domingo, 29 de julho de 2012

Restaurante Graci: "uma maravilhosa e saudosa recordação!!!"

Funcionava ao lado dos fundos do Cine Ideal, na Rua Parque Rio Branco, no Bairro da Levada, e era uma das várias opções que tínhamos, quando terminávamos uma farra e sobrava uma graninha a mais, para tomarmos a saideira e forrássemos a barriga, na década de 70. Raramente íamos lá, para fazer uma farra. O Restaurante tinha um cardápio bastante variado que ia desde a suculenta sopa com pão francês, a macarronada bolonhesa, de lombo e com ovos, também conhecido como bife do olhão. Tinha uma variedade de pratos mais sofisticados e que a gente só via mesmo no cardápio. Na entrada tinha três portas grandes e largas, a principal e uma de cada lado, que embora ficassem abertas, só para ventilar o ambiente, tinha em cada, uma espécie de cavalete que servia de proteção e eram confeccionados em eucatex, daquele todo furadinho, pintados na cor amarela, se não estou enganado e, tinha o nome do Restaurante Graci escrito. Tinham aproximadamente 1,50 metro de altura e na largura da porta. Era uma espécie de tapume para não mostrar o interior do Bar. Ao entrar no recinto, tínhamos o Restaurante propriamente dito: um salão grande com várias mesas bem dispostas, todas forradas e era o local mais escolhido pelos clientes que iam ali fazer qualquer tipo de refeição, tomar uma cerveja bem gelada ou um drinque qualquer. Do lado direito, ficava o balcão, o bar e cozinha. Isto é: O atendimento. No final do salão o WC masculino. Do lado esquerdo, tinha um ambiente reservado, separado por uma meia porta, tipo vai e vem daquelas que aparecia nos bares, nos filmes de cowboy, e no final o WC feminino. Tinham algumas figuras que moravam na redondeza e que eram freqüentadores assíduos do Restaurante. Assinavam o ponto diariamente.
Os garçons eram também conhecidos pela turma mais antiga que freqüentavam o Bar e cada um tinha um apelido e usavam, se não estou enganado, camisa branca, calça preta e gravata borboleta. Aliás, conversando recentemente com um amigo que conheci numa academia onde praticamos exercícios, ele que teve a coragem de ler alguns artigos do meu Blog, lendo esse artigo, me lembrou de um garçom cujo apelido era "Pescoço". Era um sujeito baixo, gordo, cabelos grisalhos penteados pra trás com ajuda de brilhantina e tinha um andar que mais parecia um pinguim. Era uma criatura muito legal e sempre alegre. Lembrou esse meu amigo, que o nosso amigo "Pescoço", quando via a sua turma já sabia e já perguntava de longe: quantas macarronadas à cavalo vão sair?
Certa vez, Eu, Severino Guaxinim e o Negrão Sivanildo, não sei por que cargas d’águas, estávamos tomando uma cerveja no Bar, quando chegou no recinto uma pessoa que tínhamos conhecido tempos atrás e que era dono de um "pega bebo", no mercado existente em frente ao Restaurante, ao lado dos trilhos do trem. Era uma biboca da peste! um verdadeiro “buraco”. Tínhamos tomado, certa vez, umas cervejas no seu “barzinho”, se é que assim podíamos chamar aquela "espelunca". Lá encontrávamos todo tipo de gente, desde o alcoólatra inveterado até os maconheiros famosos da época. O lugar era tão pequeno que ficávamos do lado de fora e o atendimento era feito por um balcão muito estreito, onde dividíamos o espaço cômodos os "clientes". O sanitário era os trilhos do trem. Realmente entrávamos em cada "fria" danada. Entrávamos e saíamos numa boa. Graças a Deus!
