terça-feira, 10 de julho de 2012

Cachorro quente do Lira! Delícia de sanduíche!!!

Só se encontrava e se degustava esse delicioso sanduíche, quando aconteciam as tradicionais festas juninas e a de final de ano no Parque Rodolfo Lins mais conhecido como Praça do Pirulito e que posteriormente passou a acontecer na Praça Afrânio Jorge mais conhecida como Praça da Faculdade de Medicina. Nesses períodos, era montado no local, um Parque de diversões, e toda uma infra-estrutura para atender a contento todas as pessoas que ali freqüentavam. Esse Parque trazia inúmeros brinquedos e novidades, onde a criançada e a turma jovem curtiam bastante. Tinha a roda-gigante, barquinhos, carrocel, tira-prosa, polvo, etc... Isso tudo aconteceu nos meados dos anos 60 até os meados dos anos 70, aqui em Maceió, na época em que o programa "Jovem Guarda" estava no auge. O programa era exibido pela rede Record de Televisão nas tardes de domingo e, ninguém deixava de assistir! Inclusive eu! Quem não tinha televisor em casa, assistia no televizinho, isto é: na televisão do vizinho! Que era o meu caso! A audiência era tão grande que o programa bateu todos os recordes de audiência, desbancando inclusive programas de grande audiência na época. No Parque tinha um serviço de som HI-FI, controlado de um cabine onde as músicas da Jovem Guarda tocavam direto, só sendo interrompida com os anúncios transmitidos por um locutor oficial do parque.
Bem! Vamos continuar a nossa história do sanduíche! Na realidade o Cachorro Quente do Lira era vendido em uma das barraca de zinco, pintada na cor azul, tipo padrão, dentre várias outras que ali eram armadas e, que vendiam comidas variadas e, que também eram utilizadas para outras diversas finalidades.
Essas festas eram festas tradicionais em Maceió, muito esperadas e concorridas por todos Alagoanos mas, principalmente pelos Maceioenses. Os mais jovens iam até lá paquerar, namorar ou simplesmente olhar o movimento e aproveitar um pouco de tudo. Pela criançada que acompanhada dos pais ou responsáveis, iam passear, andar nos mais variados brinquedos ali armados, como também degustar os inúmeros quitutes tradicionais da época, inclusive o saboroso sanduíche. Na realidade, elas gostavam mesmo era de: maçã do amor, pipoca doce e salgada, algodão doce, relete, etc... Os mais velhos, iam também passear, tomar uma cervejinha bem gelada acompanhada de um delicioso "churrasquinho de gato", vendidos nos diversos bares e barracas que tinham instalados na Praça durante os festejos ou simplesmente para ver as apresentações de danças folclóricas, específicas de cada época. Claro! Todos desfilavam orgulhosos com suas roupas e calçados novos, chamadas na época de "domingueira"! Tinham também, várias barracas com diversos jogos tais como: tiro ao alvo, loto, pescaria, argolas, etc... Todos os freqüentadores do parque, jogavam: Homens, mulheres e até crianças quando acompanhadas pelos seus responsáveis.
O cachorro quente do Lira, era muito famoso e mais ainda: muito gostoso! Quando lembro, me dá até água na boca! Era realmente delicioso! O Velho Lira, trabalhava na barraca, juntamente com sua esposa e filhos. Todos ajudavam! Andava de muletas, pois não tinha uma das pernas, amputada na metade da coxa, provavelmente decorrente de algum acidente.
Fazia-se fila para comer o tal sanduíche, que era preparado na hora. O seu delicioso cheiro exalava no ar, atraindo o freguês de longe! O seu recheio era uma mistura de carne moída bem temperada que já vinha pronta de casa. De acordo com Velho Lira, era carne de primeira qualidade, totalmente fresca e misturada na hora do preparo, com um purê de batata inglesa. A proporção dessas partes era o segredo desse maravilhoso recheio. Essa mistura era feita na hora, numa frigideira grande com um pouco de óleo e num velho fogão de quatro bocas, esmaltado, na cor branca e da marca jangada. Daqueles dos famosos cachimbos em cada boca. No final se acrescentava o tomate, a cebola e o pimentão cortados em pequenos pedaços e o cheiro verde e a cebolinha. Misturava-se mais algumas vezes e estava pronto o delicioso e principal ingrediente do sanduíche. As pessoas na fila, ficavam ainda mais agitadas, sabendo que o "rango" estava pra sair. Depois de pronta, essa mistura era colocada num pão seda novinho e por cima do recheio, para completar o sanduíche, era colocada uma camada de tomate e cebola picadinhos. Claro! Se o freguês assim quisesse. Não tinha sanduíche igual! Saía quentinho na hora! Do jeito que o freguês esperava. Iniciava-se então a entrega, obedecendo a ordem de entrega das fichas. Quando a porção da incomparável mistura acabava, uma nova porção era preparada e os fregueses ficavam esperando e fazendo um barulho desgraçado! O coitado do Velho Lira, já era uma pessoa idosa e já não aguentava muito esse fuzuê!
Acompanhava o suculento sanduíche um refrigerante bem geladinho. Tinha coca-cola, guaraná antártica, grapette e crusch em garrafas de vidro que eram conservadas no gelo, dentro de um tonel, protegido em cima por uma camada de pó de serra e um saco de pano que cobria tudo para conservar o gelo por mais tempo. Era realmente, uma verdadeira engenharia! Mais funcionava! O gelo era comprado em barras e quebrado em pequenos pedaços numa fábrica existente ali perto.
Lá se comprava o sanduíche inteiro, a metade do sanduíche ou até mesmo uma fatia de pão com um pouco da deliciosa mistura. O velho Lira fazia qualquer negócio para ganhar dinheiro e não perder o freguês! O freguês tinha ainda a opção de pedir o seu sanduíche para viagem. Era então embrulhado em guardanapo e colocado em um saco de papel.
A turma mais jovem, para comer o juízo do Velho Lira, dizia que a carne moída usada no recheio do sanduíche, era preparada com a parte da perna que ele perdeu. Ele ficava "virado na peste" com aquela brincadeira e mostrava a bengala pra todos, ameaçando dar uma porrada na cabeça de alguém!
O pagamento era feito adiantado e o freguês recebia uma ficha feita de papel de embrulho com um número escrito de caneta, confeccionadas na hora. Não sei como era feito o controle dessas fichas. Descobriu-se depois que alguns gaiatos, metidos a sabições, para comer o delicioso "sanduba, naquele precinho", tentaram falsificar as fichas, mas logo foram descobertos. Não sei o que aconteceu com o Velho Lira e seu famoso cachorro quente! O Velho Lira, pela idade que aparentava ter na época, creio que já deve ter falecido e a família deve ter desistido de continuar vendendo o delicioso sanduíche! que lamentável!!!

Nicolau Cavalcanti em 09/07/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário