terça-feira, 31 de julho de 2012

A Venda de Seu Joaquim na rua onde eu morava! Com todo respeito! Era bom demais!!!

Funcionava na Rua Xavier de Brito, esquina com a antiga Rua São Domingos, no Bairro do Prado. Era o ponto de encontro da velha guarda que morava na redondeza e gostava de tomar uma "caninha", durante os anos 60 e boa parte dos anos 70. Ali frequentava todo tipo de gente. Desde Doutores até figuras folclóricas que andavam ou moravam pela redondeza, como o Dr Freitas, Seu Oscar Bringué, e muitos outros. Eram pessoas humildes e estavam sempre presentes na Venda. O Tio Zé, tio do nosso amigo Missinho, também tomava uma por lá. Tinha inclusive um que andava puxando uma cadela vira-lata que atendia pelo nome da esposa de um Senador da época. Segundo conta os mais antigos, esse Senador, mandou dar uma surra no coitado, porque ele quando bebia, andava espalhando que o nobre Senador era "corno". A sua vingança foi colocar o nome da esposa desse Senador, na sua pobre cadelinha. Se não me engano, era chamado de Hélio Doido. Meu Avô por parte de mãe, o Seu Elpídio, o vovô "Pipipa", gostava de tomar umas "caninhas" e também frequentava o local. A grande vantagem era o famoso "prego"! a caderneta de seu Joaquim era bastante pesada pela quantidade de prego" que existia. Até eu fazia parte dessa lista. Muitas vezes pedi até dinheiro pra pegar o ônibus para ir estudar. Seu Joaquim e sua esposa e filha eram pessoas muito generosas.
Seu Joaquim, era um Senhor gordo, baixo, de meia idade, bem claro, bem humorado, meio calvo e os poucos cabelos que restavam na sua cabeça eram todos brancos e sempre cortado bem baixinho. Andava normalmente com a camisa aberta. Era uma pessoa muito legal e gostava muito de ajudar as pessoas. Morava na mesma casa onde funcionava a Venda, com sua esposa, uma filha e dois netos.
A Venda era muito simples e só vendia o básico: Arroz, açúcar, feijão, café, farinha e  macarrão que na época, era acondicionados em embalagens de papel. Tinha também sabão em barras, que na época, as barras eram grandes e ele vendia os pedaços, o querosene que era vendido o litro ou a quantidade que o freguês pudesse pagar, bananola, nêgo-bom, confeito, um tipo de lanche preparado com biscoitos e doce de goiaba, chiclete ping-pong, refrigerantes, etc...
A Venda era um ponto de encontro das pessoas da redondeza que se reuniam para conversar ou tomar uma. O tira-gosto, ou o sujeito levava de casa ou então comia o que tinha por lá. Vendia a cachaça comum, como a a Pitu, a Mucuri e outras vendidas na época. Vendia também a cerveja e o cigarro que era vendido em maço ou então no retalho. Um, dois, três... Quantos o fregues quisesse.
Vendia também algumas misturas que ele mesmo produzia que era de arrombar o estômago de qualquer cristão. Entrava rasgando! Quem não estava acostumado com tamanho bombardeio, se dava muito mal! Tinha uma tal de “raiz de pau”, que era a cachaça com uma mistura de raízes que ele comprava no mercado e só depois de apurada era que estava no ponto para ser ingerida. Tinha a cor cinza escura e muitas pessoas só gostavam de tomar dela. Tinha uma outra que era a cachaça misturada com folhas de figo e que também tinha de ser apurada. Quando apurada ficava com uma cor esverdeada, muito bonita, por sinal. Estava então no ponto. Era também muito apreciada pela freguesia. Lá em casa tinha um pé de figo e Seu Joaquim sempre pedia para eu levar folhas do pé de figo para preparar mais dessa mistura, pois a saída era grande.
Só tinha um porém: só bastava uma lapada para um "bebum" sair soltando "peido", pra todos os lados, sem parar! Tinham alguns inveterados que passavam pela porta lá de casa como estivessem disparando uma metralhadora! Faziam isso na maior naturalidade que nem pareciam que estavam sentido nada. Eram assinantes assíduos e todos dias estavam tomando uma boa "lapada" na Venda do Seu Joaquim.
Eu gostava sempre de parar por lá para ouvir a conversa das pessoas mais velhas pois, apesar de beberem bastante, tinham as suas histórias pra contar. Gostava também de ouvir as resenhas de algumas figuras folclóricas, quando lá se reuniam. Ríamos pra se acabar! O Dr. Freitas, andava sempre vestido de um conjunto de tecido caqui. A garotada gostava de brincar com ele, pois o mesmo tinha a mania de quando bebia, responder quando perguntado: Dr. Freitas é o que? Ele respondia: "Dr. Freitas é um cachorro!!!". Época maravilhosa!

Nicolau Cavalcanti em 31 março de 2012

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Bar Suez: "que tal uma cuba libre!"

Funcionava na esquina da Rua do Livramento com a Rua Dias Cabral, no Bairro do Centro, quase em frente ao Clube Português de Alagoas ou simplesmente "A Portuguesa", como era mais conhecido, nos anos 70. Toda festa que tinha na Portuguesa, a nossa turma se reunia no Bar Suez pra tomar cerveja ou a famosa "cuba libre", que era run montilla/bacardi, coca-cola, limão e bastante gelo. Tomávamos várias doses dela até ficármos no ponto! Tomávamos também até cachaça! Dependia da grana. Aí era só chegar à porta da Portuguesa e esperar uma oportunidade para "maiar", isto é: entrar sem pagar! Na maioria das vezes conseguíamos, pois na época um grande amigo nosso era o Presidente do Clube e como conhecíamos ele e seus irmãos, ficava muito mais fácil, mas, mesmo assim, às vezes ficávamos "a ver navios" e partíamos para outra ou mesmo pra casa! O Bar era muito freqüentado pela turma jovem. Ali esperamos pra ver a apresentação de vários conjuntos e cantores famosos da época da "Jovem Guarda", tais como, Renato e seus blue caps, Tim Maia, The Fevers, etc... Como também para participar das festas promovidas pelo clube, embaladas por conjuntos da terra, sendo o mais famoso o "LSD", as iniciais de Luz, Som e Dimensão, onde tocava bateria o Beto Batera, muito conhecido em Maceió e depois teve a oportunidade de tocar com vários cantores conhecidos em todo Brasil e, também cantava o nosso famoso cantor e compositor Djavan. O carnaval era também motivo de de lotar o Bar, aguardando o início dos tradicionais bailes de carnaval.
O Bar tinha um salão principal onde parte dele tinha um balcão em "L", onde ficavam as pessoas que atendiam aos clientes. O balcão servia também como local onde os clientes podiam beber e até degustar vários tira-gostos. Tinham uns bancos altos e fixos no piso encostados no balcão e. Distribuídos em toda sua extensão para acomodar os clientes que tinham a sorte de se sentar. Tinha também algumas mesas. Existia um outro salão cujo acesso era feito por uma meia porta, do tipo vai-vem, onde tinha também várias mesas. Quando tinha festa na Portuguesa, não dava pra ninguém, tinha mais pessoas de pé do que sentadas. Não me lembro ao certo quando e porque o Bar Suez acabou. Não sei se na época a Portuguesa já não mais funcionava como clube ou foi a situação da época que fez com que isso acontecesse.
Esse Bar, marcou época nas nossas vidas. A turma toda quando tinha festa ou qualquer show na Portuguesa, estava lá no Suez tomando umas e outras e conversando "miolo de pote". Lá se reuniam várias turmas de vários Bairros, claro, quando tinha festa na Portuguesa. Às vezes a temperatura esquentava, mas nada que a cerveja não esfriasse. Lá também nessas festas, apareciam figuras folclóricas e muito engaçadas, todas estudantes e nossos amigos e faziam a festa antes da festa começar! Hoje no local funciona uma loja de eletrodomésticos.

Nicolau Cavalcanti em 30/07/2012

domingo, 29 de julho de 2012

Bar Santa Quitéria: "minha Santa! Quantas recordações!!!"

Localizado na Rua Santo Antonio, em frente à Rua Professor Loureiro, no Bairro da Ponta Grossa. Na entrada, no salão principal, tinha algumas mesas e um balcão onde ficava uma pessoa do Bar que atendia aos clientes. Em cima do balcão, tinha um fiteiro, uma espécie de armário, todo de vidro, onde haviam expostos, vários tira-gostos já prontos, como: Peixe frito, torresmo, ovos cozido colorido, etc... O Bar não era muito freqüentado pela nossa turma, mas Eu, Biu Bomba, Beto Torreiro e Vestibular, todos faziam parte da nossa turma, gostávamos de dá uma passadinha por lá, pra tomar uma cerveja para "lavar a prensa", quando voltava das bandas do Vergel do Lago, onde íamos dar umas voltas, ou de outro lugar qualquer. Às vezes ia sozinho, mas não me sentia muito bem. Ficava muito impaciente. Tomava uma cerveja e me mandava! O Bar tinha vários ambientes, isto é, a sala e quartos eram utilizados como Bar. Era muito freqüentado pelas pessoas que moravam na redondeza e por casais que iam tomar cerveja, ouvir música e claro, namorar. O local era estratégico, pois todo o movimento de pessoas indo e vindo do Vergel do Lago e da Ponta Grossa, passava pela porta do Bar.
Um detalhe muito curioso e no mínimo pitoresco, era o sanitário “unisex”, usado pelos homens e mulheres e que ficava no lado de fora ao lado do Bar e a porta abria para rua. Na maioria das vezes tinha gente esperando na fila pra tirar "a água do joelho", claro, as mulheres tinham prioridade! A noite, mijar não era problema. Mas durante o dia, a coisa pegava: A rua é até hoje um corredor de ônibus e sempre tinha alguns gaiatos que quando passavam de ônibus pelo Bar e tinha gente na fila da "mijada", aí os gaiatos gritavam: "mijão!", "cagão!", vai fazer em casa! E aí repetia o refrão!
Hoje só resta a frente da casa, acredito eu, que o resto do imóvel deve ter sido demolido. As duas portas da frente do Bar, como também a do banheiro, estão todas fechadas com alvenaria muito mal assentada só para tapar os vãos.
Confesso que tudo que fez parte da minha época de adolescência ou mesmo já adulto, sempre que me recordo é como voltasse no tempo e estivesse nesse momento vivendo aqueles bons tempos. São coisas, até sem a mínima importância se contada hoje. Mas, vividas na época, eram muito emocionantes.

Nicolau Cavalcanti em 29/07/2012

Restaurante Graci: "uma maravilhosa e saudosa recordação!!!"

Funcionava ao lado dos fundos do Cine Ideal, na Rua Parque Rio Branco, no Bairro da Levada, e era uma das várias opções que tínhamos, quando terminávamos uma farra e sobrava uma graninha a mais, para tomarmos a saideira e forrássemos a barriga, na década de 70. Raramente íamos lá, para fazer uma farra. O Restaurante tinha um cardápio bastante variado que ia desde a suculenta sopa com pão francês, a macarronada bolonhesa, de lombo e com ovos, também conhecido como bife do olhão. Tinha uma variedade de pratos mais sofisticados e que a gente só via mesmo no cardápio. Na entrada tinha três portas grandes e largas, a principal e uma de cada lado, que embora ficassem abertas, só para ventilar o ambiente, tinha em cada, uma espécie de cavalete que servia de proteção e eram confeccionados em eucatex, daquele todo furadinho, pintados na cor amarela, se não estou enganado e, tinha o nome do Restaurante Graci escrito. Tinham aproximadamente 1,50 metro de altura e na largura da porta. Era uma espécie de tapume para não mostrar o interior do Bar. Ao entrar no recinto, tínhamos o Restaurante propriamente dito: um salão grande com várias mesas bem dispostas, todas forradas e era o local mais escolhido pelos clientes que iam ali fazer qualquer tipo de refeição, tomar uma cerveja bem gelada ou um drinque qualquer. Do lado direito, ficava o balcão, o bar e cozinha. Isto é: O atendimento. No final do salão o WC masculino. Do lado esquerdo, tinha um ambiente reservado, separado por uma meia porta, tipo vai e vem daquelas que aparecia nos bares, nos filmes de cowboy, e no final o WC feminino. Tinham algumas figuras que moravam na redondeza e que eram freqüentadores assíduos do Restaurante. Assinavam o ponto diariamente.
Os garçons eram também conhecidos pela turma mais antiga que freqüentavam o Bar e cada um tinha um apelido e usavam, se não estou enganado, camisa branca, calça preta e gravata borboleta. Aliás, conversando recentemente com um amigo que conheci numa academia onde praticamos exercícios, ele que teve a coragem de ler alguns artigos do meu Blog, lendo esse artigo, me lembrou de um garçom cujo apelido era "Pescoço". Era um sujeito baixo, gordo, cabelos grisalhos penteados pra trás com ajuda de brilhantina e tinha um andar que mais parecia um pinguim. Era uma criatura muito legal e sempre alegre. Lembrou esse meu amigo, que o nosso amigo "Pescoço", quando via a sua turma já sabia e já perguntava de longe: quantas macarronadas à cavalo vão sair?
Certa vez, Eu, Severino Guaxinim e o Negrão Sivanildo, não sei por que cargas d’águas, estávamos tomando uma cerveja no Bar, quando chegou no recinto uma pessoa que tínhamos conhecido tempos atrás e que era dono de um "pega bebo", no mercado existente em frente ao Restaurante, ao lado dos trilhos do trem. Era uma biboca da peste! um verdadeiro “buraco”. Tínhamos tomado, certa vez, umas cervejas no seu “barzinho”, se é que assim podíamos chamar aquela "espelunca". Lá encontrávamos todo tipo de gente, desde o alcoólatra inveterado até os maconheiros famosos da época. O lugar era tão pequeno que ficávamos do lado de fora e o atendimento era feito por um balcão muito estreito, onde dividíamos o espaço cômodos os "clientes". O sanitário era os trilhos do trem. Realmente entrávamos em cada "fria" danada. Entrávamos e saíamos numa boa. Graças a Deus!
O Sujeito chegou ao restaurante, com a cara de quem já tinha tomado "umas quatro", nos reconheceu e pediu para sentar na nossa mesa. Argumentou que tinha acabado de fechar o seu "estabelecimento" e estava querendo tomar uma geladinha e, lá não tinha coragem de tomar. Passava o dia no batente naquele "buraco" e precisava respirar. Claro que concordamos e aí continuamos a tomar nossa cerveja e bater aquele tradicional papo. Estávamos sem dinheiro para continuar a farra e além do mais já estávamos totalmente encharcados de cerveja. Não descia nem mais um gole e resolvemos avisar para o sujeito que iríamos pedir a conta pagar a nossa parte e parar. O sujeito aborrecido falou: "quem deixasse de beber ou fosse embora, pagava a conta". Ficamos sem saber o que fazer. Com medo de parar, pois o sujeito andava com um diabo de uma “capanga” bem grande era moda na época e, não sabíamos se tinha alguma arma escondida na dita cuja. Estávamos realmente sem dinheiro para continuar a farra. Bem! estávamos no mato sem cachorro! se saíssemos teríamos que pagar a conta e, se ficássemos, só Deus sabia o que nos esperava, pois o sujeito além das cervejas que tomamos pediu vários pratos de tira gostos e disse que a conta era dele e se tivéssemos de pagar a conta o dinheiro que tínhamos não dava.
Montamos então um esquema para nos livrar do cara: Fingir que estava bebendo e se mandar quando ele fosse ao banheiro. Aí aconteceu o pior: Lembro de que tentando me livrar da cerveja, virei o copo por baixo da mesa e parte da cerveja caiu em cima do sapato do cidadão. O sujeito espantado, perguntou o que estava acontecendo e expliquei que uma mosca tinha caído no meu copo de cerveja e lamentavelmente tive de jogar o "liquido precioso" fora. Para resumir a história, combinamos com o garçom e pagamos a nossa parte da conta. Quando o dito cujo deu uma chance nós nos mandamos. Passamos um bom tempo sem passar pela redondeza com medo de se deparar com o tal sujeito.
Outra vez eu e o meu colega e grande amigo Severino Guaxinim tínhamos terminado uma farra, não me recordo onde, já estávamos "pra lá de Bagdá" e resolvemos tomar uma sopa para "forrar a pança" e levantar a nossa moral. Escolhemos então o Restaurante Graci. O Guaxinim não conseguia nem falar direito. Estava bêbado "lavado". Eu também estava "triscado". Chegamos ao Graci não sei como. Entramos, sentamos em uma das mesas que tinha encostada na parede e pedimos dois pratos de sopa e uma cerveja para lavar a prensa. O Guaxinim assim que sentou, se debruçou sobre a mesa e se apagou. Dormia que nem uma criança! Não tinha quem fizesse o baixinho acordar. Empurrei pra cá, pra lá e nada. A cerveja não descia mais! Cada gole entrava "rasgando". A sopa chegou e nada do Guaxinim acordar, por mais que eu tentasse. Pedi ajuda ao garçom e depois de várias tentativas conseguimos desperta-lo. Mas o coitado estava tão bêbado que mal conseguia ficar sentado. A escolha da mesa encostada na parede, foi providencial. Coloquei o prato de sopa perto dele e começamos a tentar tomar a sopa. A sopa estava muito deliciosa mas já estava começando a esfriar. O Severino nem conseguia levantar a colher para tomar a sopa e aí, de repente, deu uma cochilada maior e meteu a mão no prato e derrubou foi tudo. Foi sopa e prato pra todos os lados. Foi uma meladeira danada, caiu sopa na mesa, em cima do coitado e mesmo assim o Guaxinim não despertou e só fazia mesmo era resmungar. Pedi mais uma vez ajuda ao garçom e com muito sacrifício conseguimos “limpar tudo”.
Esperei mais um bom tempo e aí consegui mais uma vez despertá-lo. Paguei a conta e saímos andando em ziguezague, um tombando para um lado e o outro para o outro. Deixei o Guaxinim em casa e depois parti sozinho pra minha. Graças a Deus, consegui chegar em casa, são e salvo, mas não sei como! Eu e meu amigo Guaxinim aprontamos muitas. Deixamos muitas vezes os nossos familiares muito preocupados pois muitas vezes saíamos nas sextas-feiras e só voltávamos na segunda.

Nicolau Cavalcanti em 29/07/2012

sábado, 28 de julho de 2012

Bar das Ostras: " a camarãozada era uma maravilha! Quem comeu, comeu! Quem não comeu, não come mais!!!"

Funcionava no seu início, no bairro do Vergel do Lago e o acesso era feito entrando na Rua Balbino Lopes, ao lado do Colégio Rui Palmeira e seguindo em frente, chegávamos à beira da lagoa Mundaú, onde em um dos imóveis funcionava o Bar. Na frente do Bar, tínhamos um belíssimo visual da lagoa sem a poluição de hoje, pescadores com suas canoas arremessando as suas tarrafas. Vários currais(espécie de armadilha para pegar peixes) montados pelos pescadores. O sururu retirado da Lagoa, é uma excelente iguaria e também era servido no Bar. Completando a linda paisagem, via-se ao fundo a parte alta de Maceió. Era realmente uma paisagem maravilhosa.
Depois de muito tempo funcionando nesse local, o Bar se mudou para a Rua Teonilo Gama no bairro do Trapiche da Barra. Mas sem aquele maravilhoso visual e sem aquele ambiente aconchegante, na minha opinião, perdeu muito a sua originalidade dos velhos e bons tempos de antigamente. Mas a camarãozada não perdeu a sua fama nem o seu sabor. Raramente íamos lá! Além de distante, às margens da Lagoa Mundaú, o preço sempre foi salgado, pra nós que na época éramos estudantes. Mas, pelo menos uma vez no ano tomávamos uma cervejinha por lá e degustávamos além dos vários e deliciosos tira-gostos, não podia faltar aquela famosa e deliciosa camarãozada, pra fechar com chave de ouro, a nossa brincadeira.
A peixada também era excelente. Aliás, todos os pratos ali servidos, eram apreciados não só por nós nativos, mas principalmente pelos turistas que nos visitavam e tinham o privilégio de conhecer o Local. Era realmente um Bar de referência em se tratando de pratos preparados à base de frutos do mar, principalmente pela sua camarãozada, cuja receita era guardada em segredo pela família.
O Bar ficou imortalizado pela canção "Maceió", escrita e cantada pelo Rei do baião, Luiz Gonzaga: “As noitadas felizes nas ostras...”. Era um verdadeiro cartão postal da culinária alagoana. Era um local simples, mas ao mesmo tempo um ambiente muito aconchegante. O Bar acabou no ano de 2002, quando a sua dona faleceu e a família se mudou para outro estado.
A Sococo, Industria alagoana de beneficiamento do côco, ao completar 45 anos, em 2011, adquiriu os diretos sobre a receita do "Camarão do Bar das Ostras" junto a Família e doou ao Estado de Alagoas, com o propósito de solicitar o seu tombamento como Bem Imaterial, status do Patrimônio Histórico e Cultural recentemente criado a nível nacional e também em várias unidades da Federação. Em 22 de julho de 2011, quando a Sococo completou 45 anos, protocolou o pedido de tombamento do Camarão do Bar das Ostras como Patrimônio Imaterial de Alagoas.

Nicolau Cavalcanti em 28/07/2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Restaurante do Português: "o bacalhau à portuguesa era uma delícia!!!

Funcionava após a Praça Pingo D’água, no inicio na Rua Riachuelo, no Bairro do Trapiche da Barra, no início da estrada de acesso ao Bairro do Pontal da Barra. Era uma pequena casa, isolada das demais com uma pequena varanda na frente e de um dos lados, e era toda pintada, se não estou enganado, na cor azul. Um lugar bastante rústico e mais parecia um “pega bêbado”. Mas tinha uma comida excelente! Tenho boas lembranças de quando freqüentava o Restaurante, no final dos anos 70.
Ali, se degustava os mais variados pratos, feitos a base de bacalhau e o mais famoso era o "bacalhau a Portuguesa". Lá era servido vários tira-gostos como também outras opções de pratos para o almoço. Era muito freqüentado, principalmente nos finais de semana. A comida era excelente! Alias! Tudo ali era delicioso!
Fui algumas vezes com minha esposa quando ainda éramos namorados, tomar uma cervejinha e saborear o excelente tempero português. Quase ninguém se lembra desse local, mais eu tenho certeza de que existia. Passei algumas vezes pelo local para ver se ainda existia alguma coisa que pudesse lembrar o Restaurante, mas tudo ali está muito mudado e nem a casa existe mais. O Restaurante era administrado por um casal de Português, muito gentil e educado! Gostaria que se alguém se lembra desse Restaurante, que faça algum comentário, pois isso me fará atualizar e corrigir qualquer erro que por ventura, tenha cometido.

Nicolau Cavalcanti em 27/07/2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Caldinho do Vicente: "de feijão ou sururu? Os dois eram maravilhosos!!!"

Funcionou por muito tempo na esquina da Rua Epaminondas Gracindo com a Rua João Camerino, no Bairro da Pajuçara no local onde hoje funciona o Hotel Ouro Branco. Se não estou enganado! Lá se tomava o melhor caldinho de feijão e de sururu da redondeza. Era muito conhecido e muito freqüentado pelo moradores da Ponta da Terra e da Pajuçara. O Bar ficava num local excelente. Muita gente que ia ou voltava da Praia de Pajuçara e, passava em frente ao Bar, tinha de dá uma paradinha e tomar uma lapada de aguardente ou mesmo uma cerveja bem gelada, acompanhada de um dos deliciosos caldinhos que eram vendidos lá. O Bar era sempre cheio aos sábados e domingos. Colocavam até mesas na calçada, para não deixar de atender os seus clientes, que iam ao Bar, atraídos pelos deliciosos caldinhos. Se não estou enganado a casa foi vendida e o Bar passou a funcionar numa rua ao lado da esquina onde até hoje funciona o Galeto Hong Kong, numa sala muito pequena e apertada de várias outras existentes. Os caldinhos não perderam o sabor, continuavam com o mesmo sabor. Estive lá algumas vezes e, em uma delas levei meu cunhado, Dr. Pedro Nascimento, que morava em Porto Velho e estava passando férias aqui em Maceió. Tinha terminado de arrumar as malas e pronto para voltar para Porto Velho, como tínhamos um tempinho sobrando até o horário do vôo, sugeri que tomássemos a saídeira para fechar com chave de ouro, o término de suas férias. Como morava na Pajuçara, sugeri que fôssemos até o Caldinho do Vicente, já que o Pedrinho gosta muito de sururu e, um caldinho como despedida caía na medida. Resultado: Pagamos a conta e saímos em disparada. Levamos um tremendo "carão" da minha irmã, sua Esposa, pois quase que não chegaram a tempo de embarcarem no vôo para Porto Velho. Foram um dos últimos a chegar. Mas, graças a Deus, tudo terminou bem e, eles embarcaram com muita saudade de Maceió. O Pedro deve ter chegado em Porto Velho ainda com o gosto do caldinho de sururu na boca! Não sei e Bar ainda funciona mas, só sei que os caldinhos de feijão e sururu eram maravilhosos!

Nicolau Cavalcanti em 26/07/2012

Dia 07 de setembro de 2009! "o dia que nasci novamente e estou aqui para contar a história!!!"

Era um feriado prolongado. No dia anterior em que fui acometido de um AVC, um domingo ensolarado, saí com minha esposa e minha filha mais nova pra almoçar. Escolhemos um restaurante mais próximo de casa, pois era um fim de semana prolongado e as estradas estavam muito movimentadas. Fomos então ao Restaurante Carne de Sol do Picuí, localizado na Avenida da Paz, no Centro de Maceió. Lá é servida a carne de sol mais deliciosa de Maceió. Ao chegarmos ao restaurante, tivemos de aguardar um pouco, pois todas as mesas estavam ocupadas em virtude da grande quantidade de turista que começavam a chegar nessa época em Maceió. Situação que não gosto de enfrentar. Mas não demorou muito e já estávamos sentados à mesa fazendo o nosso pedido. Pedimos para o almoço, um prato delicioso, claro! Com a famosa carne do sol do Picuí.
Enquanto esperávamos o almoço sair, tomei umas duas cervejas com minha esposa, com alguns deliciosos petiscos servidos na mesa pelos vários garçons, que faziam esse trabalho. Comecei a me empolgar e pedi então, uma dose de uma boa cachaça mineira. Não sou acostumado a beber cachaça, mas lendo o cardápio, vi que ali servia cachaça mineira, então resolvi experimentar. Ao tomar a dose, senti que ela entrou como se diz no popular: “Rasgando”! Mas nada que me deixasse preocupado. Bem! Almoçamos! Diga-se de passagem, muito bem! A comida estava deliciosa! Não só a carne, mas também todos os acompanhamentos!
Ao voltar para casa, como era feriado no dia seguinte, 07 de setembro, chamei meu cunhado, que é meu vizinho e que já estava tomando "uma" e sua casa e, então continuamos bebendo até "umas horas"! Claro, ouvindo uma boa música, conversando “miolo de pote” e beliscando “qualquer coisa”, como petisco.
Terminada a farra, isso lá por volta das 19:00 horas, tomei um bom banho e como era de praxe, fiz um lanche reforçado e logo que terminei, caí na cama. Não esperei nem a comida assentar no estômago. Dormi que nem uma “pedra”! Confesso que até então, não tinha sentido nada que me chamasse atenção a não ser o meu ronco que já era alto por vida e, quando bebia não tinha que agüentasse! Minha esposa passava a noite me acordando e reclamando que não conseguia dormir. O pior era que ela tinha razão. No outro dia, 07 de setembro, acordei por volta das 08:30 horas com vontade de ir ao banheiro tirar “a água do joelho”! Sentei na cama e logo que sentei, senti que minha cabeça estava inclinada para frente, uma saliva escorria pelo canto direito da boca e também fazia uma espécie de som como se estivesse roncando. Não conseguia parar com aquilo, mas nem me passou pela cabeça, em momento nenhum, que eu estava sendo vítima de um AVC ou qualquer outro tipo de enfermidade. Levantei da cama e minha cabeça estava tão inclinada para frente que ao caminhar, dei uns três a quatro passos e o meu óculos caiu. Tentei pegar com a minha mão direita e, mais por mais que tentasse não conseguia. Era como eu tivesse perdido o controle do meu braço e da minha mão. Chamei um belo de um palavrão e peguei o dito cujo com a mão esquerda, pois a essa altura, não conseguia mais segurar a urina na bexiga.
Caminhei rapidamente para o banheiro, fechei a porta por dentro, pois era uma mania errada que tinha e tirando rapidamente o pijama, fui direto sentar no sanitário, pois já tinha começado a urinar sem conseguir controlar essa vontade. Situação essa, que não era comum para mim. Sentado no sanitário, observei que os sintomas permaneciam os mesmos: Cabeça baixa, babando e roncando. Continuava sem saber o que estava acontecendo comigo. Não passou jamais pela minha cabeça, que estava tendo um AVC. Resolvi então matar minha curiosidade e olhar no espelho se alguma coisa estranha estava acontecendo com minha cabeça, pois apesar de tudo, ainda não tinha perdido os movimentos dos membros do lado direito do meu corpo. Se realmente tinha, ainda não tinha percebido. Pelo menos essa era a sensação que tinha. Ao fazer o movimento para me levantar, apoiando os pés no chão, aconteceu então a grande surpresa: Levei uma tremenda de uma queda! Mesmo assim, ainda não tinha me tocado que tinha sofrido um AVC. Só quando, ao tentar me levantar, senti que realmente o lado direito do meu corpo estava sem qualquer movimento e que tinha realmente sofrido um AVC. Aí sim, senti que o meu caso era sério e teria de pedir ajuda, pois apesar do esforço para me levantar, não conseguia de jeito nenhum. Estava prostrado no chão, muito assustado com aquilo tudo que acontecia comigo e, a princípio, sem saber como faria para pedir socorro e me livrar daquela situação.
Ouvi a voz de minha esposa no nosso quarto e tentei chamá-la. Quem foi que disse que conseguia falar claramente qualquer palavra? A voz estava totalmente embolada! Já estava muito assustado e nervoso! Fiquei ainda mais assustado, quando notei que até isso, não conseguia fazer. E agora! Murmurei mais alto algo parecido com o nome dela, pedindo ajuda e ela me respondeu perguntando se eu já tinha começado o dia com minhas brincadeiras! Antes fosse! Ela ainda não tinha notado de que algo errado estava acontecendo comigo. Insisti ainda mais alto ainda e foi aí que ela com a voz assustada, me perguntou: Nicolau! Nicolau! Está tudo bem com você? Como não tinha como fazer com que ela entendesse o que estava se passando comigo naquele momento, pois a voz não ajudava, a coitada então começou a chorar e batendo repetidamente na porta, implorava para que eu abrisse a mesma. Tentou arrombar a porta e como não conseguia, correu para o quarto vizinho e chamou a nossa filha mais nova, a Renatinha, que ao ver a mãe naquele estado, já entrou no meu quarto, aos prantos! Aí a situação piorou ainda mais! As duas choravam muito e, nada resolviam.
Como já tinha consciência da minha situação e o sangue nas veias já tinha esfriado, senti que com calma poderia tentar passar alguma informação para tentar ajuda-las resolver esse problema, pois apesar de tudo, estava lúcido e não tinha sofrido qualquer tipo de lesão na queda. Então falei calmamente para as duas: “Prestem atenção! Sofri um derrame, levei uma queda, mas estou bem! Só não posso me levantar! Chame o seu irmão para arrombar a porta do banheiro e ligue para o SAMU para enviar uma ambulância para me socorrer e me levar para o hospital”. Creio que entenderam o meu recado, pois rapidinho, não só seu irmão estava tentando abrir a porta, como também vários vizinhos que moram nos prédios em frente a nossa casa, que ouviram minha filha chamando o seu tio e chorando aos prantos, desceram e também começaram a ajudar. Enquanto isso, meu cunhado fez um furo na porta próximo ao ferrolho por onde minha esposa colocou a mão e, eu mesmo caído, orientei como ela deveria fazer com a mão para abrir o ferrolho. Em seguida me colocaram na cama e me vestiram uma roupa para ir para o Hospital. Chorei bastante depois que me retiram do banheiro, a medida que ficava mais claro na minha mente a minha situação. Graças a Deus! A SAMU chegou! Vou contar uma verdade: Espero que ninguém nunca precise utilizar a SAMU, mais fiquei impressionado com a rapidez e o pronto atendimento do pessoal! Estão todos de parabéns! Fizeram todos os procedimentos de praxe, para o meu caso e em menos de quinze minutos já estava no hospital Arthur Ramos, que fica a menos de cinco minutos de minha casa recebendo os primeiros socorros da equipe de plantão. Gostaria de abrir um parêntese e agradecer a equipe da SAMU e a todas as pessoa que junto com a minha família me socorreram. Foram fundamentais!
Numa primeira avaliação foi constatado realmente que tinha sofrido um AVC e que a minhas condições vitais eram boas e que não precisaria ir para UTI. Ufa! Menos mal! Colheram sangue para alguns exames de rotina, aferiram minha pressão e por fim, me deram alguns remédios.
Passei o resto da manhã num ambulatório em observação e no início da tarde fui para um apartamento. Foi muito bom, pois ficamos mais a vontade eu e minha família e então podemos relaxar e por os pés no chão e traçar um plano emergencial para lidarmos com aquela situação. Na mesma tarde fui levado para fazer um exame de tomografia computadorizada da cabeça para verificar qual tipo de AVC tinha sofrido: Isquêmico ou hemorrágico. Ficou então constatado de acordo com o laudo do exame, que eu tinha sofrido um AVC do tipo isquêmico, segundo a neurologista, o exame ainda não mostrava a área do cérebro afetada. Se tivesse sofrido um AVC hemorrágico, já teria aparecido a área afetada nesse primeiro exame. Fiz também outro exame e se não me engano foi uma ultra-sonografia colorida das carótidas.
Nos demais dias, a rotina era a mesma: Remédios, fisioterapia de leve, assistir televisão, receber muitas visitas de parentes, amigos e colegas de trabalho. Se não estou enganado, na primeira semana de internação recebemos mais de cento e vinte visitas muito importantes de parentes, colegas de trabalho e amigos. Na maioria das vezes, a cada visita eu chorava, pois como já tinha comentado , estava com os nervos à flor da pele. O pior de tudo foi digerir essa nova situação. Dormi bom e acordei sem poder fazer praticamente nada.
Nessa fase, a rotina de minha família mudou radicalmente. As minhas filhas se revezavam durante o dia para tentar conciliar estudo, estágios, trabalho, etc... Para ficar pelo menos um horário comigo. A minha esposa, além de revezar também o seu tempo com minhas filhas, dormia todos os dias comigo.
Não só de preocupação e tristeza se vivia no meu apartamento. Quando toda a nossa família estava reunida o ambiente ficava muito alegre. Brincavam com a minha situação, riam muito, quando eu tentava falar alguma coisa e a língua enrolava e não saía "patavinas" nenhuma. Faziam de mim, “gato e sapato”. Um negócio que mudou radicalmente, foi a minha alimentação. Passei a seguir um regime muito rígido, coisa que até hoje venho seguindo. Estava muito gordo, na época e era fundamental que perdesse alguns quilos, alguns não, vários.
Aconteceu inclusive comigo e minha esposa um fato muito interessante e no mínimo pitoresco! Todo dia tomava banho e ia até o banheiro com a ajuda de um enfermeiro. Lá, eu me virava com a ajuda de minha esposa. Certo dia, decidimos então fazer tudo, sem a ajuda de ninguém. Só nós dois. Saímos então agarrados um ao outro se arrastando até o banheiro. Lá ficava sentado numa cadeira e tomava meu banho tranqüilo. Terminei de tomar banho, enxuguei meu corpo com a ajuda de minha esposa e enrolado na toalha, partimos da volta para o quarto, para vestir uma roupa limpa. Eu escorado na minha esposa e juntos um segurando o outro, seguimos com o nosso passo que nem de tartaruga podíamos chamar! Estávamos já conseguindo chegar à cama, quando de repente: Perdi o equilíbrio e fomos caindo em câmara lenta. Fazíamos um esforço danado para não cair. Eu tentando me segurar nela e também segurar ela. O mesmo aconteceu com ela. Nesse cai, mas não cai, o que caiu mesmo, foi a minha toalha. Não agüentamos ver aquela cena bizarra e, caímos na gargalhada! Não existe um ditado que diz: “o céu é o limite”, no nosso caso foi o contrário: “o chão é o limite”. Só paramos lógico, no chão. Agora imaginem a cena: eu pelado, nu com a mão no bolso, sem poder me levantar, mesmo com a ajuda da minha esposa! Na realidade continuávamos rindo pra se acabar e não tinha esforço que desse resultado. Então ela levantou, me cobriu com a toalha e saiu correndo para pedir socorro. Chegaram então duas enfermeiras para ajudar e rapidinho já estava sentado na cama colocando uma roupa limpa. Foi realmente muito engraçado e até hoje quando lembramos ou contamos para alguém, ainda damos umas boas risadas!
Passei dez dias internado. E assim que recebi alta, voltei para casa. Agora ia começar a minha adaptação nas tarefas diária. Seria um longo aprendizado. A minha família, principalmente a minha esposa Fatima, sofreu bastante com tudo isso. Voltei para casa utilizando cadeira de rodas para me deslocar. Pense no sufoco! Depois contarei essa nova fase que não foi nada fácil para todos nós!!!

Nicolau Cavalcanti em 26/07/2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

Bar da Viúva! Dona Iraci e sua Família. Eita lugarzinho legal!!!

Não sei como foi que descobrimos esse lugar. Só sei que a turma foi chegando e de repente estávamos todos lá. Aliás, éramos "craques" em descobrir lugares diferentes para juntarmos a turma. Gostávamos muito de respirar novos ares! Não só nesse sentido mas, em tudo que gostávamos de fazer. Esse bar Ficava localizado na Rua Xavier de Brito, quase em frente à "Venda do Seu Bia", que ficava na esquina da mesma rua e a Rua do Ceará, no Bairro do Prado.
Era uma casa onde uma das salas, se não me engano, a última, e uma área coberta no final da casa eram utilizadas como bar. Foi durante algum tempo um dos locais bem freqüentado pela nossa turma, principalmente nos sábados à tarde. Começávamos a brincadeira na Venda do Seu Luiz que sempre às 14:00 horas, impreterivelmente, fechava. Não tinha quem o fizesse deixar a Venda aberta, depois desse horário. Ia almoçar e depois tirar uma boa soneca.
Dando continuidade a nossa brincadeira, íamos todos para o Bar da Viúva, para tomar aquela cerveja bem gelada, saborear aquele caldinho de feijão e degustar aquela deliciosa feijoada, que era o prato mais pedido da casa. A feijoada era preparada por Dona Iraci, que além de viúva era dona do Bar. Daí o nome Bar da Viúva. Foi assim que batizamos o Bar.
A Dona Iraci era uma pessoa muito calma e aceitava sem problemas as nossas brincadeiras. Bota calma nisso! Pois, para agüentar uma turma como a nossa, tinha de ter muita paciência, mesmo. Éramos pessoas inquietas a sempre estávamos baguçando. Era Ela mesma quem preparava todos os tira-gostos servidos no Bar. Mas a sua feijoada não tinha igual! Tinha realmente uma mão muito boa para temperar os seus deliciosos pratos
Tinha as sobrancelhas grossas, a marca bem de leve de um aparente bigode e as pernas tinham bastante pelos. Acredito que era de família, pois uma de suas filhas e a sua sobrinha, tinham também essas mesmas cacteríticas. Curtíamos também uma boa música, sucessos da época e normalmente levávamos os nossos LP's: ouvíamos Beatles, Renato e seus Blue Caps, The Fevers, Tina Charles, etc... Já que lá não tinha muitas opções de músicas. Bebia-se até "umas horas"! Ali, além da cerveja bem gelada, do bom papo e do bom tira-gosto, jogávamos também a famosa “porrinha” e, tinha dia que a "coisa pegava" e tinha gente que terminava pagando tudo. A gente lamentava muito, mas fazia parte do jogo. Algumas vezes, utilizávamos um recurso que a Viúva não gostava muito, mas quando a pessoa já era conhecida e já tinha crédito na casa, podíamos deixar parte da conta ou até toda a conta, no famoso “prego” da Viúva. Eita pregrinho bom! Tinhámos a preocupação de sempre pagar em dia, uma vez que a Viúva era quem sustentava toda a família e, não poderíamos falhar com ela, nesse ponto. No final da farra, antes de pagarmos a conta sempre tinha uma tal de uma ideira, depois uma tal de uma saideira e aí, muitas vezes, bebíamos além da conta!
O Bar da Viúva era também a sua residência. Moravam com ela, duas filhas, um filho e uma sobrinha. Pra nossa sorte, suas filhas, criaturas novas, bonitas e sempre estavam dando uma ajuda pra mãe na cozinha e também atendendo aos pedidos dos clientes. Pra nossa felicidade, clientes "sérios e bem intencionados", na maioria das vezes gostavam de usar um short jeans, bem curtinho. Era moda na época! Tinha com certeza a nossa aprovação! Também pudera, o "calor" era intenso pois a casa não tinha a "mínima ventilação"! Era justo que se vestissem desse jeito.
A turma, sempre concentrada no jogo de “porrinha” ou até naquele papo agradável, nem “percebia” esses detalhes! O irmão, coitado sofria pra caramba. Ficava muito puto da vida, pois sempre quando vinha servir a nossa mesa, pedíamos para que ele voltasse e mandasse uma das irmãs nos servir e, se possível, as duas, afinal de contas, elas tinham muito mais jeito para executar essa tarefa. O nosso amigo, apesar das brincadeiras, não esquenta a cabeça. Tinha o mesmo gênio da mãe. Sempre que elas passavam ou mesmo vinham atender à nossa mesa, a gente sempre achava um jeitinho de soltar uma piadinha de "bom gosto", é lógico, ou "na baixa", dar uma olhadinha no visual, mas o seu irmão estava sempre atento para nossas brincadeiras. Brincávamos muitos, mas sempre mantínhamos o respeito com toda a família. As duas irmãs não falavam, mas tenho certeza que gostavam da nossa brincadeira.
Não me recordo ao certo o que aconteceu, mas só sei que o bar de repente acabou e a casa foi vendida. Sentimos muita falta, principalmente pela relação de amizade que criamos com a Dona Iraci e a sua família. Éramos verdadeiros nômades. Sempre tínhamos outras opções guardadas na "cartola", e logo, já estávamos tomando uma "geladinha", em outra praia!!!

Nicolau Cavalcanti em 24/07/2012

domingo, 22 de julho de 2012

Restaurante "O Maré": "Vai ter sururu! Vai ter sururu! O Maré fica na beira da Lagoa Mundaú"!!!

O Restaurante "O Maré" ainda funciona até hoje no mesmo local. Localizado na Avenida Alípio Barbosa da Silva, no Pontal da Barra, em Maceió, de frente para a Lagoa Mundaú. Esse era o grande diferencial que ele tinha nos bons tempos e na época em que frequentávamos aquele maravilhoso lugar. Frequentei por muitos anos o Restaurante "O Maré". Desde o início do meu namoro com a minha esposa Fatima e depois, por um bom tempo, quando nos casamos e a nossa primeira filha nasceu. Sempre estávamos acompanhados de amigos que assim como nós, iam para lá se divertir. Era o maior barato! Aproveitávamos bastante os nossos encontros!
O Restaurante em si, era muito simples não oferecia e nem oferece até hoje nenhum conforto a mais para os seus clientes, mas gostávamos de lá pela posição estratégica. De frente pra Lagoa Mundaú, de onde podíamos vislumbrar e apreciar aquela maravilhosa paisagem, que mais parecia um lindo cartão postal. Esperar o por do sol, era o maior barato! Não tinha nada de igual! Era magnífico! Na época de verão quando o céu límpido, sem uma nuvem, o sol si punha entre os coqueirais, refletindo seus últimos raios avermelhados no céu e nas águas da Lagoa Mundaú, era indescritível! Eram momentos extraordinários! Na foto abaixo, tirada pela nossa amiga Loló, apenas as silhuetas minha, da Fatima, minha esposa, grávida de 8 meses e da nossa comadre e grande amiga Saletinha. Ao fundo, uma visão maravilhosa que tínhamos da Lagoa Mundaú. Era uma paisagem deslumbrante! Só estando lá para ver e curtir aquela maravilha de paisagem!

Lá estávamos tomando uma cervejinha bem gelada e comendo de tudo! Desde os mariscos preparados no côco, como o massunim, o sururu e o siri despinicado, hoje mais conhecido como filé de siri e a moqueca de siri mole. Lá também nunca faltava o siri de coral e o  caranguejo guaiamum estufando de gordo e entupidos de coral, cozinhados na água e sal. Eram deliciosos e não tinha quantidade que o cliente degustasse que desse para saciar a sua vontade de comer. Sempre pediam mais! Tinha também, o camarão no côco e o acebolado, sem contar com os tradicionais caldinhos de frutos do mar, que eram maravilhosos. No final, para forrar a barriga e fechar com chave de ouro a nossa brincadeira, normalmente pedíamos aquela tradicional peixada a moda da casa, preparada com postas de arabaiana. Essa não tinha quem resistisse! As postas de arabaiana eram cozinhadas no molho de côco com todos os temperos, indispensáveis nesse tipo de prato e pra terminar, acrescentava-se vários tipos de legumes, que depois de cozinhados, estava pronta aquela deliciosa peixada. Sim tinha também ovo cozido! Acompanhava o prato principal, o arroz branco e o tradicional pirão, preparado com o caldo do peixe e farinha de mandioca, mexidos. Era realmente um prato delicioso! Maravilhoso! No final da comilança, só sobravam as espinhas! Só restava pedir a "saideira"!
O Restaurante tinha uma área coberta, acredito que por sapé, que normalmente era utilizada tanto para as refeições, como também para as reuniões de amigos e de famílias. Um ambiente mais social. Tinha também, um primeiro andar que era um ambiente mais reservado e pra falar a verdade, nunca me arrisquei a ir até lá. Alguns casais mais discretos, utilizavam esse ambiente freqüentemente. Por fim uma área lateral aberta com muitas árvores e plantas diversas onde as pessoas que iam curtir o local, costumavam ficar. As crianças adoravam! Tinha muita sombra e era bastante ventilada. Os pés de amêndoas, ajudavam bastante. Tínhamos uma visão privilegiada da lagoa. Essa área apesar de já existir desde o início do Restaurante, só depois é que foi incorporada ao Restaurante, se não estou enganado.
Na área coberta tinha um grande aquário, com peixes da lagoa de diversos tipos e tamanhos, que a criançada gostava muito de apreciar. A Paulinha, minha filha, adorava ficar olhando o vai e vem dos peixes entre as várias plantas aquáticas existentes no aquário. Quando íamos só almoçar, sentávamos numa mesa bem próxima do aquário, para a Paulinha e todos nós curtirmos também o aquário. Um detalhe interessante era que a armação que suportava os vidros do aquário, como também as colunas que sustentavam a coberta, bancos e mesas eram todas enfeitadas de conchas de massunim e de ostras, dando um visual diferente e bonito ao aquário e ao ambiente. Na foto abaixo, detalhes do bar e das conchas. Da esquerda para direita: Eu Nicolau, Fatima minha esposa com o seu barrigão, a nossa amiga Loló e por último a Márcia, esposa do Abelardo. No fundo se ver parte do aquário. será que ainda existe? Era muito legal!

Na área descoberta tinham duas coisas que atraiam muito a atenção da garotada: o viveiro para cevar o caranguejo guaiamum, que sempre estava cheio e, uma espécie de gaiola/jaula com um macaco prego, muito arisco. Era realmente a principal atração e a diversão de toda a criançada. O macaco não parava de pular e fazer piruetas e comia tudo que a garotada jogava na gaiola. De vez em quando uma criança mais afoita ou muito distraída, chegava muito perto da gaiola para tentar dar comida ao macaco com a própria mão e o macaco num movimento rápido puxava a mão da criança ou até mesmo os cabelos e a criança saía correndo e chorando pra se acabar! A Paulinha tinha um medo que se pelava do tal macaco, só chegava perto acompanhada por um de nós.
O Restaurante ficou famoso quando o cantor e compositor Martinho da Vila incluiu em um de seus discos, um samba onde o nome do Restaurante aparece em uma das letras de uma música: “Vai ter sururu, vai ter sururu, o Maré fica na beira da lagoa Mundaú”... Olha! só faltou isso para o Bar ser incluído no roteiro de muitos turistas que vinham visitar Maceió.
Na realidade, sempre que vinha à Maceió, o cantor tinha que dar uma passadinha por lá e tomar tomar um drinque! Certa vez, eu, Fatima, o casal amigo Abelardo e Márcia e as crianças, estávamos lá e nós tomando uma cervejinha, quando de repente, pra nossa surpresa, apareceu o cantor Martinho da Vila, em pessoa! O que chamou a atenção de todos os clientes. Ele já estava de saída, mas, com aquele seu sorriso aberto e o seu jeito simples de ser, não deixou de cumprimentar a todos os clientes que lá estavam. A Márcia ainda arriscou pedir um autógrafo, mas não teve coragem. Diziam os garçons que ele era muito amigo do dono do Restaurante e, sempre que vinha a Maceió, dava uma passadinha no Maré e depois ia pra Barra de São Miguel onde o dono do Restaurante "O Maré", tinha uma excelente casa de praia. Ia para aproveitar a praia, descansar e tomar umas boas "lapadas", porque, afinal de contas, ninguém é de ferro!
Certa vez estava na praia do Francês Eu, Fátima, grávida da Paulinha, nossa primeira filha, Saletinha, nossa comadre, Loló, Abelardo e Márcia velhos amigos e resolvemos tomar a “saideira” no Maré, para ver o por do sol. Era a nossa desculpa! Chegamos lá, já depois das 15:00hs e, já tínhamos tomado bastante cerveja no Francês. Mas, como não podia faltar, pedimos uma cerveja, siri de coral e caranguejo guaiamum, pois a Fátima grávida, só queria saber de comer caranguejo, isso era em todo barzinhos e restaurante que íamos. Sentamos numa mesa de frente pra a lagoa, num local privilegiado. Aí chegou a cerveja e o tira gosto e aí a brincadeira continuou muito legal, como no Francês. A cerveja estava geladíssima e o siri, entupido de coral. Tudo estava como queríamos. A descontração e alegria de todos por está naquele lugar, era impressionante. A Fatima se fez na comida de guaiamum, e só parou quando já não entrava mais nada! Nem vento!
Pra comer o siri e o caranguejo, acompanhava o prato, umas colheres de alumínio, muito mal acabada e muito usadas na época. Eram muito fraca e qualquer esforço que se fizesse, elas quebravam, principalmente as pequenas. Lembro do Abelardo, que a cada siri que comia, jogava a colher na lagoa, dizendo que: "essa colher não é colher para ser usada em restaurante, principalmente no Restaurante "O Maré", famoso em todo Brasil". Olha! Ele deve ter consumido, no mínimo, uns cinco siris! Sem contar com os caranguejos!
Conversamos bastante, tomamos muita cerveja, comemos bastante tira-gostos, mas o principal estava por vir: O por do sol! A tarde estava indo embora e no céu não tinha uma nuvem. O sol começou a descer e se esconder entre os coqueirais, proporcionando para todos nós um cenário maravilhoso. Saímos de lá, já era realmente noite e fomos todos pra casa descansar e curtir a ressaca.
De vez em quando íamos pro Maré à noite, principalmente noite de lua cheia onde ficávamos tomando uma cervejinha e curtindo o visual da lua cheia clareando a noite e deixando o seu maravilhoso reflexo nas águas tranqüilas da Lagoa Mundaú. Aqui acolá a silhuetas de canoas e pescadores. Foi uma época maravilhosa, quando Eu e Fatima noivos e recém casados, aproveitamos bastante esses momentos maravilhosos da nossa vida. Nunca mais, dei uma a paradinha por lá, já até passamos várias vezes pela sua entrada, mas o visual já não estava legal e não sentimos vontade de parar. É lamentável!!!

Nicolau Cavalcanti em 22/07/2012

sábado, 21 de julho de 2012

A "Marujada" apareceu de repente! "Se corresse o bicho pegava, se ficasse o bicho comia"!!!

Essa história muito interessante e cheia de emoções, e que emoções! É simplesmente verídica e, aconteceu no final dos anos 60 e início dos anos 70. Realmente não me lembro exatamente do ano, mas que aconteceu, aconteceu! Fui inclusive um dos protagonistas e graças a Deus, estou aqui para conta-la!
O grande responsável pelos fatos abaixo relatados, claro que não o fez com o propósito de desencadear tamanho reboliço e tanta agitação, numa tranqüila, calma e ensolarada tarde de sábado. Até porque já tínhamos aprontamos muitas dessas loucuras e, sempre saíamos bem! Essa criatura da qual estou falando é, nada mais nada menos, do que o nosso grande e saudoso amigo Jarbas. Jarbinha ou Jarbão, como era chamado por todos nós! Lamentavelmente essa maravilhosa criatura já não está mais com a gente. Mas com certeza, por tudo que fez por aqui, deixou o seu legado.
Sim, mas vamos lá pros "entretantos": Antigamente, existia em Maceió a Escola de Aprendizes de Marinheiros de Alagoas, que tinha as suas instalações no bairro do Pontal da Barra, no local onde hoje funciona o DETRAN. Era uma Escola de formação da Marinha do Brasil e recebia alunos de vários estados do Brasil. Todo final de ano, era muito comum ver em Maceió grupos e mais grupos de "Apendrizes" que vinham de outros estados e ficavam alojados na Escola, pois a escola funcionava em regime de internato e tinha uma boa estrutura montada para receber a todos. Creio que havia uma espécie de intercâmbio entre as várias escolas espalhadas pelo Brasil, por isso que a demanda aumentada nessa época do ano. Normalmente no final de ano e no carnaval.
Os "Marujos" eram logo reconhecidos, pois além do corte do cabelo típico de militar, só andavam em grupos. Raramente se via marinheiro andando sozinho pela cidade. Creio que era até uma acordo entre eles, para evitar que algum problema viesse a ocorrer e não tivesse a cobertura dos demais. Eram metidos a donos do mundo e gostavam de se meter em confusão e fazer baderna em todos os lugares que chegavam, principalmente quando "enchiam a cara de "mé"!
No carnaval, a Praça Moleque Namorador no bairro da Ponta Grossa, era palco de um dos mais animados e tradicionais carnavais de Maceió. O frevo dominava a Praça e o foliões num ritmo alucinante pulavam ao som de várias orquestras que se revezavam para oferecer o que tinha de melhor em matéria de frevos e marchinhas de carnaval. Quando tocavam o famoso frevo "vassourinha", aí os foliões endoidavam e poeira subia, suor escorria e os foliões não estavam nem aí! O que queriam mesmo era se divertir e aproveitar o Reinado de Momo. Os foliões pulavam rodeando a Praça num determinado sentido, continuamente. Era bom demais! Ninguém se atrevia a fazer o percurso ao contrário pois, era como "remar contra a maré"! Quando os marinheiros chegavam na Praça, não sei se bêbados mas, mal intencionados, não respeitavam ninguém e o que era carnaval, virava bagunça, pois entravam na folia e no meio da multidão começavam empurrar os foliões, tentando fazer o percurso no sentido contrário ao dos foliões e, aí o "bicho pegava"! Era uma confusão desgraçada, saía porrada pra todos os lados e os "marujos" tanto batiam como também levavam! Eles gostavam de escolher um coitado e batiam com vontade nessa criatura para que quem observasse a cena, ficasse cismado e com medo de enfrentar a "marujada". Faziam uma baderna danada e depois se mandavam.
Claro que tinham muitos que não seguiam essa regra. Realmente iam apenas para aproveitar a festa. Muitas vezes a Polícia tinha de interceder e acalmar os ânimos. Isso acontecia também no SESC e no SESI, onde tinham também os famosos "Bailes de Carnaval" e os ingressos eram vendidos a preços "módicos". Mesmo com toda valentia, os "marujos" também apanhavam. Quando encontrava a turma que servia o Exército na época, aí era que apanhavam mesmo!
Aconteceu que: em uma tranqüila tarde de sábado, estavam na esquina da casa de Dona Amélia, local onde a turma normalmente costumava ficar, o nosso amigo Jarbas e outros que amigos, quando passou pela Avenida Siqueira Campos, um grupo de marinheiros. Eram no mínimo uns cinco, segundo o nosso saudoso amigo Jarbas. No meio deles havia um “Negão”, aparentando ter aproximadamente quase dois metros de altura. Um verdadeiro “galalau”! De cor preta, daquela cor preta "retinta" e, dobrado que nem "parede e igreja".
Quando o "marujada" passou e já estava a uma certa distância da esquina o Jarbinha, como sempre gostava de fazer, encolhido entre os demais, gritou se referindo ao “Negão”: "Escureceu"! "Escureceeeeu..."! O “Negão” olhou para trás, encarou a turma e continuou andando e acredito que pensando: "me aguardem, seus filhos de uma rapariga"! E, dando as costas, foi embora acompanhando o restante do grupo. O Jarbinha aproveitando a "bobeira do galalau", gritou mais uma vez chamando o “Negão” de "Escureceeeeu"! Mas dessa vez, com toda a força que tinha nos pulmões! Bem, depois disso, o Jarbinha e restante da turma que estava na esquina foram todos embora! Se mandaram!
Como era de costume, sempre tinha alguém da turma na esquina. Saía uma turma, logo chegava outra. Foi o que aconteceu naquela tarde, quando Eu, Beto "Torreiro", "Biu Bomba", "Pujú", Paulinho "Buçu" e o próprio Jarbas, chegamos à esquina! Chegamos alegres e descontraídos, sentamos na calçada e começamos a conversar sem perceber a armadilha que a turma de "Marujos", aprontava para nós. E o pior era que dessa vez a "Marujada" tinha razão! Estávamos realmente distraídos, quando de repente, apareceu um baita de um “Negão” na nossa frente e apontando pra nós, disse para os demais do grupo que o acompanhava. Eram no mínimo dez! Cada um mais forte do que o outro! Parece até que tinham sido escolhidos a dedo! Se posicionaram à nossa frente: Foi essa turma aí! Vamos mostrar para esses vagabundos quem é "Escureceu"! Disse o "Negão"! Aí a situação escureceu foi pra nós! O "cacete" começou! Para nosso azar, estávamos sentados na calçada o que facilitou o ataque da "Marujada". Além do mais, éramos apenas cinco. Até nesse ponto os "Marujos" eram covardes! Começaram dando chutes em todos nós. Só se via e ouvia as canelas da "Marujada" passar e estalar nas nossas. O Paulinho "Buçu" e Beto Torreiro, por sorte, conseguiram se levantar e correram em direção à Rua São Domingos e nada aconteceu com eles, a não ser o susto e alguns pontapés. O Beto "Torreiro" estava com um rádio de pilhas na mão. Ao se levantar, levou uma porrada nos braços, com isso o rádio soltou da sua mão e num rápido movimento, conseguiu resgata-lo de volta e, tome "pique"! O Jarbinha, também logo se livrou assim que a confusão começou e correu na direção de sua casa, levou uns tapinhas mas escapou ileso. Até nisso o nosso amigo tinha sorte! Só restou Eu, o "Biu Bomba" e o "Pujú". Eu e o "Biu Bomba" corremos em direção à Praça da Faculdade, pensando que tínhamos escapado dos chutes e das porradas da "Marujada". Aí aconteceu o pior! A Praça estava era cheia desses malditos "Aprendizes"! Tinham pra mais de vinte, todos de punhos cerrados nos aguardando, para também baixar o cassete! Passamos por uma verdadeira barreira humana. Humana não! De "brutamontes"! Levando murros, chutes, tapas, puxavantes, rasgaram nossas camisas, tentando nos agarrar. Graças a Deus, isso não aconteceu. Se não teria sido bem pior! Não sei o que seria de nós! Corríamos tanto! Mais tanto! Que parecia até que tínhamos uma turbina no centro do traseiro! Perdemos nossas sandálias havaianas e, mesmo assim, não parávamos de correr e driblar cada um daqueles "filhos da puta" que surgiam à nossa frente. Driblávamos mais do que o Mané Garrincha, nos seus tempos áureos! Não tínhamos para onde fugir. Já estávamos bastante cansados, sem saber até quando iríamos agüentar aquele sufoco. Pensamos até que eles iriam nos alcançar e acabar com a gente. Olhamos para um lado e para o outro e não víamos nenhuma saída. Pedíamos a Deus para nos ajudar e nos livrar daquela situação. Foi aí que de repente, avistamos uma turma de "Feras" de medicina da Escola de Ciências Médicas que estava em greve e acampada em um galpão existente na Avenida Siqueira Campos, em frente a Praça e, todos que lá estavam olhavam assustados para tudo o que estava acontecendo. sem entender o que realmente estava acontecendo. Aceleramos o passo num último esforço, pois além de exaustos do "pique" em que vínhamos, já tínhamos apanhado bastante e sentíamos que mais algumas passadas, seríamos alcançados por aquele bando de "Marujos". Decidimos então partir em direção ao galpão. Era a única saída e última chance que tínhamos e não podíamos desperdiça-la. Tinha que dá certo! Quando a turma percebeu que nós dois e um bando de marinheiros estávamos indo na direção do galpão, começaram a gritar e entrar correndo para o interior do galpão, pedindo socorro. Já estávamos muito próximos, atravessamos a Avenida e já na calçada do galpão alguns "Feras", os últimos a entrarem no galpão, já estavam baixando o enorme de portão de ferro, daqueles de enrolar quando nós, já abaixados e pedindo socorro, conseguimos entrar de portão à dentro e graças a Deus, chegamos ao interior do galpão! A turma de "Feras" conseguiu, por sorte, fechar o portão, mas mesmo assim estavam muito assustados. O bando de marinheiros, do lado de fora, ficou nos encarando, bufando de raiva, dizendo palavrões e balançando o portão, querendo entrar a todo custo, para saciar a sua sede de vingança. Não conseguíamos dar uma palavra, mal conseguíamos respirar como também ficar de pé! O coração só faltava sair pela boca! As nossas pernas tremiam mais do que "vara verde"! Estávamos totalmente pálidos, sem um pingo de sangue na pele. A boca estava seca e com uma saliva grossa na língua e estávamos também, morrendo de sede. Suava mais do que "tampa de chaleira". As pessoas ainda assustadas tentavam nos ajudar e ao mesmo tempo espantar a turma de marinheiros. Não sei como, mas de repente e aos poucos, foram indo embora e graças a Deus! desapareceram!
Ficamos um bom tempo no interior do galpão e só saímos quando a situação estava realmente segura. Antes de saírmos pedimos mil desculpas a turma de "feras" de medicina, mostrando que nada tínhamos a ver com tudo aquilo que estava acontecendo. Na realidade "estávamos no lugar errado na hora errada!". Na frente do galpão tinham muitos curiosos de olhos arregalados e doidos por novidades. Saímos cabisbaixos, muito envergonhados e nos dirigimos para a esquina onde tudo tinha começado e o tumulto estava generalizado. Havia um zum, zum, zum danado de todos que esperavam a gente voltar para saber o que realmente tinha acontecido e se estávamos de fato bem.
Enquanto tudo aquilo acontecia com a gente, soubemos que o nosso amigo Pujú, não teve a mesma “sorte” que a gente. Bem, sorte não seria a palavra mais certa, pois apanhamos e levamos muitas porradas mas, estávamos bem! Ele, coitado, quando tentou se levantar, na hora em que os marinheiros chegaram na esquina, recebeu uma bela de uma rasteira de um dos "marujos" e não suportando a porrada nas canelas, caiu na rua e a "marujada", sem um pingo de dó, pulou em cima do coitado e "baixou a lenha" e só o largou no meio da Avenida Siqueira Campos, bem perto da porta de sua casa, quando tiveram certeza de que o coitado estava bem "amaciado", como se faz com bife de carne de segunda: bate-se bastante para amacia-lo!
Toda a redondeza soube do ocorrido. Muitos vizinhos, foram lá em casa para saber como Eu estava. A noite na esquina, foi o assunto mais comentado e servimos de gozação para todos que lá estiveram. Esse papo durou um bom tempo e ainda hoje comentamos, em nossas reuniões. No outro dia, acordamos todo arrebentado e com vários hematomas pelo corpo e, quando nos encontramos, na esquina, rimos de toda aquela confusão. É como já citei: "Estávamos no lugar errado na hora errada!!!".
Depois desse episódio, quando estávamos na esquina, ficávamos sempre observando o movimento na Praça para não sermos surpreendidos com mais uma dessas desagradáveis surpresas! Algum movimento diferente: "pernas pra que te quero", ligávamos a turbina e saíamos em disparada para casa! "Melhor prevenir do que remediar"! Todos esse fatos, me faz lembrar de como era maravilhosa aquela vida cheia de aventuras. Muitas vezes ganhando mas também muitas vezes perdendo!!! Pra nossa turma o importante era fazer! "O que desse, eram outros quinhentos!!!".