O Sujeito chegou ao restaurante, com a cara de quem já tinha tomado "umas quatro", nos reconheceu e pediu para sentar na nossa mesa. Argumentou que tinha acabado de fechar o seu "estabelecimento" e estava querendo tomar uma geladinha e, lá não tinha coragem de tomar. Passava o dia no batente naquele "buraco" e precisava respirar. Claro que concordamos e aí continuamos a tomar nossa cerveja e bater aquele tradicional papo. Estávamos sem dinheiro para continuar a farra e além do mais já estávamos totalmente encharcados de cerveja. Não descia nem mais um gole e resolvemos avisar para o sujeito que iríamos pedir a conta pagar a nossa parte e parar. O sujeito aborrecido falou: "quem deixasse de beber ou fosse embora, pagava a conta". Ficamos sem saber o que fazer. Com medo de parar, pois o sujeito andava com um diabo de uma “capanga” bem grande era moda na época e, não sabíamos se tinha alguma arma escondida na dita cuja. Estávamos realmente sem dinheiro para continuar a farra. Bem! estávamos no mato sem cachorro! se saíssemos teríamos que pagar a conta e, se ficássemos, só Deus sabia o que nos esperava, pois o sujeito além das cervejas que tomamos pediu vários pratos de tira gostos e disse que a conta era dele e se tivéssemos de pagar a conta o dinheiro que tínhamos não dava.
Montamos então um esquema para nos livrar do cara: Fingir que estava bebendo e se mandar quando ele fosse ao banheiro. Aí aconteceu o pior: Lembro de que tentando me livrar da cerveja, virei o copo por baixo da mesa e parte da cerveja caiu em cima do sapato do cidadão. O sujeito espantado, perguntou o que estava acontecendo e expliquei que uma mosca tinha caído no meu copo de cerveja e lamentavelmente tive de jogar o "liquido precioso" fora. Para resumir a história, combinamos com o garçom e pagamos a nossa parte da conta. Quando o dito cujo deu uma chance nós nos mandamos. Passamos um bom tempo sem passar pela redondeza com medo de se deparar com o tal sujeito.
Outra vez eu e o meu colega e grande amigo Severino Guaxinim tínhamos terminado uma farra, não me recordo onde, já estávamos "pra lá de Bagdá" e resolvemos tomar uma sopa para "forrar a pança" e levantar a nossa moral. Escolhemos então o Restaurante Graci. O Guaxinim não conseguia nem falar direito. Estava bêbado "lavado". Eu também estava "triscado". Chegamos ao Graci não sei como. Entramos, sentamos em uma das mesas que tinha encostada na parede e pedimos dois pratos de sopa e uma cerveja para lavar a prensa. O Guaxinim assim que sentou, se debruçou sobre a mesa e se apagou. Dormia que nem uma criança! Não tinha quem fizesse o baixinho acordar. Empurrei pra cá, pra lá e nada. A cerveja não descia mais! Cada gole entrava "rasgando". A sopa chegou e nada do Guaxinim acordar, por mais que eu tentasse. Pedi ajuda ao garçom e depois de várias tentativas conseguimos desperta-lo. Mas o coitado estava tão bêbado que mal conseguia ficar sentado. A escolha da mesa encostada na parede, foi providencial. Coloquei o prato de sopa perto dele e começamos a tentar tomar a sopa. A sopa estava muito deliciosa mas já estava começando a esfriar. O Severino nem conseguia levantar a colher para tomar a sopa e aí, de repente, deu uma cochilada maior e meteu a mão no prato e derrubou foi tudo. Foi sopa e prato pra todos os lados. Foi uma meladeira danada, caiu sopa na mesa, em cima do coitado e mesmo assim o Guaxinim não despertou e só fazia mesmo era resmungar. Pedi mais uma vez ajuda ao garçom e com muito sacrifício conseguimos “limpar tudo”.
Esperei mais um bom tempo e aí consegui mais uma vez despertá-lo. Paguei a conta e saímos andando em ziguezague, um tombando para um lado e o outro para o outro. Deixei o Guaxinim em casa e depois parti sozinho pra minha. Graças a Deus, consegui chegar em casa, são e salvo, mas não sei como! Eu e meu amigo Guaxinim aprontamos muitas. Deixamos muitas vezes os nossos familiares muito preocupados pois muitas vezes saíamos nas sextas-feiras e só voltávamos na segunda.

Nicolau Cavalcanti em 29/07/2012

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