quarta-feira, 15 de agosto de 2012

As "Peladas" na Praia do Sobral: "Sábado quem comandava era o Seu Francisco!!!"

Uma boa opção que a nossa turma tinha nos dias de semana, pela tarde, era as "peladas" na Praia do Sobral, principalmente quando a maré estava baixa. Tínhamos então uma boa faixa de areia úmida, onde as "peladas" se tornavam mais disputadas. Íamos todos nós da turma, de pés descalços pela Rua Vieira Perdigão, chutando de um para o outro, a bola, em direção a praia. Isso numa gritaria danada, chamando a atenção de todos. A medida que íamos em direção a praia, alguns integrantes da turma que moravam na rua se juntavam ao grupo. Era o caso do Mário "Pitota", Mário Veiga e o Carlinhos "Lombra". Todos gentes finíssimas!
Vai aí alguns nomes que participavam da nossa turma de infância e claro! Dos nossos "rachas". Eram nomes estranhos mas não "mordiam": Zequinha "Cientista Maluco", Equinho "Pavão", "Biu Bomba", Beto "Torreiro", Missinho, Francisquinho, Tonho irmão do Francisquinho, Paulinho "Buçú", Carlinhos "Matasma", Jarbão "Formiga de Açucar", "Tomatinho", "Vestibular", Laurinho "Tarzan da bunda grande", Beto seu irmão, "Sapão", Julio "Mamão", "Piaba", Zezinho, Geraldo "Cabeção", João "Bolinha", Bebéu, Aroldo, Everaldo "Ventola" e Eu claro! Mais conhecido como Niel e, a turma comentava que meu nasal era grande, mas nada de apelido oficial! A nossa turma era bem maior! Me desculpem aqueles que não foram citados!
Quando chegávamos na praia, fazíamos a divisão da turma em vários time, se não estou enganado, de cinco jogadores de cada lado, que se revezavam depois de um determinado placar ou depois de um determinado tempo. As traves eram as nossas próprias sandálias havaianas. O "racha" nem se quer começava e a porrada já "comia no centro"! Não tinha quem agüentasse. A bola molhada e melada de areia, era como se fosse lixa. Batia no nosso corpo e deixava a nossa pele vermelha e ardendo como se estivesse arranhada.
As vezes o "racha" só terminava quando o sol já estava se escondendo e aí corríamos todos para o mar para dar aquele mergulho para esfriar e tirar toda a areia do corpo. A água do mar naquela hora, estava morna e nem vontade de sair tínhamos. Pra não parar de vez, ainda brincávamos de "doidinho" dentro do mar. Era um jogo rápido, já que estávamos bastante cansados e ninguém tinha coragem de ficar correndo atrás da bola que era arremessada de jogador pra jogador, impedindo que o "Doido" pegasse a bola. Isso era só para não ficarmos parados. Tínhamos tanta energia que só parávamos quando, praticamente, já era noite. Tinham amigos mais doídos que tiravam o calção e davam mergulhos mostrando a bunda pra o resto da turma. Éramos felizes e não sabíamos.
Mas, tinha uma outra pelada que era muito famosa, pela sua freqüência, pelo dia da semana em que era realizada, pelo horário em que acontecia e pelo seu organizador. Era a famosa "pelada do Seu Francisco", que acontecia todos os sábados, na Praia do Sobral, sempre as 15:00 horas. Só não acontecia, quando o Seu Francisco, por algum motivo excepcional, não podia participar.
Seu Francisco era uma criatura maravilhosa! Pai do Francisquinho(Dr. Francisco), nosso amigo de infância e que também fazia parte da nossa turma. Tanto ele como seu irmão Tonho(Antonio). Tinha uma filha chamada Lourdinha(Maria de Lourdes) e sua esposa chamada de Dona Neobel.
Seu Francisco, era um Senhor aposentado e cujo hobby era colecionar discos. Tinha em casa, uma excelente eletrola e uma coleção de discos de dar inveja. Os seus discos além de ser bem cuidados, eram as meninas de seus olhos. Emprestar! nem pensar! Nos finais de semana, gostava muito de curtir boas músicas em sua eletrola HI-FI. Me lembro que nos finais de semana, antes de começar a ouvir seus LP's, passava pela frente lá de casa com alguns discos na mão e, se dirigia a "Feira do Passarinho", que existia perto lá de casa, para trocar esses discos por outros que não tinha em sua coleção.