Nicolau Cavalcanti em 20/07/2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

"A Sopa do Capitulino! Que saudade daquela deliciosa e maravilhosa sopa!!!"

Funcionava numa casa existente em uma das ruas na área onde hoje é o Mercado da Produção, no Bairro da Levada, em Maceió na década de 70. Os mais velhos, que frequentavam o recinto, falavam que o local nunca fechava as portas. Se não estou enganado, era próximo a um Centro de Saúde que ainda existe no local. Atendia as pessoas que trabalhavam no antigo mercado e nas redondezas.
O negócio era o seguinte: sempre depois de uma boa farra quando a turma estava "lisa"! Isto é: sem dinheiro! Isso mesmo! Sem um "puto" no bolso, para depois de uma boa farra, nas noites das sextas ou dos sábados, degustar uma saborosa Macarronada na "Macarronada Eureka, o ponto de encontro dos jovens da época ou então ir a um outro qualquer Restaurante, pegar um “rango” reforçado, pra fechar com "chave de ouro" a noitada: o final era sempre na famosa "Sopa do Capitulino". Éramos bastantes unidos! Só brigávamos na hora de "rachar" a conta! Principalmente nessas horas! Mas no final sobrava até um trocadinho, que era a tradicional gorjeta do garçom que sofria com as nossas brincadeiras. Na Macarronada do Eureka o sofredor era o Basto.
A Sopa do Capitulino como o próprio nome já diz, o prato principal da casa, era uma suculenta Sopa de verdura com carne de  segunda com osso, mas que dava um sabor de primeira no preparo. Para se ter uma idéia, a sopa era preparada com todas as verduras cortadas em pedacinhos e com macarrão "furadinho", também de segunda, quebrado em tamanhos menores, grosso, que mais parecia um canudo. Tudo isso temperado com um tempero que só se fazia alí. Era uma Sopa maravilhosa, cujo sabor, me vem à boca até hoje, sempre que me lembro. Vinha acompanhada de um pão francês e um litro d'água bem gelada! Um litro mesmo! Se o freguês não optasse por um dos vários tipos de refrigerantes. Lá não vendia qualquer tipo de bebida alcoólica. Tinha inclusive pendurado na parede, um aviso: "Não vendemos bebidas alcoólicas. Não insista! A Direção". Em compensação, só chegava por lá a turma biritada, "triscada" e, com várias na cabeça! Íamos pra lá fazer o contrário: curar a "birita"!
Os donos, um casal de meia idade. Eram pessoas excelentes! Se não estou enganado, tinha também uma pessoa que atendia os "fregueses". Ele administrava os pedidos, resolvia qualquer problema com os fregueses e o principal: recebia o pagamento do "prego"! A sua esposa, cuidava de tudo que se referia a cozinha, inclusive do tempero dos pratos ali servidos.
Tinham várias histórias que se contavam, com relação a fatos pitorescos ocorridos e do conhecimento de todas as pessoas que frequentavam a "Sopa do Capitulino". Creio que essa é uma das melhores: Conta-se que certa vez, uma das diversas turmas que freqüentavam a Portuguesa, clube social que existia no Centro da Cidade de Maceió, cujo nome correto era Clube Português de Alagoas, e que também frequentavam a "Sopa do Capitulino", após terem saboreado a maravilhosa sopa com o pão, rabiscou, não sei como e nem porque, as iniciais do nome num dos ossos que eram servidos na sopa. Dias depois, pra espanto de um freguês que também tomava a suculenta sopa, ao pegar o osso para dar aquela “chupadinha” e roer as poucas carnes que vinham nele, se deparou com uma coisa estranha no osso, que chamou sua atenção! Observando melhor essa "coisa estranha", descobriu as iniciais gravadas no danado do osso. O que deu, eu não sei, só sei que a história se espalhou e logo, toda Maceió estava sabendo do fato. Na realidade, tudo não passou tão somente, de uma "simples" brincadeira. E que brincadeira! Apesar da repercussão negativa, a "Sopa do Capitulino" continuou freqüentada por todos aqueles que apreciavam o prato. Pra falar a verdade a Sopa era deliciosa! Maravilhosa! O prato vinha cheio até a borda e, no final só sobrava o osso, assim mesmo, todo roído e bastante chupado! Em cima de cada mesa tinha sempre uma garrafa de um forte e delicioso molho de pimenta malagueta, que, quando colocado na sopa, dava aquele toque final no tempero! Aliás! Dizem as más línguas, que quando se coloca pimenta em um determinado prato é porque a comida não está boa! A pimenta era o molho do prato. Nesse caso não! Era realmente um complemento! Isso pra quem gostasse.
Lá também, além da tradicional Sopa, era servido um outro delicioso prato que não “passava em baixo” da tradicional sopa! Era o famoso "Prato Feito" e era padrão: A carne de boi de segunda guisada, com arroz e macarrão. O detalhe do prato, era o seguinte: A carne era deliciosa! Não tinha tempero igual! O arroz, não sei se porque era de terceira ou de tanto ser requentado, era fofo e tinha o dobro do tamanho normal. O macarrão era daqueles bem grosso e furadinho, do mesmo usado na sopa e o seu molho era a deliciosa "graxa", que nada mais era do que o delicioso caldo grosso da carne guisada. A carne apesar de ser de segunda, era macia tinha um tempero e gosto extraordinários! Era deliciosa! O prato em si, apesar da aparência, era delicioso! Uma maravilha! E o preço, era bem melhor! Tinha ainda na mesa uma garrafa com molho de pimenta malagueta. O mesmo usado na Sopa! A farinha de mandioca, era tão grossa que mais parecia ração. Torradinha e muito gostosa. Era servida num farinheiro redondo, de madeira com a colher também em madeira. Era um conjunto muito usado na época. Não sei nem se ainda existe. Amanhecemos muitas vezes, o dia na "Sopa do Capitulino"! Na realidade era um restaurante muito simples e acredito que atendia as pessoas que trabalhavam também no Mercado que ali já existia. Depois de determinada hora da madrugada, o movimento aumentava e, normalmente quando saímos, o movimento continuava. Não sei quem descobriu aquele lugar, pois "acertou na mosca"! É uma pena que com a construção do Mercado da Produção, o restaurante acabou! Saudade realmente não tem idade! Eu sempre lembrarei desse cantinho! Comi das duas opções de pratos oferecido no cardápio.
É difícil lembrar e escrever essas lembranças em que fomos um dos personagens, pois além da grande saudade dos amigos que juntos participaram desses maravilhosos momentos, o cheiro e o sabor dessas deliciosas comidas, me faz voltar aqueles bons e inesquecíveis tempos!

Nicolau Cavalcanti em 18/07/2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

Praça Deodoro: "O ponto de encontro da turma jovem nos anos 60/70!!!" Eu e minha saudosa memória!!!

A Praça Deodoro, como é conhecida até hoje, fica localizada no bairro do Centro, em Maceió, e seu nome com certeza, foi uma homenagem ao Ilustre Alagoano Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Proclamador da República e primeiro Presidente do Brasil! A Praça tem em sua volta, algumas antigas construções e muito importantes e complementam o cenário bucólico do local. De um lado o prédio do Teatro Deodoro com seu anexo o Teatro de Arena Sergio Cardoso, que fica na Rua Barão de Maceió. Na outra extremidade o prédio da Academia Alagoana de Letras, em cujo prédio funcionou o Grupo Escolar Dom Pedro II. Eu inclusive estudei nele. Fica na Rua Cincinato Pinto. Tem também de um dos lado, o prédio do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, que fica na Travessa Dias Cabral e do outro a Câmara Municipal de Maceió, na Rua do Livramento. Parte das ruas acima, delimitam a Praça. No centro da Praça, existe uma estátua do Marechal Deodoro, montado em um cavalo. Tinha ainda, na esquina ao lado do Teatro, o prédio do Café AFA, onde durante a semana, quando estava torrando o café, deixava no ar um delicioso cheirinho de café! A sorveteria GUT-GUT, que nos seus tempos áureos, seus deliciosos picolés e sorvetes, não davam para quem queria, devido a sua grande procura. Era um local muito estreito e, quando estava cheio, era um "Deus nos acuda"! Tinha também a Funerária do Aristeu, também muito antiga, cujo dono era uma pessoa bastante conhecida em Maceió.
A Praça passou por várias reformas e modificações durante todos esses anos de existência, tirando toda a sua originalidade. Lá aconteciam vez por outra, as famosas "retretas", que nos sábados ou nos domingos as Bandas de Música do Exercito Brasileiro ou da Polícia Militar de Alagoas, tocavam músicas da época como também hinos e marchinhas conhecidas da platéia. A Praça ficava totalmente tomadas de pessoas que iam assistir, aplaudir e pedir bis durante o show! Era muito bonito!
A Praça era realmente o ponto de encontro da "patota" jovem que nos sábados e domingos vestiam suas "domingueiras" e saíam para ver as vitrines na Rua do Comércio, na Rua Moreira Lima e adjacências ou então iam assistir uma sessão de cinema no Cine São Luiz, o mais badalado de Maceió. Tinha também o Cine Ideal, que ficava bem próximo a Praça, sendo mais uma opção para aqueles que gostavam de bons filmes.
Na época fazíamos tudo para assistir filmes impróprios para menores de dezoito anos. Raramente conseguíamos pois sempre tinha um "Fiscal de Menor", na entrada do cinema e na maioria das vezes éramos barrados pelo Fiscal. Saíamos de cabeça baixa e totalmente "discabriados", entenda-se: com a cara de "sonso"! ou melhor: saíamos era "puto da vida", pois essa cena acontecia na frente das demais pessoas que iam assistir o filme. Eu não conto as vezes que isso aconteceu comigo e com a nossa turma!
Tinha também as tradicionais Missas na Igreja da Catedral, na Igreja do Livramento e também na Igreja de São Benedito, todas próximas da Praça e que muitos jovens iam assistir acompanhados pelos pais.
Com relação as vitrines, na época as lojas para divulgar melhor os seus produtos, deixavam as suas portas abertas e suas vitrines expostas e totalmente iluminadas até às 22:00 horas. Eita tempo bom! Até os ladrões só iam olhar as novidades! Nada de roubar! Cada loja fazia o melhor para atrair os seus clientes, pois sabiam, que com certeza, se eles gostassem de algum produto exposto na vitrine, voltariam depois à loja para adquiri-lo. As vitrines eram decoradas com os últimos lançamentos da moda masculina, feminina e infanto-juvenil. Isso no que diz respeito a vestuários. Tinham também as lojas de utensílios domésticos, discos(LP's) e equipamentos de som, brinquedos para a criançada, moveis, jóias, etc, etc... Era muito bom! as ruas ficavam totalmente tomadas pelos pais que levavam os filhos para passear e ver as vitrines, como também de muitos curiosos que iam olhar as as novidades. A turma jovem fazia a sua parte!
Depois dessa maratona, a turma jovem se reunia na Praça Deodoro e aí começava um ritual muito interessante: a maioria da turma jovem ficava dando voltas, pela Praça desfilando com a sua "domingueira", e lógico, uns paquerando, outros namorando, outros parados em grupos conversando e alguns sentados nos bancos existentes na Praça e, também batendo "papo". As voltas eram feitas no sentido horário. Não sei por que, mas a grande maioria caminhava em uma mesma direção. Era uma caminhada lenta e cadenciada como se todos estivessem andando em bloco e numa mesma velocidade. Era muito interessante! Tinha domingos que mal se podia andar, pela quantidade de pessoas presentes na Praça. Os mais afoitos e gaiatos, faziam o percurso ao contrário e encaravam as suas paqueras de frente.
Os "filhinhos de papai", desfilavam com os seus carros "guaribados" e suas potentes motos que na época, eram novidades. Muitos estacionavam suas máquinas na praça e ficavam curtindo uma fita cassete nos toca-fitas dos seus carros e, isso chamava a atenção de todos. Os "filhinhos de papai", também faziam questão de "aparecer"! Ligavam o som do carro nas alturas, tentando atrair a turma de "cocotas"! Diga-se de passagem! Era maioria! Cada uma mais bonita que a outra! Quando desfilavam usando mini-saías, aí era que "abafavam" mesmo!
A sorveteria GUT-GUT ficava lotada, pois todos que iam a praça, normalmente tinham de tomar um sorvete ou chupar um delicioso picolé. Tinham inúmeras opções e fazia parte do ritual! Era um verdadeiro desfile de moda, de veículos, de motos e tudo que tinha de novidade na época.
Tinha também na Praça, uma enorme variedade de lanches, que eram vendidos por Ambulantes que circulavam a Praça ou então já tinham o seu ponto certo e eram conhecidos de todos. Tinha a maçã vermelha e a pera importadas, se não me engano da Argentina, vendidas em carrinhos de madeira e dispostas na forma de pirâmides, para chamar a atenção. Tinha amendoim cozinhado ou torrado, com casca, que na época eram vendidos embrulhados de forma bem característica em folhas de revista. Tinha o Piruliteiro que vendia pirulitos enrolados em papel de embrulho e, colocados enfiados em um tabuleiro de Madeira todo furado, preso no centro por um cabo de vassoura que era carregado apoiado no ombro. Segurava-se o pirulito por um talo de bambu enfiado no centro do pirulito. O Cavaqueiro, que vendia "cavaco" dentro de uma lata grande e retangular, provavelmente de banha, pendurada no ombro e para chamar a atenção da criançada eles andavam tocando triângulo, o Pipoqueiro que vendia a pipoca preparada na hora de forma muito peculiar. A pipoca "Flor do Campo" era também muito procurada. O interessante é que essa pipoca já vinha pronta. Se não me engano, só existia uma firma que vendia esse tipo de pipoca. Tinha vários carrinhos padronizados onde a pipoca era tratada. O Pipoqueiro apenas esquentava a pipoca no carrinho onde eram vendida, colocavam em saquinhos de papel personalizados e poderia sair com sal e Manteiga derretida, colocados conforme o gosto do cliente. Tinha também a tradicional, também preparada na hora. O Roleteiro vendia o rolete de cana caiana, doce que só! cortada na hora em forma de roletes que eram enfiados em armações feitas de talos de bambu. Uma armação muito simples porém muito interessante e criativa. O algodão doce também não podia faltar. Feito na hora! tinha até fila para comprar. A farinha de amendoim e a de castanha de caju, eram vendidas em canudos feitos com papel de embrulho. Eram também muito procurada e muito deliciosas. Tinham também os Confeiteiros que, com os seus tabuleiros pendurados no pescoço, rodavam a praça vendendo tudo: drops de hortelã, confeito de hortelã, chiclete ping-pong, sabor tutti-frutti e hortelã, uvas passas que eram vendidas em caixinhas de papelão, e se não estou enganado, eram importadas da Argentina, chiclete Adams, daqueles de caixinhas amarelas e vermelhas e com seus sabores tradicionais, drops dulcora, pirulitos de vários formatos e sabores. Tinha também um tipo de confeito de formato retangular, de vários sabores e eram embrulhados em papel onde tinha desenhadas frutas variadas. Tinha também outras variedades de confeitos bastante procurados. Vendia-se até cigarros, em maço ou a unidade. Tinha o quebra-queixo comum, com amendoim e o quebra-queixo americano, nas cores branca sabor baunilha, vermelha sabor maçã e verde sabor menta. Todos os dois eram bastante procurados e muito! muito! deliciosos! Eu particularmente, gostava muito do americano! E a "raspadinha"? Quem não lembra? Tinha de maçã, côco, maçã com côco, baunilha, maracujá, etc... Na realidade, era vendida em um carrinho com rodas de bicicleta, onde na parte de cima tinham várias divisórias onde se colocavam as garrafas de vidros cheias com as diversas "garapas" dos diversos sucos, como também as "garapas" de várias essências. Era chamada de "raspadinha", porque em cima do carrinho tinha um pedaço de gelo em barra que era raspado com raspador próprio para esse fim e que acumulava o gelo raspado em seu interior. O gelo raspado era colocado em um copo e, depois era colocada a "garapa"até a borda e escolhida de acordo com o gosto do freguês. Estava pronta a famosa e deliciosa "raspadinha"! A pedido do cliente, podia ser feita várias combinações com dois tipos de "garapas". Também tinha o Picolezeiro e o Sorveteiro que com o seus carrinhos faziam a festa da garotada. Aliás! De todos! O picolé e o sorvete da Sorveteria Ryalto, eram muito famosos pelo seu sabor inconfundível! Tinha também a Sorveteria DK-1, muito conhecida e ficava no Centro, na Rua Moreira e Silva. Um detalhe curioso na época, era que os picolés era enrolados em papel manteiga.
Figuras folclóricas e bastante conhecidas em Maceió, freqüentavam a Praça praticamente todos os dias. Tinha o tipo intelectual, que normalmente se reuniam nos bancos em frente ao Teatro, estudantes de diversos Colégios que, quando terminavam as aulas, iam pra lá passar o tempo, tinha um "Irmão", um Senhor moreno de óculos e com a Bíblia na mão, passava o dia pregando em voz alta, num tom eloqüente! Lá o que não faltava era Engrxate, que ganhava dinheiro engraxando sapatos de pessoas que por ali passavam. Tinha um, bastante conhecido da "patota" e, que chamava a atenção de todos, por ter uma cabeleira do tipo "black power" e por ter as pernas tortas. Muito tortas mesmo! "Cambotas"! como chamávamos! Tinha até um apelido mas não me recordo.
Mas, tudo isso, hoje, não passam de grandes recordações! E que recordações! O único local que ainda exite e funciona na Praça, da nossa época, é a Sorveteria GUT-GUT! Como já comentado, Um pequeno espaço imprensado entre construções maiores, que conseguiu sobreviver a tudo e continua vendendo os seus deliciosos sorvetes e picolés. Não sei se só sobrevive disso, ou oferece mais opções para os seus clientes!
A Praça, apesar dos pesares, sobreviveu a todos os atos de vandalismo cometidos por pessoas irresponsáveis, que se achando o dono da verdade, promoveram vários desmandos tendo simplesmente na mão, apenas uma caneta, para autorizar mudanças irreversíveis na arquitetura original da Praça. Os camelôs, sem respeitar nada e ninguém, armam suas barracas diariamente na Praça e nas calçadas deixando um dos nossos Cartões Postais, com uma imagem que não retrata a realidade do local dos velhos bons tempos!!!

