quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Eu e o Mar: "esse amor é muito antigo e verdadeiro!!!"

Não sei explicar, mas desde criança, sempre gostei de praia, de mar. O cheiro de mar, de maresia, sempre me fez bem! Sempre me atraiu! Ainda me lembro como se fosse hoje, quando era criança, ia com meu Avô Nicolau e minhas irmãs na Praia do Sobral, bem cedinho, por volta das seis horas da manhã. Meu Avô levava um recipiente de vidro, um litro ou uma garrafa e também uma sacola de tecido, daqueles listrados que se usava muito em cadeiras chamadas de "espriguiçosas". O litro era para levar água do mar para casa. Pra que? Não me lembro! Se não me engano, era para colocar no fio terra do rádio. Um monstrengo à valvulas, que só pra funcionar evava um bom tempo. Meu Avô morria de ciumes dele. Já a sacola, levava areia fina pra casa, para "arear" as panelas. Ficava Muito ansioso para chegar logo na praia. Me lembro que descíamos pela Rua Dias Cabral, rua do Hospital de Pronto Socorro e da Santa Casa de Misericórdia, atravessávamos os trilhos e desse ponto em diante até a praia, o acesso era no barro. Me lembro também, que no lado direito da rua, existia uma casa grande rodeada de varanda e que nessa casa morava uma pessoa que provavelmente tinha um distúrbio mental, pois passava o dia na varanda, apoiada nas grades dessa varanda, pulando freneticamente e fazendo caretas. A casa ficava num nível bem acima da rua, bem visível para quem, por ali passava.
Voltando a nossa história, assim que chegávamos a praia, corríamos direto para o mar e dávamos um belo de um mergulho. Demorávamos um pouco brincando na água. Meu Avô enchia a garrafa de água então saíamos. Meu Avô enchia a sacola de areia bem fininha e partíamos de volta pra casa. Antes de voltarmos, ficávamos admirando os navios ancorados próximo ao cais. Ficávamos impressionados com o tamanho daquelas embarcações.
Desde muito cedo já era encantado com a beleza do mar. Nasci e me criei bem perto do mar. Lá de casa, ouvíamos rotineiramente três sons e, que chamavam a nossa atenção: o barulho do mar, principalmente tarde da noite, o apito do trem chegando ou saindo da estação e o apito dos navios ancorados no cais e no mar da Praia do Sobral. Não me lembro o significado desses apitos, apesar de meus avós, terem falados sobre eles.
Sempre que podia, estava na praia. Na foto ao lado, vemos a Praia do Sobral, a Praia do Trapiche da Barra e a Praia do Pontal da barra. Muitas vezes só, Eu e a brisa do mar, perambulando e ouvindo o som estridente das ondas quebrando na praia. Às vezes, o vento assobiava nos meus ouvidos de tão forte como sobrava. Gostava muito da maré seca. Tinha bastante espaço para caminhar. Naqueles momentos, apesar de está só, minha cabeça estava trabalhando a mil por hora, processando um coquetel de idéias e pensamentos sobre a minha pacata boa vida. Muitas vezes, entrava no mar, gesticulando os braços, batendo as mãos com bastante força na água e chamando porra! Porra! e porra! Como se estivesse reprovando as minhas próprias atitudes, pela minha insegurança e pelo o meu medo de enfrentar a realidade da vida.
Pois é! O mar muitas vezes foi o meu "saco de pancadas"! O meu confessionário! O meu confidente! Eu acho que muitas vezes me repreendia, quando desabafava alguma coisa que ele não aprovava, fazendo com que uma onda maior me atingisse. Mas, Eu sempre confiei nele. Não tinha medo de me arriscar nas suas águas. Muitas vezes, junto com a turma, saíamos da Praia da Avenida, nadando em direção ao Cais do Porto, com o objetivo de: olha só a nossa doidice! Cada um de nós, teria de tocar no casco do navio, com os demais assistindo de uma certa distância, uns cinco metros e, depois de todos realizássemos esse ritual, descansávamos um pouco, e depois sem pressa, voltávamos. Levávamos apenas uma bóia de pneu de trator e íamos revezando. Cada um empurrava a bóia alguns metros, passando para outro amigo até o último. Aí tudo se repetia novamente, para não cansar só um amigo. Era melhor ir nadando do que empurrando a bóia. Cansava muito! Na foto abaixo, vemos a Praia da Avenida.
Erámos no mínimo, de oito a dez amigos que participavam dessa aventura. Quem deixasse de cumprir esse ritual, quando chegasse na praia, levava uma boa de uma "lincha" ou então um bom "caldo", nas águas do mar. Mas normalmente todos realizávamos. Sempre fiz isso sem medo. Ao contrário, Gostava muito de fazer!
Tirando a Praia da Avenida, as demais até o Pontal da Barra, não eram confiáveis em relação a segurança dos banhistas. Tinham muita "bacias", buracos formados por correntes marinhas, que eram e são ainda hoje, um grande perigo para os banhistas. Tomava banho em todas elas e nada me aconteceu. Vi muita gente se afogando e até morrer nessas bacias.
Gostava muito de ir a Praia da Avenida da Avenida e observar o trabalho dos mestres carpinteiros, reformando e construindo barcos de pescas em pequenos estaleiros, que nada mais eram do que estruturas feitas de estroncas, na areia da praia cobertas com palhas de coqueiro, existentes no final da Praia da Avenida, onde existia uma vila de pescadores. Recentemente a Prefeitura estava providenciando o remanejamento desses das famílias desses pescadores e não sei como ficou a situação desses pequenos estaleiros. Me perguntava, muito curioso como era que aqueles homens praticamente com o pouco estudo que tinham, conseguiam fazer obras tão perfeitas e seguras. Passava um bom tempo observando o maravilhoso trabalho de artes desses mestres. Ere um belo trabalho artesanal. Pensei inclusive, de quando ganhasse dinheiro, pagaria para um desses mestres, construir um desses barcos, para fazer como aqueles pescadores. Partir em direção ao mar e curtir mais de perto, o encanto desse imponente continente formado de água salgada. Foi realmente só um sonho!
Nas minhas caminhadas, sempre parava também para ver, pescadores puxando suas redes de pescas lançadas ao mar através de jangadas, embarcações muito simples, construídas com pau de jangadas e movida a vela e remo. Tinham também os pescadores amadores que pescavam na beira da praia, utilizando uma vara de bambu e um molinete. Outros pescavam com a "linha de mão". Nada mais era do que uma linha de naylon fina enrolada numa lata de leite ninho, tendo em sua ponta, chumbada e anzóis. Fiquei muito curioso que aquele tipo de pesca com vara e molinete e resolvi encarar esse esporte. Meu amigo Bebéu foi quem teve paciência para me ensinar a arremessar. Era muito bom aluno e, em poucas aulas, estava um verdadeiro pescador. Só não tinha aprendido ainda, a contar as famosas "histórias de pescador"!
Aí a tudo melhorou ainda mais. Durante a semana, pegava minha vara de pesca de bambu, montada por mim, o pé de vara e uma bolsa de "titara" com todos os materiais necessários para uma boa pescaria. Me mandava caminhando até depois da ponte da Salgema, na Praia do Trapiche da Barra. Lá arremessava a linha, colocava a vara no pé de vara e ficava só esperando a fisgada do xaréu, da piraroba, peixes bom de serem fisgados e que lutavam muito para sair da água ou qualquer outro peixe fisgado e, que desse para preparar uma boa peixada. Mas, confesso que, apesar do meu empenho, não tinha sorte com a pescaria.
Enquanto aguardava a vara dá aquela "badocada", avisando que tinha peixe fisgado, ficava tomando banho de mar ou então, ruminando pensamentos que, até sem querer, surgiam do nada em minha mente. Dependendo da "badocada", sabia até qual o tipo de peixe que tinha sido fisgado. Gostava muito de pescar. Era um verdadeiro teste de paciência. Muitas vezes, passava a tarde toda pescando e nada de peixe.
Muitas vezes ficava parado admirando aquela imensidão de água que vinha, despejava toda sua energia e voltava num movimento praticamente sincronizado e cronometrado, como se obedecesse a um ser supremo. Ficava impressionado com a sua grandeza, com a sua imponência e ao mesmo tempo com a sua tranqüilidade. Brincava com as pessoas que se banhavam em sua águas e raramente apelava com elas.
Andei por muitos lugares mas, sempre procurei aqueles que tivessem um pedacinho de mar onde pudesse dar os meus bons mergulhos e relaxar em suas águas. Sempre admirei o mar. Depois que sofri o AVC, ainda não tive coragem para dar um mergulho. Não sei como ele vai reagir quando me vê com as seqüelas deixadas pelo AVC. Será que ele vai se decepcionar quando me ver desse jeito? Sem condições de nadar e mergulhar em suas águas, como fazia antes? Bem! Ele pode pensar tudo de mim mas, sinto muita falta de caminhar pela areia da praia, como normalmente fazia e de curtir a sua beleza. Tenho certeza, que antes morrer terei um cantinho, mesmo que seja simples, para ficar mais próximo do meu amigo e confidente, esse grandioso e maravilhoso mar!!!

Nicolau Cavalcanti em 23/08/2012

Um comentário:

  1. Pai sem comentarios...muito bonito e emocionante. Tenho certeza que o seu amigo sente muito a sua falta tambem, independente de qualquer coisa... Beijo

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