domingo, 12 de agosto de 2012

As brincadeiras debaixo dos Pés de Tamarindo: "jamais esqueceremos!!!"

Os bons anos de minha vida e, com certeza a da nossa maravilhosa turma de infância, passamos na Rua São Domingos, na esquina da casa da Dona Amélia, na Praça da Faculdade de Medicina, na Praia do Sobral e embaixo dos pés de tamarindeiro, que ainda existe na frente do Prédio da Faculdade de Medicina. Passávamos horas e horas brincando nesses lugares e até esquecíamos do tempo. O tempo passava e não dávamos conta de quantas brincadeiras, brincávamos. A rua em frente ao Prédio da Faculdade de Medicina, a Avenida Amazonas, era toda no barro. Tipo de cenário ideal para nossas loucuras.
Na frente do Prédio tinham e tem até hoje, vários pés de arvores grandes e frondosas e, se não estou enganado eram umas quatro ou cinco dessas árvores. Não me lembro que tipos de árvores eram, só sei que existiam no mínimo dois pés de tamarindo(na foto acima, as duas da esquerda) onde, embaixo e trepados neles, costumávamos brincar. Aliás, brincávamos de tudo. Desde "Tarzan", subindo nas árvores e passando de galho em galho, ou também de "pega". Era muito bom e muito arriscado! Mas éramos jovens e adorávamos esse tipo de aventura!
Tínhamos um amigo que chamávamos de Mário "Pitota", apelido colocado em função do seu tamanho: tinha no máximo 1,55 metros de altura. Apesar do tamanho era muito forte e um verdadeiro Tarzan quando estava em cima, nos galhos das árvores. Passava de galho em galho com a maior tranqüilidade, como também fazia isso tanto para subir e como para descer da árvore. Quando não estávamos brincando subíamos nos tamarindeiros para colher e deliciar o seu fruto, que apesar de muito azedo, gostávamos. As vezes subíamos também só pra ficar conversando "miolo de pote"!
Embaixo dos pés de tamarindo, brincávamos de tudo. Desde o pião, onde jogávamos em duplas onde íamos empurrando o pião do adversário até conseguir ultrapassar uma linha limite. Cada jogador tinha direito a uma jogada por vês e iam se alterando até que um dos dois conseguia empurrar o pião do adversário e fazer com ele ultrapassasse a linha limite. Quem conseguisse primeiro, era o vencedor. O pião do adversário era empurrado da seguinte forma: fazia-se o pião rodar, depois com o pião rodando na palma da mão, jogava-se ele de encontro ao pião do adversário, fazendo com que ele se movimentasse em direção a linha limite. Se o pião continuasse rodando, o jogador tinha direto a continuar empurrando o pião do adversário, até quando o pião parasse.
Como prêmio o vencedor tinha direito a dar uma pontada no pião do adversário, com a ponta do pião de uma forma bastante peculiar, utilizando a ponteira(cordão)do pião e o próprio piâo. Tinha pontada que chegava a arrancar pedaços do pião ou até mesmo racha-lo, inutilizando, dessa forma, o pião do adversário. Depois o vencedor jogava com o outro adversário da vez. As vezes ficávamos só dando demonstração de quanto éramos bons. Era maravilhoso! Lamentavelmente hoje só faz parte da nossa memória.
Brincávamos também de "ximbra" ou "bola de gude". Me lembro de três jogos que mais a nossa turma jogava: o jogo do triângulo que jogavam três pessoas. Desenhava-se um triângulo na areia/barro e cada participante colocava uma "ximbra" em cada vértice do triângulo. Riscava-se uma linha limite com uma certa distância do triângulo e então se começava o jogo. A partir da linha limite cada jogador arremessa a "ximbra" em direção ao triângulo tentando ficar o mais próximo possível dele. Se algum jogador acertasse uma das três "ximbra" colocadas no triângulo e conseguisse tirar ela para fora do triângulo essa "ximbra" já era dele. Mas, se durante a aproximação, tirando ou não a "ximbra" do triângulo, a sua bola ficasse dentro do triângulo, o jogador, não só era eliminado, como também perdia a sua "ximbra" e ela era colocada no interior da triângulo, para fazer parte do jogo. Quem ficasse mais próximo do triângulo começava o jogo. O jogo era muito simples. Cada jogador jogava na sua vez, de acordo com a proximidade que ficou do triângulo. A bola era jogada na direção do triângulo e, todas as bolas que o jogador conseguisse tirar do triângulo era sua, mas se por acaso na jogada a sua bola parasse dentro do triângulo, o jogador perdia não só a sua bola mas, também todas as bolas que ganhou durante o jogo.
O jogo terminava quando não tinha mais bolas no triângulo. Era bom de mais! Esse jogo sempre acabava em confusão, principalmente quando algum amigo perdia todas as "ximbras". Porque será que tudo isso acabou?
Um outro jogo de "ximbra", era o jogo dos três buracos. Que consistia em fazer três buracos na terra/barro com um determinada distância iguais entre eles. O início era disputado da seguinte forma: cada jogador arremessava a "ximbra" do primeiro furo ao último. Quem chegasse mais próximo do furo último furo, era quem começava e assim até o último que jogava mais distante. Agora! Se a "ximbra", caísse no furo, o jogador estava eliminado. O Jogo consistia em percorrer os três furos, fazendo a "ximbra" cair em cada um. Ganhava o jogo quem fizesse o percurso de ida e volta, primeiro. Se não estou enganado.
Agora! O mais jogado de todos era o "mata, mata". Não sei se o nome era esse, só sei que gostávamos de jogar esse jogo, porque não tinha limite na quantidade de jogadores e cada jogador eliminado, perdia a " ximbra" para quem o eliminava, como também todas aquelas que ganhou, se por acaso tinha ganho eliminando algum adversário.
Como era o jogo: começava quem ficasse mais próximo de uma linha feita na terra e assim até o último que ficava mais distante da linha. Quem jogasse depois dessa linha era eliminado do jogo.
O jogo terminava quando ficava apenas um jogador. Quando jogávamos esse jogo, era tanta confusão que tinha amigos da turma que saíam antes do jogo acabar. Já por outro lado, tinham amigos que para continuar jogando pediam até "ximbra" emprestada. Gostavam de confusão. Não esqueço jamais esses maravilhosos momentos!
Um outro jogo que gostávamos de jogar era o de "chuncho". Não sei se escreve desse jeito, ou se o nome era exatamente esse. Se não fosse era muito parecido! Só sei que se jogava com um pedaço de arame grosso ou de vergalhão do mais fino, de aproximadamente 30 cm, onde em uma das extremidades se fazia uma ponta, na outra, podia-se dobrar um pedaço do arame, na direção da outra ponta, de aproximadamente 10 cm formando uma espécie de contrapeso e um apoio para jogar o "chincho" e, para traçar o risco unindo dois pontos, durante o jogo.
Esse jogo era muito fácil de jogar, principalmente se o cara tivesse uma boa pontaria. Fazia-se o desenho de um triângulo na terra/areia e cada jogador começava o jogo de cada um dos vértices do triângulo. Era um jogo que só jogavam no máximo três pessoas, claro! O jogo consistia em que cada jogador partindo do seu vértice, circundasse todo o triângulo e prendesse os demais jogadores, evitando que esses pudessem fazer o mesmo. Jogava-se da seguinte forma: pegava-se o "chuncho" na parte pontiaguda e arremessava-se ele de encontro ao chão, de forma que a parte pontiaguda enterrasse na chão e a haste ficasse em pé. Se caísse, perdia a vem. Aí se unia esse ponto ao penúltimo. Por exemplo: se o jogo estivesse começando, esse último furo seria ligado ao vértice e, assim por diante. Existia uma ordem para ver quem começava o jogo. Essa ordem era escolhida traçando-se um risco no chão e cada jogador arremessava o "chuncho" uma vez na direção do risco. Quem ficasse mais próximo do risco, começava e assim era para os demais. Quem acertasse o risco estava eliminado. O jogo terminava quando o jogador conseguia fechar todo o polígono e prender os demais jogadores. Esse jogo era muito interessante, cada jogador dependendo da sua posição, apertava a passagem dos demais jogadores, tornando a partida muito mais disputada. Esse jogo foi que nunca mais vi alguém jogando. Isso faz muito mal para mim! Mas, infelizmente não podemos fazer nada, a não ser escrever sobre ele!!!
Uma outra brincadeira era de atirar em passarinhos que pousavam nas tamarindeiras e calangos que andavam nas paredes do Prédio da Faculdade de Medicina, com "estilingues", mais conhecido na época como "petecas". Fazíamos até campeonato para ver quem acertava mais. Os passarinhos eram mais difíceis mas, os calangos, raramente errávamos o alvo.
Nós mesmos preparávamos as nossas "petecas". Escolhíamos as forquilhas com muito cuidado. Os galhos tinham de ser iguais e a abertura entre os galhos tinha de ser de tal forma que pudesse apoiar adequadamente na mão. Gostávamos de usar os galhos da goiabeira por ser mais resistentes e mais certos. A borracha usada era de pneus de bicicleta. Eram mais elásticas. O couro conseguíamos em qualquer sapateiro, muito comum também na época. Depois era só montar! Depois de montada era só azucrinar a vida dos calangos e dos passarinhos que pousavam nas árvores e os calangos nas paredes da Faculdade! Será que tinha coisa melhor? Claro que não! Ainda hoje sinto saudades!
Anualmente, não me lembro bem em que mês, tinha uma tradicional cavalhada no local. O trecho da rua em frente ao Prédio da Faculdade, era totalmente interditado e ficava totalmente tomado por moradores da redondeza como também de curiosos. Os Cavaleiros chegavam perfilados e montados em seus cavalos, todos enfeitados, uma parte vestido com roupa na cor azul e a outra na cor vermelha. A disputa era exatamente entre os cavaleiros de azul e os de vermelho que montados em seus cavalos, corriam com uma lança em punho, para acertar e soltar e manter na lança uma argola que ficava pendurada através de um grampo numa corda que cruzava de um lado para o outro a rua. Os Cavaleiros carregavam em seus ombros ou presos na sela, vários cortes de lindos tecidos e a cada vez que conseguiam acertar a argola, o cavaleiro oferecia a uma das jovens que estava assistindo a cavalhada, um desses cortes. Era muito bonito! Na época essas coisas além de chamar a atenção de todos, tinha o seu lado bucólico! Nostálgico! Saudoso! Tinha também e, não podia faltar era uma bandinha de pífanos.
Bem! Resumindo: brincávamos bastante e de tudo. Era mesmo um céu em plena terra! Ainda tinha um "racha", onde a trave era de sandália japonesa, o time era formado por apenas três jogadores de cada lado. Jogava-se pés descalços e o campo cujo gramado era o barro da rua. Eita racha bom da "gota serena"! Quem viveu na minha época, viveu os melhores anos de todos os tempos. A nossa turma era uma turma muito legal. Tinha todo tipo de gente, todos maravilhosos!
Escrevi essas memórias, lembrando de tudo na hora em que estava realmente escrevendo. Não quero aqui ser o entendido do assunto, com relação ao descrever corretamente cada jogo. Na realidade, o que quis mostrar, foi o que fazíamos quando éramos garotos!!!

Obs: Fotos copiadas do Google.

Nicolau Cavalcanti em 12/08/2012

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