Nicolau Cavalcanti em 17/07/2012

domingo, 15 de julho de 2012

O Passaporte do Gaúcho! Superou o tempo e continua o mesmo! Delicioso!!!

Seu início se deu na Avenida da Paz, em um "Trailer" estacionado na calçada da Avenida, debaixo de um dos vários pés de amêndoas, ali existentes, quase em frente ao Clube Fênix Alagoano, acredito nos meados dos ano 70 até hoje. Logo ganhou fama e a preferência de todos que frequentavam a noite Maceioense, que depois de uma boa noitada, procuravam algum lugar para "encher a pança" fácil, e com um preço mais acessível. Creio que foi um dos pioneiros desse gênero de lanche denominado de "Passaporte". Tinham várias opções de sanduíches, mas o mais famoso de todos era, sem sobra de dúvida o "Passburger"! Nesse eu assino em baixo! Era uma maravilha de sanduíche! Apetitoso e preparado com um suculento bife de carne de primeira, bem temperada, passado na chapa com um pouco de óleo, amassado e virado várias vezes contra a chapa, com a ajuda de uma espátula. A Carne na chapa fumaçava e exalava um cheiro delicioso pelo ar e aí era que a fome aumentava! A barriga parecia até que também sentia e começava a roncar, como que estivesse chamando pelo sanduíche!
Quando o bife estava no ponto, acrescentava-se por cima, o presunto e o queijo prato também passados na chapa.
O queijo prato era um detalhe importante na preparação do delicioso recheio desse sanduíche. Depois o bife, o queijo prato e o presunto eram colocados num pão seda novinho, acrescentadas rodelas de tomate e folhas alface e, para completar esse "baita" sanduíche, era acrescentado o principal ingrediente do sanduíche: A maionese caseira! Pense numa maionese deliciosa! Não sei o que era utilizado a mistura para preparar a maionese. Só sei que dava um sabor inconfundível e especial ao "Passburger". Era o diferencial de todos os passaportes da época. Que maionese maravilhosa!
Por fim, para terminar, bastante ervilha e queijo parmesão ralado. Estava pronto o mais delicioso "Passaporte", de Maceió! Para acompanhar esse delicioso sanduíche, um refrigerante de garrafa bem gelado, de preferência uma coca-cola! Era preciso está com bastante fome para comer todo esse suculento e enorme sanduíche. Dava-se uma gorjeta ao garçom e na baixa ganhava-se uma porção da deliciosa maionese.
Depois de alguns anos, o "Passaporte do Gaúcho", se mudou para a Praça do Sinimbu, embaixo de duas amendoeiras, ao lado de uma pista de aeromodelismo que existia no local, quase em frente ao antigo local e no mesmo "Trailer". O padrão dos saborosos sanduíches continuou o mesmo e a sua freguesia continuou fiel. Estava sempre cheio, principalmente nos finais de semana, quando a turma jovem saía de alguma festa e ia "forrar a barriga", dando uma passadinha por lá para degustar um dos vários e gostosos sanduíches. Pra facilitar a vida dos seus fregueses, foram colocadas algumas mesas em uma parte da calçada e a cerveja bem gelada, passou a fazer parte ao cardápio. Esperava-se o sanduíche ficar pronto tomando uma geladinha e sentindo o cheiro dos sanduíches sendo preparados! O local era bom, mas ficava num ponto que, de certa forma, não oferecia total segurança para os freqüentadores, uma vez que o movimento de veículos, era grande e, se algum acidente ocorresse, poderia colocar em risco a vida dos freqüentadores do Passaporte.
Passados alguns anos o Passaporte do Gaúcho mais uma vez se mudou! Sinceramente não sei qual o motivo. Dessa vez para o início da Praça Santa Rita, no Bairro do Farol em frente a Praça do Centenário. Continuou atendendo num "trailer", só não sabia se ainda era o mesmo de antes. Durante esse período deixei de freqüentar o Passaporte do Gaúcho. Pensei que ele tinha acabado. As vezes sentia muita saudade! Imaginava eu com a boca toda lambusada de maionese, degustando um desse "Passburger". Por fim, após um acordo com a Prefeitura de Maceió, que fazia um trabalho de recuperação e revitalização em várias praças e aquela estava na relação, o Passaporte se mudou para uma casa ao lado da Praça, onde funciona até hoje! Graças a Deus! Até hoje! Aí sim! Seu dono pôde investir e oferecer aos seus clientes um ambiente bem melhor, muito confortável, mais bem arrumado e totalmente limpo. Um salão amplo com inúmeras mesas, com televisão, com WC masculino e feminino... Enfim! Tudo de bom!
Os Clientes podem ver do salão todo o processo de preparação dos sanduíches. Uma divisória de vidro, separa o salão da cozinha, montada toda ela em aço Inox. Tudo muito limpo, um ambiente realmente muito bom! Um local muito agradável! E o principal: as pessoas que ali trabalham, são nota dez!
Passei muitos anos sem comer um Passburger, pois não sabia que ele ainda existia. Mas, certa vez, conversando com um amigo, descobri, por sorte, que o "Passaporte do Gaúcho" que existe naquele endereço era realmente o mesmo da Avenida da Paz! Fiquei ansioso esperando o fim de semana chegar para ir até lá e degustar um baita de de um "Passburger" com bastante maionese, de fabricação caseira. Quando o fim de semana finalmente chegou, estávamos todos lá: eu, minha esposa e as três filhas. Ficamos realmente impressionados, pois o sabor continuava o mesmo de antigamente. Quase todos os sábados passávamos pelo local e levávamos para casa alguns sanduíches para saborear com a família e o "Passburger" não pode faltar. Quando não saíamos, ligávamos e eles mandavam entregar. Essa é uma outra facilidade criada pra facilitar a vida dos seus clientes. Agora podemos pedir porções de maioneses que além da tradicional, tem também sabor azeitona e cenoura!
Apenas um detalhe me chamou a atenção, o bife de carne que era inteiro na época, agora é colocado no pão cortado em pequenos pedaços, mas mesmo assim, não tirou a essência do sabor do sanduíche. Na realidade, o bife é colocado inteiro na chapa e durante o preparo é cortado em pedaços com a espátula.
O queijo prato era o dos referenciais desse Sanduíche. Certa vez, fizemos um pedido e, ao começar a degustar o delicioso sanduíche, notei que o queijo que foi usado, não era o queijo prato. Fiquei indignado com aquela atitude, pois pra mim, estavam tirando a originalidade do Sanduíche que há décadas vinha mantendo o mesmo padrão. Na mesma hora, liguei para lá e reclamei! A desculpa para o uso de um outro queijo, foi muito vazia e, não me convenceu. Insisti ameaçando que iria espalhar para os amigos que também apreciavam o sanduíche, como também fui taxativo de que não iria mais saborear o passiburger! Não sei se me entenderam como cliente e, logo voltaram a colocar no sanduíche, o queijo prato e com isso continuo saboreando, até hoje, esse maravilhoso Sanduíche, chamado de "Passburger"!!!


Nicolau Cavalcanti em 17/07/2012

sábado, 14 de julho de 2012

Bar da Tapa! " A porrada comia no centro!!!"