Nos finais de semana além de curtir uma boa musica, gostava também de "bater uma bola" com a nossa turma da esquina. Todos nós gostávamos do Velho Francisco. Era uma pessoa alegre e gostava muito de todas as pessoas da nossa turma.
Nos sábados à tarde, já sabíamos, depois das duas horas a turma já ia chegando na esquina, esperando o Seu Francisco aparecer no portão de sua casa com a sua famosa "couraça" na mão, conservada com "sebo" para os gomos de couro na não ressecasse, vestido uma bermuda feita com calça usada ou então um calção de pano muito vendido na época e, uma camisa comum de tecido. O cós, tanto da bermuda como do calção, ficava acima do umbigo. Quando ele tirava a camisa ficava muito engraçado e diferente, o cós acima da cintura, chamava a atenção de todos. Tinha alguns gaiatos que brincando com o Seu Francisco, pediam para que ele levantasse mais um pouco a bermuda ou o calção, dizendo que daquele jeito a peça podia cair. Ele não estava nem aí! Apenas dava a sua tradicional risadinha, e pronto!
Quando ele aparecia no portão era aquela gritaria e uma alegria total da turma. Aí todos nós nos juntávamos a ele que vinha acompanhado dos seus filhos Francisquinho e Tonho que traziam pequenas traves feitas de vergalhão e então partíamos em direção a praia. Todo mundo alegre e ansioso para chegar na praia e iniciar a tão esperada "pelada". Seu Francisco ficava só observado as brincadeiras da turma e dando suas risadas, muito peculiar, por sinal.
Quando chegávamos na praia e íamos formar os times para o jogo, isto é: "chamar os times", aí começava uma tremenda discussão pois, todos queriam ficar com os melhores jogadores. Depois de muita confusão, os times eram escolhidos e aí começava então o jogo. Bem! Aí a "coisa pegava"! Era um "racha" disputadíssimo, onde toda e qualquer jogada era como se fosse a última em busca do gol. Eu sempre fui "canela de pau", até a bola corria de mim. Geralmente era escalado para jogar na defesa. Ficava plantado na frente da trave e, quando a bola vinha, tome "bicuda".
No final do jogo, aquele maravilhoso banho de mar, no mar da Praia do Sobral, pra fechar com chave de ouro a disputadissima "pelada". Não me lembro por que o "racha", acabou. Não sei se foi por que o Francisquinho terminando o curso de Medicina, foi para o Sul do país fazer Residência Médica e, somado a isso o Seu Francisco, mudou de endereço com o resto da família. Mas só sei que sentimos muita falta daquele "racha", principalmente pela presença do nosso saudoso amigo e Mestre, Seu Francisco!
Tanto na ida como na volta da "pelada", íamos também conversando e muitas vezes "fofocando" e contando fatos interessante que aconteceram com a turma durante a semana. Saía cada um caso, que muitas vezes deixava o protagonista "cheio de pernas"! Mas era apenas uma forma de passarmos o tempo até chagarmos na esquina da Casa de Dona Amélia e daí, cada um para sua casa. Será que tinha um passa tempo melhor do que esse? Claro que não!
Muitas vezes acompanhávamos a turma até a praia mas não participávamos do jogo. As vezes por estarmos sem vontade e outras vezes por estarmos com algum problema que impediam a nossa participação na "pelada". Íamos só para acompanhar a turma, uma vez que as brincadeiras eram tão boas que não poderíamos ficar de fora. Na praia dava uma boa caminhada. Por exemplo: íamos até a Praia da Avenida ou então, até a Praia do Trapiche da Barra. Quando voltávamos, a "pelada" estava acabando e aí, juntos dávamos o tradicional mergulho e voltávamos para casa. Não tem dinheiro que pague a lembrança daqueles maravilhosos momentos! Morrerei com todos esses excelentes momentos da nossa vida, na minha mente!!!

Nicolau Cavalcanti em 15/08/2012

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