terça-feira, 14 de agosto de 2012

Jogo de botão na calçada da Rua São Domingos: "o tempo passava e nem percebíamos!!!"

Existia um jogo que a nossa turma gostava muito de jogar! Era o "Jogo de Botão". O único amigo da turma que tinha o campo, era o nosso amigo Francisquinho, que lamentavelmente já não está mais com a gente. Foi barbaramente assassinado e, até hoje o caso ainda não foi esclarecido. Alias! Ele não só tinha o campo mas, tinha também o melhor time de botão da turma. Foi por várias vezes, Campeão com o seu time e com a sua forma única de jogar!
O Jogo de Botão, era jogado num campo confeccionado de Madeira Compensada ou de Eucatex. As dimensões do campo, confesso que não me recordo, mas era o suficiente para passarmos horas jogando. O campo era todo demarcado com todas as demarcações de um campo real. A quantidade de botões era a mesma de um time de futebol: dez botões e um goleiro que na época usávamos muito a caixa de fósforo.
Os botões eram em sua maioria, de capas de relógios, escolhidos de acordo com as posições no campo. Os botões de ataques eram mais finos, ou melhor eram mais baixos, pois quando íamos arremessar a bola(botões de camisa) eles faziam com que a bola subisse e cobrisse o goleiro(uma caixa de fósforo) e fazer o gol. Os dois botões da defesa, na realidade não eram botões de capa de relógio, usávamos tampas de vidros de perfumes ou então derretíamos galalite e colocávamos dentro de um medida de leite ninho que vinha dentro da lata de leite ninho, deixava esfriar e então desenformava e estava pronto a defesa. Depois era só dá o acabamento e o polimento com folha de cajueiro brabo e por fim um polimento final com pó de porcelana. Ficava bom de mais.
A defesa tinha de ser de botões mais altos para dificultar a marcação do gol pelo adversário, por isso utilizávamos a tampa de perfumes ou os de galalite. Os demais botões eram também de capas de relógios, um pouco mais altos, para levar a bola da defesa para o ataque, com mais facilidade, quando os mais baixos se encarregavam de arremessar para o gol. Comprávamos capas de relógios usadas e as vezes até novas, em qualquer relojoeiro da época. Tinha um relojoeiro muito famoso, "o médico dos relógios", cuja loja ficava na Rua São José. Fazíamos também botões de casco de côco, mas eu particularmente não gostava. Além do trabalho que dava pra fazer, não eram bons para fazer gols. Para fazer os botões se deslocarem no campo, usava-se palhetas. Mas eu gostava muito era de usar um pente! Os pentes flamengo eram, pra mim, os melhores! Pelo seu tamanho como também pelos seus dentes que facilitavam o deslocamento do botão no campo. De acordo com a inclinação do pente, podíamos arremessar a bola de várias maneiras: rasteira, por cima do goleiro, etc... As traves eram utilizadas as de plásticos de um jogo que era vendido no comércio mas, que só se aproveitávamos as traves. Os botões eram horríveis! Ou então confeccionadas de arame. Tinha até rede de "filó". Os botões de capa de relógio, como eram transparentes colava-se, rostos de jogadores encontrados em revistas, na parte interna da capa. Ficava muito legal.
Para se guardar esses times de botão, pedia-se para alguma pessoa da família que soubesse costurar à maquina, fazer com um pedaço de flanela, um porta botões, onde cada botão tinha o seu lugar individual, inclusive o goleiro. Quem jogava botão, na época, tinha idéia de como era. Antes de cada jogo, os botões eram polidos com pó de porcelana que além de polir tirava possíveis riscos e ficava lisos, facilitando o seu movimento no campo.
A turma fazia campeonato de botão, com tabela, regras, troféu e tudo mais que fosse necessário para que o campeonato acontecesse sem nenhum problema. Durante toda a semana, sempre a tarde, jogávamos o campeonato. Seguindo rigorosamente a tabela e o tempo determinado para cada partida, passávamos a tarde jogando. Tinha até torcida!
O jogo era realizado na Rua São Domingos, na esquina da casa de Dona Amelia ou em qualquer trecho de caçada na rua. O problema era o dono da casa concordar. Durante as partidas, fazíamos muito barulho e, não tinha quem agüentasse. Além de todo o barulho não podia faltar aquele rádio de pilhas, sintonizado em uma das rádios AM que existiam na época, onde passávamos todo o tempo curtindo as maravilhosas músicas da "Jovem Guarda". Era o maior barato!
O campo do Jogo de Botão era colocado na calçada e, os dois jogadores da vez, na maioria do tempo, jogava de joelhos e com a "bunda" pra cima. Tinha aqueles "gaiatos", que quando um dos jogadores dava "bobeira", passavam a mão na bunda dele, tirando muitas vezes, a concentração do coitado do jogador. Tinha jogador que entrava na onda e se rebolava! Aí a "zona" era generalizada. Muitas vezes o jogo não terminava. Surgia uma discussão e pronto. Se não era resolvida logo, a bagunça começava e, alguém aproveitava a confusão e passava a mão no campo, desmanchando todo o esquema tático do jogador. Aí era o fim! Tínhamos de suspender realmente o jogo. Íamos fazer outra coisa e no outro dia dávamos seqüência ao campeonato. Não tenho palavras para descrever aqueles momentos, cujos detalhes me lembro até hoje. A saudade é tanta que, a vontade que dá é de continuar escrevendo se parar!

Nicolau Cavalcanti em 14/08/2012

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