terça-feira, 31 de julho de 2012

A Venda de Seu Joaquim na rua onde eu morava! Com todo respeito! Era bom demais!!!

Funcionava na Rua Xavier de Brito, esquina com a antiga Rua São Domingos, no Bairro do Prado. Era o ponto de encontro da velha guarda que morava na redondeza e gostava de tomar uma "caninha", durante os anos 60 e boa parte dos anos 70. Ali frequentava todo tipo de gente. Desde Doutores até figuras folclóricas que andavam ou moravam pela redondeza, como o Dr Freitas, Seu Oscar Bringué, e muitos outros. Eram pessoas humildes e estavam sempre presentes na Venda. O Tio Zé, tio do nosso amigo Missinho, também tomava uma por lá. Tinha inclusive um que andava puxando uma cadela vira-lata que atendia pelo nome da esposa de um Senador da época. Segundo conta os mais antigos, esse Senador, mandou dar uma surra no coitado, porque ele quando bebia, andava espalhando que o nobre Senador era "corno". A sua vingança foi colocar o nome da esposa desse Senador, na sua pobre cadelinha. Se não me engano, era chamado de Hélio Doido. Meu Avô por parte de mãe, o Seu Elpídio, o vovô "Pipipa", gostava de tomar umas "caninhas" e também frequentava o local. A grande vantagem era o famoso "prego"! a caderneta de seu Joaquim era bastante pesada pela quantidade de prego" que existia. Até eu fazia parte dessa lista. Muitas vezes pedi até dinheiro pra pegar o ônibus para ir estudar. Seu Joaquim e sua esposa e filha eram pessoas muito generosas.
Seu Joaquim, era um Senhor gordo, baixo, de meia idade, bem claro, bem humorado, meio calvo e os poucos cabelos que restavam na sua cabeça eram todos brancos e sempre cortado bem baixinho. Andava normalmente com a camisa aberta. Era uma pessoa muito legal e gostava muito de ajudar as pessoas. Morava na mesma casa onde funcionava a Venda, com sua esposa, uma filha e dois netos.
A Venda era muito simples e só vendia o básico: Arroz, açúcar, feijão, café, farinha e  macarrão que na época, era acondicionados em embalagens de papel. Tinha também sabão em barras, que na época, as barras eram grandes e ele vendia os pedaços, o querosene que era vendido o litro ou a quantidade que o freguês pudesse pagar, bananola, nêgo-bom, confeito, um tipo de lanche preparado com biscoitos e doce de goiaba, chiclete ping-pong, refrigerantes, etc...
A Venda era um ponto de encontro das pessoas da redondeza que se reuniam para conversar ou tomar uma. O tira-gosto, ou o sujeito levava de casa ou então comia o que tinha por lá. Vendia a cachaça comum, como a a Pitu, a Mucuri e outras vendidas na época. Vendia também a cerveja e o cigarro que era vendido em maço ou então no retalho. Um, dois, três... Quantos o fregues quisesse.
Vendia também algumas misturas que ele mesmo produzia que era de arrombar o estômago de qualquer cristão. Entrava rasgando! Quem não estava acostumado com tamanho bombardeio, se dava muito mal! Tinha uma tal de “raiz de pau”, que era a cachaça com uma mistura de raízes que ele comprava no mercado e só depois de apurada era que estava no ponto para ser ingerida. Tinha a cor cinza escura e muitas pessoas só gostavam de tomar dela. Tinha uma outra que era a cachaça misturada com folhas de figo e que também tinha de ser apurada. Quando apurada ficava com uma cor esverdeada, muito bonita, por sinal. Estava então no ponto. Era também muito apreciada pela freguesia. Lá em casa tinha um pé de figo e Seu Joaquim sempre pedia para eu levar folhas do pé de figo para preparar mais dessa mistura, pois a saída era grande.
Só tinha um porém: só bastava uma lapada para um "bebum" sair soltando "peido", pra todos os lados, sem parar! Tinham alguns inveterados que passavam pela porta lá de casa como estivessem disparando uma metralhadora! Faziam isso na maior naturalidade que nem pareciam que estavam sentido nada. Eram assinantes assíduos e todos dias estavam tomando uma boa "lapada" na Venda do Seu Joaquim.
Eu gostava sempre de parar por lá para ouvir a conversa das pessoas mais velhas pois, apesar de beberem bastante, tinham as suas histórias pra contar. Gostava também de ouvir as resenhas de algumas figuras folclóricas, quando lá se reuniam. Ríamos pra se acabar! O Dr. Freitas, andava sempre vestido de um conjunto de tecido caqui. A garotada gostava de brincar com ele, pois o mesmo tinha a mania de quando bebia, responder quando perguntado: Dr. Freitas é o que? Ele respondia: "Dr. Freitas é um cachorro!!!". Época maravilhosa!

Nicolau Cavalcanti em 31 março de 2012

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