que não estivesse envolvida na construção. Muitas vezes pedíamos a algum fiscal da obra e ele autorizavam. Chegamos uma certa vez inclusive, a subir na laje principal do Estádio, aquela que fica em cima da cabines de rádios. Pense numa aventura! Não era qualquer turma que tinha a coragem de fazer o que fazíamos!
Todos os acidentes graves que ocorriam na época, quando ouvíamos pelo rádios ou quando víamos o movimento de pessoas ou várias ambulâncias chegando ao HPS-Hospital de Pronto Socorro, com as suas sirenes ligadas, corríamos para ver a chegada das vítimas. Presenciamos muitas cenas fortes! Se tinham vítimas fatais, corríamos então para o Necrotério, que era no mesmo local de hoje: ao lado do Prédio da Faculdade de Medicina. Até hoje não mudou em nada, a não ser os serviços que pioraram e muito. O Doutor Duda Calado, pai do nosso amigo João Calado, era médico legista de renome em todo estado, trabalhava lá. O João contava que seu pai, para fazer uma exumação, quando era solicitado, muitas vezes tinha de tomar umas doses de uísque, para encarar o defunto!
Quando acontecia algum assassinato de pessoas influentes e autoridades como também de bandidos famosos, estávamos todos lá no necrotério. Foram muitas as vezes que estivemos naquele lugar. Nas década de 60 e 70 existiam muitas brigas entre famílias e que sempre terminavam em tragédias.
A praia nem se fala, praticamente todos os dias estávamos por lá. Para dar um mergulho ou simplesmente passear e curtir as "cocotas" de biquínis lambuzada com um bronzeador muito usado na época, da cor, se não estou enganado roxa como beterraba e eram vendidos em pequenos "sachês" de plástico. Tinha "cocota" que se lambuzava da cabeça aos pés. Ficava realmente uma "graça". Não sabíamos se estava bronzeada ou pintada! Muitas chamavam até a atenção de todos, se embolavam na areia e pareciam até bifes passados na farinha de pão, antes de fritar.
Também tinham duas coisas que gostávamos de fazer na praia: tomar uma "raspadinha", gelo raspado, e garapa de maracujá, coco, baunilha, maçã e maçã com coco. Era uma delícia! Tinha também o "flau" de sabor uva, laranja e maçã, se não estou enganado! Era uma maravilha! E geladinho! hum! Era vendido em embalagem plástica totalmente fechada e na própria embalagem acompanhava um canudo de plástico bem resistente. Para se tomar o conteúdo da embalagem, furava-se ela com o canudo e aí era só chupar e tomar aquele delicioso líquido. Muitos gaiatos gostavam de, depois da embalagem vazia, enchê-la de ar soprando pelo canudo, depois de cheia, furavam o outro lado da embalagem plástica com o canudo, ficando a embalagem cheia de ar. Depois jogavam no chão e pisavam bem forte na embalagem. Era um estouro danado! Fazíamos muito isso! Coisas simples mas hoje tem um significado nostálgico que faz a gente reviver aqueles momentos inesquecíveis!

Obs: Fotos copiadas do Google.

Nicolau Cavalcanti em 29/09/2012

sábado, 29 de setembro de 2012

Bar da Jaqueira: "cuidado com a jaca na cabeça!!!

Funcionava na antiga Rua da Floresta, hoje Rua Fernandes de Barros próximo ao Colégio São José. Aliás! Quando era criança, morei nessa Rua com meus avós e minhas irmãs, do mesmo lado do Bar. Na época era uma rua muito tranquila, onde as famílias viviam em paz com a vida. Me lembro que na esquina dessa Rua com a Rua Melo Moraes, tinha a Venda de Dona Castorina.
O Bar funcionava no quintal de uma casa, e as mesas, na sua maioria, ficavam dispostas embaixo de uma enorme e frondosa jaqueira, que em determinados meses do ano ficava carregada de jaca, daí o seu sugestivo nome. Quando dava na "veneta" e a nossa turma não tinha nada pra fazer, na esquina da Dona Amélia e, já estava cansada de perturbar por lá, durante a semana à noite, íamos todos pra lá tomar algumas "meiotas", que na realidade era a cachaça servida em uma garrafa de refrigerante que correspondia a meia garrafa de cachaça, acompanhada de um prato do tira-gosto mais solicitado e mais famoso do Bar: o tradicional bife de fígado acebolado! Hum! Como era delicioso! Um pouco pimenta e de farinha, para aproveitar a "graxa", não sobrava era nada! Para "lavar a prensa", tomávamos algumas cervejas e voltávamos para a esquina de Dona Amélia, perturbando.
Era um lugar meio suspeito e era frequentado também pelas "mulheres da vidas", Como eram chamadas. Aliás, como já dizia o ditado popular: “a vida só é vivida quando é vivida na vida das mulheres da vida!!!”. Na Rua na época já tinhas várias casas que funcionavam como "inferninhos". Ali era só papo descontraído, cachaça, cerveja, tira e muita zona, comandada pelo Geraldo "Cabeção", Missinho e Equinho e o Laurinho, sem contar com as gaitadas estridentes do Haroldo e do seu irmão do Bebeu. O dono do Bar ficava puto da vida! Era essa a difícil vida que tínhamos!

Nicolau Cavalcanti em 27/09/2012

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Bar da Amália: ali se comia a "coelhinha" mais gostosa de Maceió! Tira-gosto, viu amigo!!!

Ficava localizado na Rua Cabo Reis, próximo ao “Trapichão”, o Estádio Rei Pelé. Quem vinha pela Rua Cabo Reis em direção a Avenida Siqueira Campos, ficava do lado direito. Lembro-me, que o Bar era recuado e tinha um terreno na frente, não muito limpo, onde os carros estacionavam. Era um bar muito simples, mas tinha realmente algo "bom pra burro": As garotas que ali freqüentavam! Era a alegria de todos nós marmanjos! Os coroas ficavam se babando e muitos namorando discretamente em suas mesas e, os mais novos, paquerando e às vezes procurando encrenca, tirando onda com as mulheres acompanhadas. Na baixa, é claro!
Íamos ali também saborear o famoso tira-gosto de coelho. Olha aí a "coelhinha"! Esse tira-gosto era servido guisado ou frito e, era considerado um dos pratos mais gostosos dentre uma grande variedade de pratos servidos no bar, tanto para uma refeição reforçada, como simplesmente para um apetitoso tira-gosto. Ali realmente se passava "muito bem". Além dos tira-gostos, a mulherada fazia a festa. Sempre que podíamos, íamos ao Bar da Amália. Eita lugarzinho porreta!
No final do ano, quando a turma se reunia para fazer umas boas farras, já que muitos viajavam, e passavam o ano fora estudando, o Bar da Amália sempre estava no nosso roteiro. Mas independente de tudo, sempre que podíamos estávamos por lá. Lá também se ouvia uma boa música, principalmente jovem guarda mas também se ouvia cantores da velha guarda como Nelson Gonçalves, Altemar Dutra e muitos outros.

Nicolau Cavalcanti em 27/09/2012

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Bar "O Caldinho": "o de feijão era excelente! Caixinha...!!!"

Funcionava no térreo do Edifício Breda, quase em frente ao estacionamento do Bradesco existente ao lado do prédio da antiga Faculdade de Direto, onde hoje funciona a sede da OAB. O dono era primo do Joaquim e do Pedro Gama, nossos amigos e que faziam parte da nossa “patota”. Se não estou enganado, chamava-se Ricardo. O local era uma das lojas existentes no térreo do Edifício Breda. Era muito estreito e não tinha mesa. Os clientes eram atendidos no balcão. Lá se tomava um dos melhores caldinhos de feijão e do sururu, acompanhado de uma boa dose de cachaça ou de conhaque com limão. Era muito freqüentado por todos aqueles iam ao comércio e gostavam de tomar uma "lapada" com um bom caldinho. Nos sábados pela manhã, para abrir o apetite, antes da hora do almoço, o local não dava pra ninguém devido a grande procura. Todo mundo que gostava de uma caninha e um caldinho, estava lá. Um negócio interessante que o dono do bar inventou e, que chamava a atenção de todos que freqüentavam o bar, era o seguinte: Toda vez que pagávamos a conta e deixávamos uma "gorjeta" para os garçons, o dono falava bem alto: "caixinha"! E os garçons respondiam em voz alta e todos de uma só vez, "muito obrigada"! Muita gente que freqüentava o bar, já deixava um trocado para os garçons, só para ouvir deles o coro em voz alta agradecendo sua contribuição. Com essa brincadeira quem saía lucrando mesmo, eram eles os garçons, que no final do dia tinha um dinheirinho para o transporte ou o lanche da volta. Não sei por quanto tempo durou mas, sempre estávamos lá!

Nicolau Cavalcanti em 27/09/2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Boate "Tonga da Mironga": mas essa não era do "Kabuletê"!!!

Funcionava na Praia do Sobral, na Avenida Assis Chateaubriand, próxima a Rua Sargento Jaime, em frente ao mar. Acredito que são poucas as pessoas que lembram dessa boate. Mas que existiu, existiu! Vários amigos da turma freqüentaram, inclusive eu. Uma construção simples onde tinha uma área coberta, onde funcionava a boate. Era um salão grande fechado nas laterais com combogó, onde as mesas eram dispostas em volta desse salão, ficando o centro reservado para o dacing, com luz negra, é claro e ali se dançava de tudo. Tinha também um local para o conjunto musical, que tocava sucessos da época e embalava as noites agitadas na boate. tinha também o bar e os sanitários. Na parte externa, em um dos lados, tinha uma área descoberta, onde haviam várias mesas onde também se podia ficar tomando um drinque ou outra bebida qualquer, paquerando, namorando ou simplesmente curtindo o ambiente e ouvindo o som da boate. Era um ambiente diferente mas dava pra quebrar o galho. Durou pouco tempo, pois a área onde ficava a boate era muito esquisita e o local não era legal.

Nicolau Cavalcanti em 26/09/2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A nossa incrível e criativa "Fábrica de Brinquedos": "Fabricávamos de tudo! Funcionavam todos!!!"

Como já falei anteriormente, éramos uma turma curiosa e de tudo tínhamos vontade de saber e de fazer. Tínhamos inclusive um dos amigos: o Zequinha que era chamado de "cientista maluco". Aliás! ele e eu gostávamos muito de inventar coisas diferentes. Éramos ligados em foguetes. Tínhamos um sonho de um dia, quem sabe, construir um que realmente subisse ao céu. Tem inclusive uma história que quase terminou em tragédia. Inventamos de construir um foguete. Na realidade era uma lata de leite ninho com bombas amaradas nas laterais da lata. Colocamos um pequeno gato em cima da lata e acendemos as bombas. Pra sorte do gatinho, assim que ouviu os chiados das bombas deu um pulo e se mandou. Aí as bombas começaram a explodir e a lata voava em todas as direções. Ufa! Que susto nós tomamos!
Muitos brinquedos da época éramos nós mesmos que fazíamos e era muito legal. Funcionavam mesmo! Vou tentar descrever como fazíamos e como funcionavam essas máquinas que na época eram pra nós, top de linha, apesar da "grande concorrência" dos brinquedos Estrela e de outras marcas que existiam no mercado!

Alguém se lembra de um brinquedo que existia e que era muito fácil de fazer. Aquele que utilizávamos latas de leite ninho, onde fazíamos um furo no centro do fundo da lata e outro no centro da tampa, passávamos um arame nos dois furos, enchíamos a lata de barro ou areia preta úmida e bem socada, fechávamos a lata e amarrávamos um barbante nas extremidades do arame e estava pronto o brinquedo. Era só puxar que lata pesada girava e então era só aproveitar. Colocávamos várias latas preparadas do mesmo jeito e as extremidades do arame eram amarradas no arame da primeira lata próximos aos furos e assim por diante. Fazíamos com duas, três, quatro, até suportarmos puxar o peso das latas. Era muito bom! Todas as latas giravam e chamávamos aquele brinquedo de "trator".

Um outro brinquedo que fazíamos muito, aliás, não precisava nem fabricar. Era só conseguir um pneu velho e, com o pneu na vertical, dava-se um empurrão nele com a mão, fazendo o mesmo girar e aí era só continuar impulsionando pra frente o pneu com a mão e, ter muito cuidado para não atropelar ninguém. As manobras como curvas e paradas eram feitas com a própria mão ou com um pedaço de madeira ou até mesmo com a sandália havaiana que usávamos. Quando a turma inventava de brincar de pneus, era um "Deus nos acuda"! "Salve-se que puder!" Era gente pulando pra todos os lados. A turma não dava trégua. Metia o pneu em cima de quem ousasse atravessar na frente daquele trambolho. Saíamos de bando empurrando os pneus. Era um verdadeiro ataque para as pessoas que transitavam tranqüilas pelas calçadas. Muitas vezes, perdíamos o controle e o pneu escapava de nossas mãos, aí a coisa pegava.

Um outro também muito usado para passar o tempo, consistia numa roda, de preferência de ferro, por exemplo: jantes de bicicleta pequenas ou grandes ou coisa parecida, e um pedaço de vergalhão onde em uma das extremidades se fazia uma um dobra em forma de "U", num angulo de 90° com restante do vergalhão, na largura da roda e na outra se dobrava um pedaço para facilitar o apoio da mão e, estava pronto mais uma máquina. Pra se usar era só dar um impulso na roda de forma que ela começasse a rodar na vertical e depois aproveitando ela rodando, dava-se continuidade usando o vergalhão e encaixando-se a parte em "U" na roda e empurrando para a frente a mesma. As manobras eram feitas pelo vergalhão dependendo da posição em que virávamos o mesmo. Gente! Pense num brinquedo legal!

Uma outra máquina que fazíamos era os carros de lata de óleo. Antigamente tinha uma marca de óleo que a lata era retangular. Se não estou enganado era a lata de óleo Mazolla. Cortava-se a lata de óleo no sentido longitudinal no lado mais largo, nas duas quinas. Soltava-se um dos lados mais estreito e depois virava-se a parte solta em sentido contrário ao dos cortes e com isso se moldava a boléia do caminhão, que parecia muito com o FNM ou então o Mercedes, o da estrela. Tirávamos as rebarbas amoladas nas partes cortadas batendo-se com um martelo, na calçada. Prendia-se a lata em um pedaço de madeira da largura da lata e um pouco maior do que o seu comprimento, como também a parte da boléia na extremidade da madeira que sobrava no comprimento e estava pronta a carcaça do caminhão.
O eixo traseiro era preso em dois pedaços daquelas fitas de aço que serviam para amarrar caixotes e essas eram presas na parte de baixo do caminhão. O eixo dianteiro era preso apenas a um pedaço da mesma fita no meio do eixo, fazendo com que ele se movimentasse para direita ou para esquerda, fazendo com que o pequeno veículo se movimentasse de acordo a vontade de seu dono. Era presa também na parte de baixo da carcaça. As rodas eram de madeira e compradas no mercado, na "Feira do Rato". As fitas de aço serviam de mola. Estava pronto o caminhão. Para puxa-lo era amarrar as pontas de um pedaço de cordão nas extremidades do eixo dianteiro e pronto! Era só aproveitar o tempo livre e brincar. Era uma maravilha! Carregava-se a carroceira e era só puxar. Uma maneira mais simples de fazer esse carro era simplesmente fixando os dois eixos dois eixos diretamente na carcaça do caminhão. Fizemos muitos desses! Carregamos muitas "cargas"!

Tinha também o "carrinho de rolimã". Esse era legal! Um pedaço de madeira de uns 40 cm de largura e uns 50 a 60 cm de comprimento, onde nas extremidades do lado mais estreito, prendia-se um eixo e nas extremidades desses eixos se fixavam rolimãs de forma que ficassem realmente bem fixadas. Esse era o mais simples. Tinha um outro que um dos eixos era móvel, fazendo com que pudéssemos direcionar o seu movimento. Era só prender um dos eixos no centro com apenas um parafuso fazendo com que o eixo se movimentasse para esquerda ou para direita. Esse eixo era maior para que o piloto apoiasse os pés e com isso pudesse direcionar o carinho de rolimã. Agora era só pedir a um amigo para que empurrasse e, pronto.

Por fim o patinete. Esse é bastante conhecido de todos e também era mais difícil de fazer, assim mesmo fazíamos. O mais difícil era juntar as duas parte do patinete. Uma para direcionar o patinete e a outra para apoiar os pés. Mas em qualquer serralharia se encontrava a peça. Tinha também serraria que fazia. A gente levava a peça que unia as duas partes como também os dois rolimãs, e já recebíamos pronto. Era só pagar pela madeira e pela mão de obra.

Aliás! Faltou mais um! Eram aqueles caminhões que empurrávamos por trás com um cabo de vassouras e dirigíamos eles para onde quiséssemos. Na maioria das vezes comprávamos, o caminhão pronto e fazíamos uma adaptação. Tirávamos o eixo dianteiro e fixava ele, deixando-o preso por apenas um prego no centro, de maneira que ele pudesse girar para direita e para esquerda para que pudéssemos dirigi-lo. Na parte traseira, no final da carroceira, prendia-se um pedaço de madeira com um meio furo no centro, de forma que conseguíssemos apoiar o cabo de vassoura e empurrar e dirigir o caminhão. Para movimentar o eixo dianteiro amarrávamos as pontas de um pedaço de cordão nas extremidades do eixo. Em uma das extremidades do cabo de vassoura se colocava um prego em cada lado de forma que os dois ficassem em posições opostas. O cordão amarrado na extremidades do eixo teria de ter um tamanho um pouco maior do eixo até o pedaço de madeira com o meio furo. Agora era só prender o cordão nos dois pregos. Existia uma forma muito simples de se fazer isso. Invertendo-se a posição dos cordão. O que estivesse amarrado na extremidade direita do eixo, teria de está preso no prego do lado esquerdo e vice versa. Agora era só aproveitar. Tinha alguns amigos que pregava na outra extremidade do cabo de vassoura um lata de goiabada para servir de volante. Com certeza tinham muitos mais. Só que no momento não me recordo.
Tenho um primo de nome Rivaldo que na época morava com seus avós na Avenida Moreira e Silva e tinha um caminhão desses que era uma coisa linda. Gostava de ir lá na sua casa e brincar com ele na Praça do Centenário com o caminhão. Passávamos horas brincando. Ficávamos alternando: uma hora era eu e outra era ele. Como era bom!

Parei! Pensei! E apareceu mais um! Quem não se lembra das "pernas de pau". Essa era muito fácil de fazer. Era só conseguir dois pedaço de madeira que poderia ser um pedaço de caibro ou algo parecido, com o comprimento igual a altura do ombro e neles se fixavam um pedaço de madeira perpendicular e na altura dos joelhos, do tamanho um pouco maior do que o dos pés e, nas extremidade desses, se fixavam um pedaço de madeira maior e a outra extremidade se fixava no caibro, abaixo do apoio do pé e servia de suporte para esse apoio. Esses suportes e os apoios dos pés, tinham de ser bem fixados, pois iriam suportar o peso do corpo de quem ousasse andar nas "pernas de pau". Para se usar as "pernas de pau", o sujeito teria de ser bom no equilíbrio. Com a ajuda dos amigos, subia-se nas "pernas de pau" e era só se equilibrar e sair andando levantando o caibro da perna que se iniciava a passada e assim sucessivamente alternando-se as pernas. Levamos muitas quedas dessas "pernas de pau".

Bem gente! Esse vai ser o último! Mas não poderia deixar de mencionar, pois acredito que todos da nossa época andou nesse brinquedo. Alguém na sua infância de antigamente, andou em cima de cacos de Cocos? Como era legal! não era?
Pra fazer era muito fácil. Era só conseguir duas bandas de cacos de côcos secos, pois teriam de agüentar o peso do nosso corpo. De preferência, aquelas em que tem o furo, o olho do coco, pois não perdíamos tempo furando a cascas de côcos, por ser muito dura. Limpar a parte externa das cascas, deixando elas sem rebarbas, para não machucar os pés de quem iria utilizar o brinquedo. Depois era só conseguirmos um pedaço de barbante do tamanho do dobro da altura da cintura e passávamos as extremidades em cada furo da casca de coco e para que as extremidades do barbante ficassem presas as cascas de coco, amarrava-se em cada uma um pequeno pedaço de madeira ou coisa semelhante. Para andar em cima da casca de coco, era só subir nelas se equilibrar e passar o barbante entre o dedão do pé e apertar segurando-o. Agora era só fazer os mesmos movimentos que se fazia para andar nas "pernas de pau".

Quando paro pra pensar em tudo aquilo que vivíamos, sinto até que estou sonhando construindo aquelas máquinas ou até mesmo distraído brincando com meus amigos da esquina de Dona Amélia, com aquelas invenções, que eram tão simples, mas pelo fato de termos construídos, considerávamos invenções de primeiro mundo. Melhor não poderia ser! Aquilo é que eram brincadeiras! Aquilo é que era viver! Muitas vezes, empolgados por ver as nossa "potentes" máquinas funcionando, atropelava os próprios amigos com algumas delas ou então pregávamos sustos nas pessoas que distraidamente caminhavam tranqüilas pelas calçadas das ruas próximas da esquina da Dona Amélia ou pela Praça da Faculdade de Medicina. Éramos muitos felizes!

Nicolau Cavalcanti em 24/09/2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Festival de Verão de Marechal Deodoro: Estávamos todos lá na "BARRACABAÇO"!!!

Mais uma vez coloquei a cabeça pra funcionar e não é que me lembrei do Festival de Verão de Marechal Deodoro! Esse festival acontecia anualmente na cidade histórica de Marechal Deodoro, na década de 70 e, na época ficou muito famoso, pois conseguia reunir artistas e cantores não só da terra mas também de renome nacional. O festival tinha a duração de uma semana, se não estou enganado e, durante esses dias havia uma vasta programação diária com a apresentação de grupos de danças folclóricas, bandas de pífanos, que alegravam a todos percorrendo as principais ruas da cidade, as famosas orquestras que se apresentavam na Praça principal da cidade e eram formadas de pessoas nativas e comandadas pelos seus famosos maestros, filhos da terra, que existiam e existem até hoje na cidade, como também muitas outras atrações. No final de cada dia sempre havia uma atração principal que fechava com "chave de ouro" a grande noitada.
Esse festival ficou muito famoso e conhecido em todo Brasil, pela apresentação de figuras ilustres que eram convidadas a participar do festival como foi o caso do famoso cantor, compositor e poeta Vinicius de Moraes que se apresentou juntamente com a cantora Maria Creuza e Toquinho. Esse último, também compositor e cantor que em parceria com Vinicius de Moraes, compuseram inúmeras canções de sucesso no Brasil e em todo o mundo e que na época, estava no auge dessa parceria. Esses trio espetacular, encerrou um desses festivais de verão, levando a loucura os nativos, turistas e maceioenses que lotavam todos os quatro cantos da cidade para curtir o evento. Segundo o meu cunhado Pedrinho, que não perdia um festival, Vinicius de Moraes, estava sempre acompanhado com o seu inseparável copo com uísque. Nos demais anos, muitos outros artistas passaram a participar do festival convidados pela organização do evento. Uns apenas como turistas para abrilhantar o festival, como era o caso do Jô Soares, que adorava, já nessa época, a praia do Francês e, do festival, nem se fala! Segundo minha irmã Lilian. Outros vinham não só para passear mas também para se apresentar, como foi o caso da dupla Dóris Monteiro e Miltinho, famosos na MPB. Muitos outros se apresentaram mas que não recordo os seu nomes.
Os hippies, muito comuns na época, com as suas roupas e cabelos extravagantes, chamavam a atenção de todos e sobreviviam vendendo enfeites e miçangas produzidos artesanalmente por eles. Eles passavam o dia mostrando suas habilidades confeccionando peças das mais variadas, para vender. A maioria dos seus clientes era do sexo feminino que, ficavam doidas não só pelos marmanjos como também pelas peças confeccionada por eles. Dormiam em barracas montadas em qualquer espaço e tinham uma vida de nômades. Não demorava muito em um mesmo lugar.
Na época, a maconha estava se espalhando em Maceió e lá no festival, não era diferente. Tinha muita gente "lombrada"! "doidona"! "Dando bode"! Como dizia a letra da música do Tim Maia: "...é o bode da gente! É o bode bé! Em certos locais era um verdadeiro fumaçê!...RÊ RÊ RÊ fumacê...RÁ RÁ RÁ fumaçá!!! Tinha gente delirando e vendo até disco voador!!!
Num desses anos, a nossa turma resolveu participar desse festival, mas não por um dia, como costumávamos participar mas, acampar e passar um fim de semana curtindo o dia-à-dia desse famoso evento. A maioria das pessoas que iam participar daquele festival, ficavam hospedadas em casas de parentes ou amigos, pois hotel praticamente não existia, principalmente pela quantidade de pessoas que participavam do festa. Muitos iam de carro, passavam o dia, curtiam e depois voltavam. Quando a "maré" estava boa, dormiam no próprio carro. Os menos privilegiados, iam e voltavam de ônibus. Essa era a situação minha e da maioria dos amigos da nossa turma. Outra coisa! Chegar em Marechal Deodoro, na época, era uma verdadeira viagem e, na praia do Francês, nem se fala. Pegava-se um ônibus e para que chegássemos lá, tínhamos de ir por cima, pela Chã do Pilar. Era um arrodeio danado. Ainda não existia a estrada nova, com as duas pontes. Sim! Tinha também uma terceira opção: ir de barco. Se não me engano, só era possível esse tipo de viagem durante o dia. Pega-se o barco, no Porto da barca ou da balsa, não me recordo bem o nome correto, que ficava numa entrada no final da Praça Pingo D'água, no Bairro do Pontal da Barra. Era uma viagem demorada mas, excelente, pois íamos e vínhamos, apreciando as belezas das Lagoas Mundaú e Manguaba. Quem tinha lancha, não tinha nenhuma dificuldade.
Pois é, resolvemos ir e passar o fim de semana que fechava o festival. Não estou lembrado das atrações que encerraram esse festival. As pessoas que iam para ficar toda a semana em Marechal, e não tinham parentes nem amigos por lá, só tinham uma única opção: montar barracas nas ruas próximas a Lagoa ou em outro local onde houvesse espaço para acampar durante todo o período do festival. Foi o que realmente fizemos. Arrumamos duas lonas de caminhão. Uma para a coberta e a outra para forrar o chão e servir de cama para todos nós. Algumas estroncas, para montar a estrutura da barraca, um fogão de duas bocas, desses utilizados para acampar, fizemos uma boa feira e convidamos o cozinheiro do Bar do Seu Toledo: o famoso Zezé Macedo! Uma bicha muito louca que por qualquer coisa desbundava todo mas, cozinhava como poucas mulheres! Foi cozinheiro de uma empresa que trabalhava para Petrobrás, na Bahia. Era uma figura muito engraçada e, quando bebia, dava show! Me lembro de várias vezes, eu e a turma ter assistido o Zezé Macedo dançando rumba em cima da mesa na Venda do Seu Toledo e, a turma toda batendo palmas e gritando o seu nome. A turma já fazia de sacanagem, dava corda e enchia a cara do coitado de cachaça. Era uma verdadeira "zona". Ele desbundava todo. Colocava o seu lado bicha, todo pra fora. Claro que só fazia isso quando Seu Toledo não estava na Venda. Ele ficou tão satisfeito com o convite que, garantiu que ia se comportar como um verdadeiro "homenzinho" e, que não iria nos decepcionar. Comida boa não iria faltar! Falamos também com o Seu Toledo e ele liberou o Zezé Macedo sem dificuldades.
Barraca ok, comida e cozinheiro ok. Só restávamos agora, escolher um nome para a barraca, para chamar a atenção de todos que vissem a dita cuja e marcar a nossa ida para o festival. Pensamos, discutimos, vários nomes surgiram e, de comum acordo resolvemos colocar o nome de "BARRACABAÇO". Sim! Esse seria o nome! Um pouco malicioso mas, só para os maldosos. Pintamos até uma faixa com o nome para colocar na frente da barraca. Conversando o Missinho recentemente ele me falou que quem levou as lonas, as estroncas e a feira, foi o Bônzio, o irmão do Júlio, em seu caminhão e foi ele quem lhe pediu para levar.
Toda a turma foi de barco. Saímos pela Avenida Siqueira Campos, andando até o Porto da Barca fazendo aquela bagunça de sempre. Chegando em Marechal, tratamos logo de escolher um local para armar a barraca. Estávamos com sorte! Encontramos um terreno bem próximo da lagoa Manguaba, numa rua transversal a rua da lagoa. O local era excelente, além de ficar próximo ao Centro da cidade, onde havia a praça e o palanque principal onde se apresentavam os artistas convidados, ficava também a uns 50 metros da rua principal que dava para a lagoa. A orla lagunar, onde tínhamos um maravilhoso visual e muitas barracas que vendiam bebidas e tira-gostos. Eram na realidade, barzinhos que viviam cheios dia e noite. A farra era grande! O barulho era de mais!
De bebida só tínhamos levado aguardente e run montilla. O tira-gosto, era improvisado, enquanto o nosso cozinheiro não chegava . Uma outra vantagem da localização estratégica do local, era porque ficava em frente a uma casa grande, onde morava uma família numerosa e, que tinha várias "cocotas", filhas dos donos da casa, cuja barraca e a nossa turma, despertou a curiosidade de todas. Afinal de contas, éramos jovens, bonitos e solteiros!
Conversamos com a família e explicamos que estávamos ali só para curtir o festival. Que não se preocupassem, pois não iríamos abusar. Fomos tão bem aceitos por toda a família, que os donos da casa, nos colocaram a disposição quaisquer coisa que precisássemos. O mais importante para nós era: água pra cozinhar, beber e tomar banho, como também um sanitário. Sem nenhum problema os donos da casa afirmaram que com relação a esses itens não íamos ter problemas.
Bem! Tudo resolvido, barraca armada e tudo arrumado, iniciamos a nossa farra. Abrimos uma garrafa de cachaça e com algumas "lapadas" com limão, secamos rapidinho a dita cuja. O tira-gosto era de caju, que nessa época tinha bastante e a preço de banana. Depois dessa esquentada na "máquina", estávamos prontos para dar uma volta pela cidade e, conhecer melhor e ao vivo o festival. Era muito bom. Muitas "cocotas" bonitas, desfilando nas ruas e dando "sopa" para todos nós! Era época da mini saia e do micro short e a galera feminina, usava sem vergonha. Não estava nem aí, deixando todos nós marmanjos, de boca aberta. A praça e as ruas próximas ao palanque onde diariamente se apresentavam as atrações ficavam lotadas. Os bares não davam pra ninguém.
Tinha um colega de trabalho que me falou posteriormente que seus pais tinham um bar na época e, que teve a honra de receber não só o famoso trio: Vinícius de Moraes, Maria Creuza e Toquinho, como também muitos outros cantores, conjuntos de sucesso e figuras ilustres, conhecidas em todo Brasil. Tinha também vários quadros com as fotos dessas celebridades pendurados nas paredes. Falou que um dos tira-gostos mais famoso e solicitado no bar, era o "camarão de cueca". Disse como era preparado esse delicioso prato, mas realmente não me recordo. Só sei que o nome era porque o camarão graúdo, era servido sem cabeça e a sua casca era retirada ficando a última parte e o rabo, daí o nome.
Voltando a nossa interessante história, passávamos o dia bebendo, paquerado e perturbando. O nosso cozinheiro Zezé Macedo, apesar de beber muito, no início, a comida e o tira-gosto saiam de primeira! Agora, Quando baixava o santo e estava com a cabeça cheia de "manguaça", dançava rumba e rebolava ao som dos gritos e aplausos da turma. Quem gostava de fazer dupla na dança com o Zezé Macedo, era o Geraldo "Cabeção". Era muito bom!
À noite, era a mesma coisa. Continuávamos bebendo e paquerando pelas ruas iluminadas com gambiarras deixando a cidade mais iluminada e mais alegre. No palanque, várias atrações se apresentavam e o povo ao redor vibrava, dando gritos estéricos, cantando e aplaudindo a atração da vez. Nós todos estávamos por lá. Depois de muito brincar e beber, chegava a hora de dormir. Uma lona era forrada no chão de areia e cada qual que fosse chegando se aninhava entre os demais. Era uma verdadeira zona, mas uma zona de guerra. Era preciso estar bastante "chumbado", para enfrentar o ambiente. Uns arrotavam, outros peidavam, outros fumavam, alguns corriam para fora da barraca para vomitar... PQP! Sem contar com o bafo forte de cachaça que saia da boca podre, de todos nós. O ambiente ficava muito pesado. Imaginem só, o mal cheiro dessa mistura! Quem estava sem sono perturbava pra caramba. O Zezé Macedo saía no início da noite e só chegava pela manhã, com a cara de quem "deu e não gostou!". Sim! Ainda tinham aqueles que roncavam!
Numa dessas noites já estávamos deitados quando ouvimos uma discussão que a cada momento ficava mais acalorada. Nos levantamos e fomos até a esquina, pois os gritos vinham de um dos bares montados na rua da lagoa. Quando chegamos na esquina, o que vimos foi uma cena que até hoje me lembro dos mínimos detalhes: um sujeito moreno, baixo e magro estava esfaqueando um pessoa que ao tentar se defender caiu e o indivíduo, não deu trégua e continuou esfaqueando a pessoa que mesmo caída, se defendia freneticamente com os braços e as pernas, pedindo socorro. A turma que estava na barraca tentou segurar o indivíduo mas não conseguiu. De arma branca em punho, ameaçava a todos.
O meliante cansado de golpear a vítima, saiu correndo com a faca na mão em direção ao centro da cidade, enquanto a vítima ensangüentada pedia socorro, dizendo que não queria morrer, pois tinha uma família para cuidar. A briga envolveu um nativo e uma pessoa que depois descobrimos que era irmão de um amigo da turma. O cara era casado e foi ao festival sozinho, curtir aquela festa considerada por todos, a melhor do calendário turístico de Alagoas.
Ficamos muito assustados com as cenas de violência que tínhamos presenciado e então corremos rapidamente para a barraca, deitamos e ficamos quietos. A polícia chegou rapidamente no local. A vítima já tinha sido socorrida e a polícia começava a fazer os primeiros levantamentos sobre a tentativa de homicídio. Logo depois, ouvimos vozes de pessoas que se aproximavam da nossa barraca. De repente! Uma voz num tom mais forte pediu a todos que estavam na barraca, que saíssem calados e com as mãos na cabeça, dizendo que era a polícia. O coitado do Zezé Macedo tremia mais de que "ford de bigode" e suava mais do que "tampa de chaleira". Saímos todos de mãos na cabeça. A polícia então revistou toda a barraca. Aliás! Todo o vão da barraca, pois não tinha como qualquer cristão se esconder no interior da barraca. Depois veio o pior: a revista em todos nós e aquele interrogatório chato pra caramba: vocês são de onde? Presenciaram a tentativa de assassinato? Vocês usam drogas?... Pense no saco! Com o susto, a farra que tínhamos feito durante o dia e parte da noite, foi embora ligeirinho. Estávamos mais lúcidos do que quando iniciamos a brincadeira e prontos pra começar tudo novamente. Decidimos então descansar e no outro dia sabermos das novidades.
Era o último dia do festival e acordamos com vontade de aproveitar cada segundo. O Zezé Macedo, depois do susto da noite passada, encheu a cara de "birita". Se apagou! Andou colocando alguns "bezerros" por todos os cantos, fora da barraca, é claro! Pense numa boneca muito louca! Só sei que ele literalmente se apagou! Dormiu e não teve quem conseguisse acorda-lo. Quando tentávamos acorda-lo, só fazia gemer e virava a bunda de um lado pro outro e nada de acordar. Passamos parte do dia improvisando comida mas, isso não nos deixou abalados. Caímos na gandaia e só paramos quando não agüentávamos mais. A turma era mesmo muito perigosa. Na época em que ninguém sabia ou se falava de "arrastão", a nossa turma já praticava. Andávamos no meio da multidão, procurando "cocotas" gostosas e de preferência que tivesse acompanhada de "cocotas", ainda mais gostosas. Aí começávamos o "arrastão": nossa turma, partia pra cima das "filhinhas de papai", no bom sentido e, haja "mão boba" nos traseiros das "cocotas". Claro que fazíamos com classe e, elas nem percebiam e se percebiam não reclamavam. Muitas até gostavam.
Em recente encontro com o Missinho, o Geraldo "Cabeção" e o Equinho, conversando sobre o Festival, eles contaram algumas histórias interessantes. Uma delas, aconteceu na hora do café. O Geraldo tinha cozinhado a batata doce e ia começar a fritar os ovos para comer com as batatas. Diga-se de passagem, essa mistura é muita boa e, se tiver um cafezinho, aí não tem que resista. O problema era o grande efeito colateral.
Enquanto o Geraldo fritava os ovos, o restante da turma avançava na panela e devorava as batatas. O Geraldo vendo aquele alvoroço em cima da panela de batatas, alertou: "pessoal deixe a batata para comer com os ovos". A turma não estava nem aí e continuava comendo toda a batata, só deixado as extremidades delas. Quando o Geraldo terminou de fritar os ovos e partiu sonhando em comer a deliciosa mistura, quando procurou a panela de batatas, só tinha as piores partes. Então ele puto da vida, chamou uma porra maior do que a sua "cabeção" e concluiu: "seu bando de FDP, puta merda... Pois bem! Já que devoraram as batatas, não vão comer os ovos, não!" Aí jogou os ovos fritos no chão, no meio da barraca. Só sei que a história rendeu o dia todo e só terminou à noite, com as rajadas de "bufas" e "porrotes" que durou toda a madrugada e o coitado do Geraldo "Cabeção", além de não comer as batatas e nem os ovos, só lhe restou cheirar os efeitos da batata.
Uma outra história que me contaram e que não me lembrava mais, aconteceu com o Mario Veiga, vulgo "Ciro Doido". O nosso amigo Mario, toda vez que tomava uma, endoidava. Pois é! Numa certa noite estávamos tomando umas na "BARRACABAÇO", quando apareceu uma turma de soldados do batalhão de cavalaria que fazia uma ronda na área. O "Ciro Doido", já "tungado", vendo aqueles soldados montados à cavalo, berrou: "minha gente! Venham ver o Marechal Deodoro! Ele está aqui! Marechal, tudo bem com você?" Os soldados apenas riram e seguiram em frente...
Os turistas aproveitavam o festival, para conhecer a cidade, seu artesanato, suas inúmeras Igrejas, o Convento de São Francisco, a casa onde nasceu Marechal Deodoro, que hoje é um museu e guarda em seu acervo, móveis e utensílios que pertenceram ao primeiro Presidente do Brasil, assim como uma série de documentos da época. Aproveitavam também para degustarem as comidas típicas da cidade e, lógico! Para curtir o festival.
Tiramos uma noite e fomos até a Praia do Francês, se não estou enganado, de ônibus. Meu Deus! Como era diferente. Um verdadeiro deserto! A maioria das casas eram de pescadores. Fomos a um barzinho que apesar da distância estava lotado. Confesso a vocês que todos nós estávamos perdidos. Será que estávamos realmente na praia do Francês? Não sabíamos onde realmente estávamos. Tomamos algumas doses de "água que Pinto não bebe", encontramos alguns amigos mas, não podíamos demorar muito, porque o último ônibus que passava em Marechal estava chegando e se perdêssemos, teríamos de passar a noite no Francês o que não seria nada agradável pra nós.
É minha gente! O festival acabou deixando em todos nós muitas saudades. Fizemos uma grande amizade com a turma da casa em frente da nossa barraca e, agradecemos muito a ajuda que nos deu e principalmente aceitando todos nós como vizinhos, por um breve período. Dormimos a última noite na nossa "BARRACABAÇO" e, pela manhã, desmanchamos ela, arrumamos todas as nossas tralhas, não me lembro quem levou de volta pra Maceió ou se fomos nós mesmos que levamos, já que a bagagem tinha diminuído muito. Enfim! Pegamos o barco e voltamos todos pra nossa terrinha. Quando o barco chegou no Porto da barca, no bairro do Pontal da Barra, voltamos à pé até a esquina da Dona Amélia, todos cansados mas, o espírito alegre sobressaia em nós e, íamos pela Avenida Siqueira Campos brincando, fazendo bagunça e comentando os nossos feitos no festival.
Soubemos depois que o irmão do nosso amigo que foi barbaramente esfaqueado, levou muitos golpes mas, a maioria nas pernas e nos braços mas, graças a Deus, estava fora de perigo e se recuperando bem. Com relação a nossa turma, falei, falei, mas não citei o nome de ninguém. Pois vai aí a relação dos "locas" que me lembro no momento: Eu Niel, Jarbas, Equinho, Mario Veiga, Geraldo "Cabeção", Missinho, Paulinho "Buçú", Piaba, Carlos Luna, Zezinho e o nosso "metre" Zezé Macedo... Com certeza, teve muito mais gente que participou das nossas farras diárias mas que não dormiam na barraca. Que me desculpem aqueles que ficaram de fora. Mas é só passar um email com nome e eu incluirei na relação. O Haroldo ia todos os dias de carona com seu irmão Bebéu no seu fosquinha 69, verde escuro. Aliás, até a casa onde morava o Bebéu era pintada na cor verde escura. Paredes, portas e janelas. Segundo o próprio Bebéu, a cor verde escura era a sua cor da sorte, segundo uma de suas irmãs. O João Chagas, irmão do Geraldo "Cabeção" fazia o mesmo. Desfilava nas ruas ladeiradas da cidade com o seu jipe "candango" todo "guaribado". O João era mecânico e um dos poucos que entendia da mecânica do "candango", em Maceió.
Outros amigos também vinham durante o dia, e se juntavam a nós, brincávamos bastante e depois voltavam para Maceió. A barraca fez bastante sucesso. Teve inclusive pessoas que tiravam fotos para levar de lembrança. Não me lembro por quantos anos o festival aconteceu mas, o que vivemos naquele ano marcou muito a vida de todos nós. A "BARRACABAÇO" foi mais uma página escrita na história da nossa turma da esquina de Dona Amélia.

Nicolau Cavalcanti em 23/09/2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Surpresa! Recebi um email da nossa irmã Desdêmona! Que maravilha!!!

Resolvi publicar o email abaixo, enviado pela nossa irmã Desdêmona, de Brasília, falando mais um pouco da vida do nosso querido pai. Fiquei muito emocionado pelas informações contidas no email. São coisas simples mas que, de certa forma, irão somar as poucas informações que já temos sobre ele e, nos ajudar a montar esse grande quebra-cabeça sobre a vida do nosso querido pai. Coloquei também a minha resposta.

Em quarta-feira, 12 de setembro de 2012, André Felisberto escreveu:

Oi irmão saudades,

Perdão por não escrever mais para você, fico muito tempo sem mexer no computador. Acho complicado, não tenho paciência. Ainda estou aprendendo, o André esta me ensinando.
O André entrou no hotmail e viu suas mensagens. Viu que está fazendo três anos do susto que passou. Sempre tive certeza da sua recuperação, pois Deus sabe todas as coisas. Vi suas preferências musicais, você vai ter muito tempo ainda para ouvir sua músicas. Eu adoro Roberto Carlos, nosso pai também gostava do Roberto e também Martinho da vila, Agepê, Demônios da Garoa. A música trem das onze parece muito com ele.
Adorei a foto do nosso pai junto com a sua, você parece muito com ele, até sua voz pelo telefone é parecido com a voz dele.
Também sinto saudade dele, todos os dias tenho ele no meu pensamento, não é fácil perder quem amamos, mas estou tentando viver com essa saudade. Parece quanto mais tempo passa a saudade aumenta.
Eu e o André estamos bem, o André vai fazer novamente os exames, só para ver as taxas, ele está bem melhor.
Aqui em Brasília está muito perigoso, evito sair á noite, aquela tranqüilidade que tinha aqui não tem mais. Deus tenha misericórdia da gente, as pessoas estão muito más, parece que o amor pelo próximo não existe mais.
Irmão vou procurar usar mais o computador, mandar mais notícias e também saber de você.

Manda um beijo e abraço para todos da família.

Sua irmã Desdêmona e André

Minha resposta do seu email:

Minha querida irmã Desdêmona,

Fiquei muito alegre por ter recebido notícias de você e do meu amigo André. Confesso a você que tenho pensado muito em vocês. Tenho tentado escrever alguma coisa com relação a nossa família, pensei não só em vocês mas, principalmente em nosso pai e na minha mãe. Fico até hoje pensando como o nosso pai passou todo esse tempo com a sua família e não deixou escapar nada que revelasse que ele tinha uma outra família. Fiquei muito emocionado ao saber também das preferências musicais do nosso pai. Em homenagem a ele ouvirei sempre músicas desses cantores. Tenho CD's de todos eles. Conversando com Lilian, minha irmã, que teve a sorte de conviver com a presença do nosso pai, ela me falou que ele gostava muito de ouvir Vicente Celestino e, na época ele tinha inclusive um caderno "Avante" e nele escrito por ele mesmo, letras das músicas que o cantor Vicente Celestino cantava. Lembra inclusive que a sua caligrafia era muito bonita.
Gostaria de saber o nome completo de sua mãe, pois quando escrevi sobre nossa família, sito sua mãe apenas pelo nome de Maria. Peço desculpas e gostaria de fazer a correção. Vou publicar no meu Blog, o seu email, para que todos vejam essas coisas bonitas que você escreveu sobre nosso querido pai. Se puder mandar, pelo menos mais uma foto mais recente do nosso pai, eu ficaria muito agradecido.
Aqui está tudo bem. A Fatima continua trabalhando muito, a Paulinha está em Campinas/SP, terminou medicina e está trabalhando e estudando para fazer prova para residência em clínica médica, a Adriana trabalhando muito e cuidado da criação da nossa linda netinha Malu e a Renatinha estudando. Termina esse ano o curso de Direito. Eu estou bem melhor. Continuo fazendo fisioterapia diariamente. A Lilian e o Pedro estão bem. Sua filha Daniela casou com o Leopoldo e também está ótima. A Fatima e a Rubia também estão bem, como também os seus filhos Julia e Rubem. Se você quiser ler o meu Blog, peça para o André entrar no site: www.bau-do-nicolau.blogspot.com e você poderá ler histórias que eu escrevi. Minha irmã, não desista de aprender a usar o computador. É muito bom! Tenho certeza que quando você pegar o rítmo, não vai querer deixar de usar nunca mais. Um grande abraço pra você e meu cunhado André.

Nicolau

Nicolau Cavalcanti em 13/09/2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

As noites na calçada da Rua São Domingos! Que maravilha que era!!!

Essas lembranças são as mais saudosas das lembranças, da época em que éramos quase adolescentes. O que queríamos mesmo era curtir a vida. Aproveitar aqueles momentos que na época tinha uma certa mistura de inocência e malícia! No bom sentido, é lógico. Tinhamos curiosidade e queríamos saber e entender de tudo. Quando chegava a noite a nossa Rua São Domingos acordava e se enchia de alegria. Começava realmente a viver! Praticamente em todas as portas das casas tinham moradores sentados na calçada, tomando um "arzinho" e conversando com pessoas da família ou com seus vizinhos ou, muitas vezes sozinho, descansando, pensando na vida, ouvindo o programa "a voz do Brasil" pelo rádio, fumando um cigarro após o jantar ou curtindo a ressaca como fazia nosso avô "Pipipa", esparramado em uma "espreguiçosa". Tinha também alguns casais namorando, sempre vigiados de longe, pelos pais. Alguns moradores mais discretos, observavam o movimento através dos "postigos" existentes na maioria das portas de entrada das casas.
Era muito bom.
Lá em casa não podia ser diferente. Todas as noites minhas irmãs sentavam na calçada, na porta de casa e ficavam conversando e ouvindo música num radinho de pilhas. Me lembro que um dos programas mais ouvidos na época, era "carrossel musical" e, era transmitido por uma rádio AM local. A Rádio Gazeta ou a Difusora de Alagoas. Realmente não me lembro exatamente da Rádio. Tinha um outro que se não estou enganado era "miscelânea sonora", ou coisa parecida, cuja Rádio que transmitia, eu realmente também não me lembro. Todos os dois programas, tocavam sucessos do momento, tanto da jovem guarda, da MPB e músicas internacionais. Junto com minhas irmãs, normalmente a Lourdinha, irmã do Francisquinho e a Eliane, irmã do Edeildo, costumavam participar dessas noitadas. Acompanhavam cantando as músicas tocadas no rádio e na rua todos ouviam. Era uma brasa, mora!
As vezes participava também eu e o Francisquinho que sabia tocar violão muito bem e passávamos a noite cantando, junto com as minhas irmãs e amigas. Quem participava às vezes, era o Tonho, irmão do Francisquinho e da Lourdinha. O Francisquinho e a sua irmã Lourdinha, gostavam muito de cantar em dupla, imitando a famosa dupla da Jovem Guarda, Leno e Lilian. Olha! Não que imitavam muito bem. Fazia a primeira e a segunda voz harmoniosamente. Como era bom! "Quando eu te conheci meu bem, não acreditei..." era um dos trechos da música que mais cantavam. A Dona Osa e seu marido Lourival, também gostavam de ficar na calçada com os filhos. Isso acontecia com Dona Neobel e Seu Francisco, Dona Sitônia e família, os nossos vizinhos Herbert e sua esposa Audinete, Dona Helena, sua irmã e seu irmão Sr. Oscar e muitas outras famílias. A conversa da turma mais antiga girava em torno dos últimos acontecimentos no estado, no Brasil e no mundo, como também conversas de família.
A nossa turma de marmanjos se reunia todas as noites, na esquina da casa da Dona Amélia, na mesma rua e, as brincadeiras se estendiam até altas horas. Não tinha quem não passasse por perto para que a turma não mexesse. Tinham duas irmãs que moravam pra bandas da Rua Sargento Jaime e, nós apelidamos as duas de "CILA" e "Catotinha". A "CILA" era devido aos seus grandes seios, que ela adorava exibi-los nos decotes das blusas que usava. Então fizemos uma comparação com uma Fábrica de Beneficiamento de leite que tinha esse nome. A "Catotinha" devido a sua estranha mania de andar "futucando" o seu Nariz. Seu Toledo, dono de uma venda na esquina em frente, era o que mais sofria com as nossas brincadeiras.
As brincadeiras na rua não se limitavam apenas a isso. Brincávamos de "garrafão", de "pular avião", de "pular corda", de "manja", de vôlei, de loto, de dominó, de "picadinho", de pedras, de "doidinho", de dama, ailás, falando desse jogo tínhamos um jogador de fama nacional na rua: o nosso amigo Miguel que na época namorava a Eva, irmã da Eliane, e muito mais jogos... Até "pedra na cabeça dos outros".
Enquanto isso a turma da esquina, não deixada passar nada. Fazia tanto barulho, que às vezes Dona Amélia, que morava só, na casa da esquina, reclamava, pedindo a turma para diminuir a algazarra. A turma diminuía o tom mas, não parava. Quem gostava também de reclamar e com razão, era Seu Toledo, dono de uma "Venda", em frente a esquina, na mesma rua. Morava sozinho na casa e dormia no primeiro andar. Era da janela que ficava bem próxima da esquina que ele reclamava. Baixinho calvo e de cor amarelada, era metido a brabo. Mas, bastava aumentar a voz e o coitado se tremia todo e começava a gagueijar. Era uma criatura maravilhosa. Reclamava e tinha como resposta ou uma vaia quando entrava, ou então uma pedrada na janela. Claro, era apenas uma "pedrinha". Muitas vezes um roleteiro passava vendendo roletes, e a gente pedia os nós da cana, chupava e o resto jogava na janela de seu Toledo. O coitado sofria com a nossa perturbação mas, gostava muito da turma. Era casado com Dona Renilva e tinha um casal de filhos. Mas, depois que se separou da esposa, vivia muito solitário e a sua companhia durante todo o dia, era realmente os amigos da turma. Sempre tinha alguém da turma, na "Venda" e, isso tirava um pouco da sua solidão.
Enquanto isso, na porta lá de casa, a turma da "luluzinha" aumentava. A Eva, irmã da Eliane também participava da "patota". O papo era sobre, jovem guarda, cantores, músicas, paquera, fofocas e muito mais assuntos. Enquanto isso, as horas se passavam e a turma mais velha começava a se recolher e se preparar para dormir. Sabíamos que isso, era um aviso dos mais velhos, alertando que não podíamos demorar muito na calçada. Chegava a hora da turma da "luluzinha" entrar e a rua aos poucos ia ficando deserta e só restava a turma da esquina. Os "locas" como eram chamados aqueles caras que gostavam de perturbar e, a nossa turma não ficava de fora desse conceito.
Bem! Tínhamos de dormir e a turma aos poucos também ia se dispersando e na maioria das vezes, chegava uma hora que tínhamos de entrar, pois se não entrássemos ficaríamos sozinhos. Muitas vezes toda a turma já tinha ido dormir e algum retardatário chegava na esquina. De repente ouvia-se gritos: Niel! Paulinho! Zezinho! E outros mais. Normalmente esses retardatários era o Geraldo "Cabeção", o Laurinho, o Missinho e o Equinho. Esses realmente gostavam de perturbar! Quando estava acordado, olhava por uma parte da porta, se desse, eu dava uma chegada por lá, mas não demorava. Era só pra saber das novidades.
Pois é minha gente! Éramos felizes e sabíamos. Pedíamos à Deus que esses momentos das nossas vidas, não acabasse nunca. Sentíamos a falta durante o dia desse nosso encontro noturno. Aliás, pra nós, toda hora era hora de curtir. Sinto muitas saudades daquela época. Às vezes, quando nos reunimos, todos agora sessentões, uns carecas, outros de cabelos brancos, outros de cabelos pintados, querendo ser novo, outros safenados, outros com algumas seqüelas, decorrentes de doenças própria da idade, nos divertimos muito relembrando as nossas aventuras e os nossos bons momentos vividos nas noites da Rua São Domingos.

Nicolau Cavalcanti em 09/09/2012

sábado, 1 de setembro de 2012

O Raio X do meu AVC!!!

Parece até brincadeira, mas o que aconteceu comigo, apesar de não admitir, mais cedo ou mais tarde, com certeza aconteceria. Minha saúde nunca foi das melhores nos últimos quinze anos. As minhas taxas apresentavam normalmente o colesterol e o triglicerídeo, acima do normal sempre que fazia meus exames periódicos para controle dessas e outras taxas. A minha pressão já era controlada através de medicamentos, uma vez que, de muito teimosa, sempre andava alterada e acima dos níveis normais. Fora isso, olha só o meu condicionamento físico: Nos últimos anos engordei bastante e cheguei a pesar mais de 100 kg. Engordei cerca de 30 quilos. Era sedentário e o meu peso começava a me perturbar: Algumas passadas a mais e, um palmo de língua pra fora! O coração, coitado, disparava e só faltava sair pela boca. Ficava pálido e suava frio, na maioria das vezes que fazia um esforço maior. Era uma sensação que me ocorria normalmente e, durava alguns poucos segundos e, me deixava sempre de orelha em pé! Não tinha uma alimentação saudável. Aliás, minha alimentação era péssima! Não só pela quantidade mais também pela qualidade: O que colocasse na mesa eu traçava. Era assim nas três refeições diárias, sem contar o que comia durante todo o dia nos intervalos das refeições. Acredito que agia dessa maneira por ser também uma pessoa muito ansiosa e buscava resolver essa ansiedade, na alimentação. Comia compulsivamente! Nos finais de semanas a situação ficava totalmente fora de controle. Gostava de tomar “uma cervejinha” com os amigos, na maioria das vezes em casa, sempre acompanhada de uma boa música. Não podia faltar também àquele tira-gosto que, só mesmo a minha querida sogra, preparava. Aí era que morava o perigo! Porém, o mais terrível de todos os males e que não conseguia controlar, era realmente o diabo do estresse. Esse sim, me atormentava e me corroía o juízo diariamente. Era no transito, em casa, no trabalho... Enfim: Vivia constantemente estressado! Com os nervos a flor da pele! Qualquer susto ou raiva que tivesse, ficava com o meu corpo todo tremendo, da cabeça aos pés.
Apesar de tudo que já citei acima, e de ter sido alertado, várias vezes pelo meu cardiologista, que sempre quando ia pra ele, me dizia: “Nicolau! se você não cuidar da sua saúde, poderá sofrer um enfarto ou até mesmo um AVC e, que com certeza, trará sérios problemas pra você!". Lamentavelmente, nunca dei ouvidos. Na minha equivocada avaliação, não acreditava que poderia acontecer essa tragédia comigo. Com certeza esse foi o meu grande erro, como também da maioria das pessoas.
No dia 7 de setembro de 2012, completei três anos que sofri um AVC. Minha vida mudou radicalmente. Primeiro foi o grande susto inicial. Pegou de surpresa, não só a mim mas, principalmente toda a minha família, amigos e colegas de trabalho. Depois foi a difícil adaptação a nova vida. As seqüelas deixadas pelo AVC, me tiraram os movimentos dos membros do lado direito do meu corpo. Passei dois meses utilizando cadeira de rodas. Para recuperar os movimentos dos membros afetados, faço até hoje fisioterapia, diariamente. A alimentação foi outro item que mudou e, mudou para melhor. Dos meus cem quilos que tinha quando sofri o AVC, perdi mais de vinte cinco e venho mantendo meu peso na faixa de oitenta quilos. As minhas taxas que só viviam alteradas, ficaram todas dentro das faixas consideradas normais. Enfim, melhorei em tudo e, me sinto mais saudável. Claro que a minha vida não está cem por cento como gostaria que estivesse. Sinto falta das minhas farras nos domingo à tarde. de dirigir. Eu adorava dirigir. De tomar banho de mar, ainda não tive coragem de dar um mergulho. De sair no bloco "Pinto da madrugada". Não sou muito chegado a carnaval mas, desse bloco eu gostava. Encontrava meus amigos de infância, meus colegas de escola e faculdade. Mas o que realmente me fez e me faz muita falta, é não poder até hoje, colocar nos braços, a minha querida netinha. Me lembro que ela adorava. Passeava com ela nos braços e, assim que saía para rua, ela logo esticava o seu bracinho e com seu lindo dedinho, apontava na direção da praça ou então na direção da rua, onde tinha onde havia uma casa com uma ninhada de gatos. Ela ficava tão satisfeita e, com um seu lindo sorriso inocente, olhava para mim como se tivesse agradecendo. Enfim! essas e outras coisas tive de superar. Graças a Deus estou vivo para contar essa e muitas outras histórias. Tenho certeza que, com a minha dedicação, o apoio da minha família e dos amigos e, principalmente pela graça de Deus, conseguirei superar todos os obstáculos.
Nicolau Cavalcanti em 01/09/2012