Funcionava no mesmo local onde funcionou por muitos e muitos anos a Venda do Seu Toledo. Passou a ter esse nome, quando Seu Toledo acabou com a Venda e alugou o ponto para o Sebastião, que era conhecido pela turma como Basto, que depois de uma breve passagem como responsável pelo bar, desistiu da aventura. Não agüentou a pressão da turma e passou o ponto para o Júlio Mamão e o Valmiro. Figuras de "alta periculosidade", que faziam parte da nossa turma, principalmente o Júlio Mamão. Eram dois caras de físicos dobrados que nem "parede de igreja" e metidos a "brabos". O Júlio Mamão trabalhava na Prefeitura, mas era cedido ao Exército e trabalhava no Batalhão de Alistamento Militar. O Valmiro era policial civil e, freqüentava há algum tempo a venda Toledo, mas não fazia parte de fato da nossa turma. Era muito amigo do Júlio.
O local foi totalmente reformado. Ficou bem diferente de quando era a Venda do Seu Toledo.Investiram nos sentido de oferecer o melhor para os fregueses. Colocaram até uma pequena sinuca, se não estou enganado, uma tal “sinuca americana”, que tinha um furo a mais no centro com quatro pinos em volta, formando um quadrado, cuja distância entre um pino e outro passava apenas uma bola de bilhar. Era uma caçapa a mais no centro da sinuca. O Julio e o Valmiro, tinham um cuidado muito grande com o bar. Nesse ponto eram exemplares! Estava sempre limpo e arrumado. A maior preocupação era com a danada da sinuca, uma vez que era alugada e qualquer dano causado a mesma, eram eles que arcariam com o prejuízo. Pra se jogar uma partida, tinha que se comprar fichas que eram colocadas num local próprio na sinuca para liberar as bolas para o jogo. Cada ficha valia uma partida. A sinuca era novidade mesmo e todo mundo queria jogar! Jogava-se sinuca, apostando cerveja ou até mesmo dinheiro. Mas em pequenos valores só pra passar o tempo.
O bar não foi criado com o nome de "Bar da Tapa". Era conhecido como bar do Júlio Mamão, mas depois que aconteceram alguns fatos inusitados e pitorescos, envolvendo os donos, onde o tapa “comeu no centro”, passamos a chamar pelo sugestivo nome de "Bar da Tapa". Os dois não aprovavam a idéia mas, como era apenas uma versão da turma e encarada como brincadeira, acabaram aceitando. O cabra que se metesse a brabo e aprontasse, saía dali na "porrada"! Inclusive todos nós que erámos amigos. Ali se pagava até os centavos. Não tinha esse negócio de "deixa pra lá!". Seus donos negavam essa versão e se diziam pessoas pacatas e de boa índole. Era muito bom! A turma se reunia no Bar para jogar sinuca apostando cerveja ou na maioria das vezes só para passar o tempo e aprontar, pra ver se a coisa pegava fogo e a porrada “comia no centro”. Comíamos o juízo dos dois! Mas sempre acabava tudo bem! Afinal de contas éramos todos amigos. O Missinho, Laurinho conhecido como “tarzan da bunda grande’, Equinho "Pavão", o Geraldo “Cabeção”, o Bebeu o Jarbas “formiga de açúcar” e outros, comandavam a bagunça. Eu apenas ficava assistindo e preparado para correr, se alguma coisa desse errada.
Apareceram por lá, certa vez, dois sujeitos, com cara de quem já tinham tomado “umas quatro”! Sentaram em uma das mesas, pediram uma cerveja, perguntaram se tinha algum tira-gosto e já pediram um prato. O cardápio não era muito variado e as opções eram muito poucas. Logo depois começaram a jogar sinuca e entre uma tacada e outra, tomavam um gole de cerveja. Antes de cada tacada andavam de um lado para o outro em volta da sinuca, buscando a melhor posição para jogar na bola da vez. De repente o Júlio Mamão apareceu trazendo o prato com o apetitoso tira-gosto. Não me lembro bem o que era, só sei que os dois "tacaram" farinha e pimenta malagueta no tira-gosto, mexeram pra lá e pra cá, comeram uma garfada, balançaram a cabeça como que aprovando o sabor, deram aquele sopro, creio pelo forte ardor da pimenta, tomaram um gole de cerveja e continuaram jogando, bebendo e comendo do tira-gosto que, aliás, terminou virando uma verdadeira farofa, pela quantidade de farinha que eles tinham colocado no prato.
Um deles, empolgado com o jogo e atento a jogada do amigo, pegou o prato com o tira-gosto e começou a comer encostado na sinuca, enquanto o outro se preparava para dar aquela tacada tentando "encaçapar" a bola da vez ou arriscar uma tacada numa bola de maior ponto. Pra encurtar a história, numa distração do sujeito que estava com o prato tira-gosto, o prato escorregou da mão do coitado e foi parar exatamente em cima da sinuca. Puta que pariiuuu!!!...porra! Gritou o Júlio Mamão, de olhos arregalados, quando viu o tira gosto, ou melhor, a farofa toda espalhada na sinuca. Vermelho que nem uma pimenta, exclamou em voz alta, quase berrando: Você só sai daqui depois de limpar essa porra e pagar o prejuízo, centavo por centavo! Se não, vai levar porrada! O sujeito, já meio “triscado”, tentou amenizar o estrago e limpar o feutro da sinuca, passando a mão na farofa, complicando ainda mais a situação, não só a dele como da sujeira do freuto da sinuca. O outro sujeito tentando tomar para si as dores do amigo, aí foi que o tempo esquentou! Foi um empurra pra lá, um toma pra cá, o Valmiro, quando viu que a situação estava séria, também entrou na briga, dando tapa pra todo lado. Foi um verdadeiro "Deus nos acuda". Resultado: Os coitados dos caras, ainda cabaleantes pela ação da bebida como também pela encrenca que tinham arrumado, além de apanhar e pagar a conta, com tudo que tinha direito, foram expulsos do bar e creio que nem por perto, passaram nunca mais.
Muitas outras cenas pitorescas desse tipo aconteceram, inclusive com a própria turma. Quando se juntavam o Laurinho, o Missinho, o Haroldo, Geraldo Cabeção e outros e começavam a chamar "Júlio Mamão", com a voz bem fina, principalmente quando ele dava as costas, só pra zonar com ele, o Júlio Mamão no começo apenas ria, mas se a brincadeira continuasse e tivesse algum freguês no local, ele ficava vermelho, serrava os punhos encarava qualquer um e dizia: Parem! Parem! Se não eu vou baixar a porrada em vocês! Quando a coisa esquentava, muitos saiam pra não levar porrada, era o meu caso e, os outros eram expulsos do bar pelo Júlio, na base do empurrão, que nessa hora já estava em tempo de explodir de tão vermelho! O Valmiro só ficava rindo, mas comos dentes serrados doido para entrar na confusão. Acalmado os ânimos, todos nós, um por um ia chegando de mansinho e, mais tarde estava lá toda a turma, novamente.
Lá também tinha o famoso "prego", mas quase ninguém se arriscava a usar essa “facilidade”. Quem não pagasse no dia acertado, estava lascado! deus me livre!
Como já citei, toda a turma frequentava o bar, mas na maioria das vezes só para passar o tempo. Estávamos lá todas as noites e durante o dia, nas horas vagas. Fazíamos muito barulho, dávamos mais trabalho do que lucro, mas embora o Julio Mamão não falasse abertamente, sabíamos que ele gostava da nossa presença no recinto. Dava mais vida ao ambiente e quem passava sempre parava pra tomar "uma", devido ao “movimento” do bar. Tinham os mais velhos, que antes do almoço ou à noite quando voltava do trabalho, tinham que assinar o ponto no Bar e tomar uma "lapada" de cachaça ou de conhaque ou uma cerveja gelada, comprar um maço de cigarros ou apenas pra bater um papo e saber das novidades. Era o caso do Seu Cícero “Marchante”, do Velho Chagas, pai do Geraldo "Cabeçhão", do Pedrão, do Pedro “Canguinha”, bota canguinha nisso! Do Didô “cabeça de navio”, que bebia na base da boca livre a famosa "BL". Era uma criatura muito boa, mas não gostava de pagar. Aliás, falando em Didô, diziam as más línguas, que quando ele ia pro mercado, não levava a famosa cesta de “titara” para trazer a feira. Trazia a feira no boné de tão grande que era a sua cabeça. Ele não gostava de jeito nenhum dessa brincadeira.
Bem, o bar não durou muito. Conflitos financeiros entre os pacatos donos. Passamos bons momentos ali naquele ambiente. Foi muito bom enquanto durou. Sempre é lembrado quando a turma se encontra para tomar uma "gelada" e conversar. O Valmiro desapareceu e o Julio Mamão continuou morando na mesma casa, praticamente enfrente ao Bar, na Av Siqueira Campo.

Nicolau Cavalcanti em 14/07/2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Bar e Sorveteria PIF-PAF! "Aurelina! uma Cerveja!!!"

Funcionava na esquina da Avenida Siqueira Campos com a Travessa Calabar, Ao lado do Cemitério N. S. da Piedade, no bairro do Prado, em Maceió. Foi por muitos anos um dos pontos de encontro da nossa "Patota" e das pessoas que moravam na redondeza. Era conhecido por ter a cerveja sempre bem geladinha. daquelas que quando retirada do congelador ficava toda branquinha. A famosa "véu de noiva", como era chamada na época. Tinha a Brahma e a Antática e, podiam ser tomadas acompanhadas de tira-gostos variados e bem baratinhos, dentre eles: o rim de boi guisado, o camarão barba roxa cozinhado na água e sal, sempre acompanhado de uma bandinha de limão, para temperar e era o mais solicitado. O fígado acebolado e, vários outros pratos, todos deliciosos. Não tinha como resistir a essa dupla maravilhosa!
A turma era muito legal e barulhenta. Discutia-se de tudo: mulheres, futebol, etc... Várias vezes, quando saía da faculdade ia tomar uma cerveja com os colegas de turma que gostavam muito do Bar.
O local era estratégico! Todas as "cocotas" que moravam no bairro do Prado e adjacências, quando voltavam da Praia do Sobral e da Praia da Avenida, tinham de passar praticamente em frente ao bar. Aí era hora de apreciar o “material” e arriscar uma boa paquerada. “Era uma brasa mora!", como dizia o Rei Roberto Carlos!
A frase mais repetida no bar e, que ficou famosa e gravada para sempre na memória daqueles que ali freqüentavam, foi, com certeza: "Aurelina! uma cerveja!". Aurelina era uma das garçonetes do bar. Era uma pessoa muito extrovertida e muito legal. Uma morena "parruda", mas infelizmente comprometida! O seu namorado, um cabra dobrado que nem "parede de igreja", só vivia no bar com um olho na turma e outro na Aurelina. Era muito ciumento! Mas, apesar de tudo, convivíamos muito bem com ele! Tinha também a Severina, era uma criatura bem diferente da Aurelina. Raramente ouvíamos sua voz. Mas, era também uma criatura maravilhosa, assim como a Aurelina. Todos nós que freqüentávamos o bar tínhamos o maior respeito pelas duas. Brincávamos mas, sempre dentro do limite. As duas moravam com os donos do Bar, uma família muito conhecida e respeitada na redondeza, na mesma casa onde também funcionava o Bar.
Ali, além do bom papo, e das brincadeiras entre todos da turma, jogava-se também a famosa “porrinha”, para passar o tempo, e ficar mais divertida a nosa reunião. Éramos viciados! Apostava-se cervejas e tira-gostos e nessa brincadeira sempre tinha no final da brincadeira, um "Cristo", um "pagão" ou um “besta” que, na realidade, era aquele que pagava mais ou, até por vezes, pagava toda a conta! O pior de tudo era a danada da "saideira", que muitas vezes tinha a "ideira", a "saideira" e, nessa brincadeira tíamos de acabar a brincadeira, pois devido ao adiantado da hora, a venda de cerveja era suspensa.
Ali, era sempre de praxe, para matar a ressaca da noite anterior, antes de ir à praia, tomar o famoso refresco de maracujá, feito da fruta fresca e mantido bem geladinho, naquelas máquinas antigas de refrigeração, daquelas que também se faziam sorvetes e picolés. O delicioso refresco era servido em copos americanos de dois tamanhos e, podia ser servido acompanhado de pastel de carne, pão doce e sanduíches variados. Era uma maravilha! O refresco era tão gelado! Mais tão gelado! Que doía a garganta! Tinha também, picolé de vários sabores: côco e maracujá preparados com a verdadeira polpa da fruta, picolé de maçã e de maçã e côco. Esse último tinha duas cores: vermelha, da essência da maçã e a branca pela polpa do côco. Todos fabricados lá no Bar e vendidos enrolados em papel manteiga. Lá, além de tudo isso, tinha também o famoso "prego", que deixava o nosso amigo e o filho do dono do bar, doidinho, todo final de mês, atrás dos maus pagadores que estavam sempre na famosa "lista negra". Meu nome sempre constava dessa lista, mas, apesar do sufoco, sempre pagávamos. Aliás, eram poucos aqueles que não faziam parte da lista.
Passamos realmente bons momentos e fizemos muitos amigos naquele ambiente. Por algum motivo que não me recordo, o Bar fechou suas portas, deixando todos nós com muitas saudades e, ainda hoje, em todas as reuniões da turma, o local sempre é lembrado. Na realidade sempre que passamos pelo local, lembramos dos bons momentos vividos com toda a turma. Hoje no local funciona uma farmácia.

Nicolau Cavalcanti em 11/07/2012