quarta-feira, 18 de julho de 2012

"A Sopa do Capitulino! Que saudade daquela deliciosa e maravilhosa sopa!!!"

Funcionava numa casa existente em uma das ruas na área onde hoje é o Mercado da Produção, no Bairro da Levada, em Maceió na década de 70. Os mais velhos, que frequentavam o recinto, falavam que o local nunca fechava as portas. Se não estou enganado, era próximo a um Centro de Saúde que ainda existe no local. Atendia as pessoas que trabalhavam no antigo mercado e nas redondezas.
O negócio era o seguinte: sempre depois de uma boa farra quando a turma estava "lisa"! Isto é: sem dinheiro! Isso mesmo! Sem um "puto" no bolso, para depois de uma boa farra, nas noites das sextas ou dos sábados, degustar uma saborosa Macarronada na "Macarronada Eureka, o ponto de encontro dos jovens da época ou então ir a um outro qualquer Restaurante, pegar um “rango” reforçado, pra fechar com "chave de ouro" a noitada: o final era sempre na famosa "Sopa do Capitulino". Éramos bastantes unidos! Só brigávamos na hora de "rachar" a conta! Principalmente nessas horas! Mas no final sobrava até um trocadinho, que era a tradicional gorjeta do garçom que sofria com as nossas brincadeiras. Na Macarronada do Eureka o sofredor era o Basto.
A Sopa do Capitulino como o próprio nome já diz, o prato principal da casa, era uma suculenta Sopa de verdura com carne de  segunda com osso, mas que dava um sabor de primeira no preparo. Para se ter uma idéia, a sopa era preparada com todas as verduras cortadas em pedacinhos e com macarrão "furadinho", também de segunda, quebrado em tamanhos menores, grosso, que mais parecia um canudo. Tudo isso temperado com um tempero que só se fazia alí. Era uma Sopa maravilhosa, cujo sabor, me vem à boca até hoje, sempre que me lembro. Vinha acompanhada de um pão francês e um litro d'água bem gelada! Um litro mesmo! Se o freguês não optasse por um dos vários tipos de refrigerantes. Lá não vendia qualquer tipo de bebida alcoólica. Tinha inclusive pendurado na parede, um aviso: "Não vendemos bebidas alcoólicas. Não insista! A Direção". Em compensação, só chegava por lá a turma biritada, "triscada" e, com várias na cabeça! Íamos pra lá fazer o contrário: curar a "birita"!
Os donos, um casal de meia idade. Eram pessoas excelentes! Se não estou enganado, tinha também uma pessoa que atendia os "fregueses". Ele administrava os pedidos, resolvia qualquer problema com os fregueses e o principal: recebia o pagamento do "prego"! A sua esposa, cuidava de tudo que se referia a cozinha, inclusive do tempero dos pratos ali servidos.
Tinham várias histórias que se contavam, com relação a fatos pitorescos ocorridos e do conhecimento de todas as pessoas que frequentavam a "Sopa do Capitulino". Creio que essa é uma das melhores: Conta-se que certa vez, uma das diversas turmas que freqüentavam a Portuguesa, clube social que existia no Centro da Cidade de Maceió, cujo nome correto era Clube Português de Alagoas, e que também frequentavam a "Sopa do Capitulino", após terem saboreado a maravilhosa sopa com o pão, rabiscou, não sei como e nem porque, as iniciais do nome num dos ossos que eram servidos na sopa. Dias depois, pra espanto de um freguês que também tomava a suculenta sopa, ao pegar o osso para dar aquela “chupadinha” e roer as poucas carnes que vinham nele, se deparou com uma coisa estranha no osso, que chamou sua atenção! Observando melhor essa "coisa estranha", descobriu as iniciais gravadas no danado do osso. O que deu, eu não sei, só sei que a história se espalhou e logo, toda Maceió estava sabendo do fato. Na realidade, tudo não passou tão somente, de uma "simples" brincadeira. E que brincadeira! Apesar da repercussão negativa, a "Sopa do Capitulino" continuou freqüentada por todos aqueles que apreciavam o prato. Pra falar a verdade a Sopa era deliciosa! Maravilhosa! O prato vinha cheio até a borda e, no final só sobrava o osso, assim mesmo, todo roído e bastante chupado! Em cima de cada mesa tinha sempre uma garrafa de um forte e delicioso molho de pimenta malagueta, que, quando colocado na sopa, dava aquele toque final no tempero! Aliás! Dizem as más línguas, que quando se coloca pimenta em um determinado prato é porque a comida não está boa! A pimenta era o molho do prato. Nesse caso não! Era realmente um complemento! Isso pra quem gostasse.
Lá também, além da tradicional Sopa, era servido um outro delicioso prato que não “passava em baixo” da tradicional sopa! Era o famoso "Prato Feito" e era padrão: A carne de boi de segunda guisada, com arroz e macarrão. O detalhe do prato, era o seguinte: A carne era deliciosa! Não tinha tempero igual! O arroz, não sei se porque era de terceira ou de tanto ser requentado, era fofo e tinha o dobro do tamanho normal. O macarrão era daqueles bem grosso e furadinho, do mesmo usado na sopa e o seu molho era a deliciosa "graxa", que nada mais era do que o delicioso caldo grosso da carne guisada. A carne apesar de ser de segunda, era macia tinha um tempero e gosto extraordinários! Era deliciosa! O prato em si, apesar da aparência, era delicioso! Uma maravilha! E o preço, era bem melhor! Tinha ainda na mesa uma garrafa com molho de pimenta malagueta. O mesmo usado na Sopa! A farinha de mandioca, era tão grossa que mais parecia ração. Torradinha e muito gostosa. Era servida num farinheiro redondo, de madeira com a colher também em madeira. Era um conjunto muito usado na época. Não sei nem se ainda existe. Amanhecemos muitas vezes, o dia na "Sopa do Capitulino"! Na realidade era um restaurante muito simples e acredito que atendia as pessoas que trabalhavam também no Mercado que ali já existia. Depois de determinada hora da madrugada, o movimento aumentava e, normalmente quando saímos, o movimento continuava. Não sei quem descobriu aquele lugar, pois "acertou na mosca"! É uma pena que com a construção do Mercado da Produção, o restaurante acabou! Saudade realmente não tem idade! Eu sempre lembrarei desse cantinho! Comi das duas opções de pratos oferecido no cardápio.
É difícil lembrar e escrever essas lembranças em que fomos um dos personagens, pois além da grande saudade dos amigos que juntos participaram desses maravilhosos momentos, o cheiro e o sabor dessas deliciosas comidas, me faz voltar aqueles bons e inesquecíveis tempos!

Nicolau Cavalcanti em 18/07/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário