sábado, 21 de julho de 2012

A "Marujada" apareceu de repente! "Se corresse o bicho pegava, se ficasse o bicho comia"!!!

Essa história muito interessante e cheia de emoções, e que emoções! É simplesmente verídica e, aconteceu no final dos anos 60 e início dos anos 70. Realmente não me lembro exatamente do ano, mas que aconteceu, aconteceu! Fui inclusive um dos protagonistas e graças a Deus, estou aqui para conta-la!
O grande responsável pelos fatos abaixo relatados, claro que não o fez com o propósito de desencadear tamanho reboliço e tanta agitação, numa tranqüila, calma e ensolarada tarde de sábado. Até porque já tínhamos aprontamos muitas dessas loucuras e, sempre saíamos bem! Essa criatura da qual estou falando é, nada mais nada menos, do que o nosso grande e saudoso amigo Jarbas. Jarbinha ou Jarbão, como era chamado por todos nós! Lamentavelmente essa maravilhosa criatura já não está mais com a gente. Mas com certeza, por tudo que fez por aqui, deixou o seu legado.
Sim, mas vamos lá pros "entretantos": Antigamente, existia em Maceió a Escola de Aprendizes de Marinheiros de Alagoas, que tinha as suas instalações no bairro do Pontal da Barra, no local onde hoje funciona o DETRAN. Era uma Escola de formação da Marinha do Brasil e recebia alunos de vários estados do Brasil. Todo final de ano, era muito comum ver em Maceió grupos e mais grupos de "Apendrizes" que vinham de outros estados e ficavam alojados na Escola, pois a escola funcionava em regime de internato e tinha uma boa estrutura montada para receber a todos. Creio que havia uma espécie de intercâmbio entre as várias escolas espalhadas pelo Brasil, por isso que a demanda aumentada nessa época do ano. Normalmente no final de ano e no carnaval.
Os "Marujos" eram logo reconhecidos, pois além do corte do cabelo típico de militar, só andavam em grupos. Raramente se via marinheiro andando sozinho pela cidade. Creio que era até uma acordo entre eles, para evitar que algum problema viesse a ocorrer e não tivesse a cobertura dos demais. Eram metidos a donos do mundo e gostavam de se meter em confusão e fazer baderna em todos os lugares que chegavam, principalmente quando "enchiam a cara de "mé"!
No carnaval, a Praça Moleque Namorador no bairro da Ponta Grossa, era palco de um dos mais animados e tradicionais carnavais de Maceió. O frevo dominava a Praça e o foliões num ritmo alucinante pulavam ao som de várias orquestras que se revezavam para oferecer o que tinha de melhor em matéria de frevos e marchinhas de carnaval. Quando tocavam o famoso frevo "vassourinha", aí os foliões endoidavam e poeira subia, suor escorria e os foliões não estavam nem aí! O que queriam mesmo era se divertir e aproveitar o Reinado de Momo. Os foliões pulavam rodeando a Praça num determinado sentido, continuamente. Era bom demais! Ninguém se atrevia a fazer o percurso ao contrário pois, era como "remar contra a maré"! Quando os marinheiros chegavam na Praça, não sei se bêbados mas, mal intencionados, não respeitavam ninguém e o que era carnaval, virava bagunça, pois entravam na folia e no meio da multidão começavam empurrar os foliões, tentando fazer o percurso no sentido contrário ao dos foliões e, aí o "bicho pegava"! Era uma confusão desgraçada, saía porrada pra todos os lados e os "marujos" tanto batiam como também levavam! Eles gostavam de escolher um coitado e batiam com vontade nessa criatura para que quem observasse a cena, ficasse cismado e com medo de enfrentar a "marujada". Faziam uma baderna danada e depois se mandavam.
Claro que tinham muitos que não seguiam essa regra. Realmente iam apenas para aproveitar a festa. Muitas vezes a Polícia tinha de interceder e acalmar os ânimos. Isso acontecia também no SESC e no SESI, onde tinham também os famosos "Bailes de Carnaval" e os ingressos eram vendidos a preços "módicos". Mesmo com toda valentia, os "marujos" também apanhavam. Quando encontrava a turma que servia o Exército na época, aí era que apanhavam mesmo!
Aconteceu que: em uma tranqüila tarde de sábado, estavam na esquina da casa de Dona Amélia, local onde a turma normalmente costumava ficar, o nosso amigo Jarbas e outros que amigos, quando passou pela Avenida Siqueira Campos, um grupo de marinheiros. Eram no mínimo uns cinco, segundo o nosso saudoso amigo Jarbas. No meio deles havia um “Negão”, aparentando ter aproximadamente quase dois metros de altura. Um verdadeiro “galalau”! De cor preta, daquela cor preta "retinta" e, dobrado que nem "parede e igreja".
Quando o "marujada" passou e já estava a uma certa distância da esquina o Jarbinha, como sempre gostava de fazer, encolhido entre os demais, gritou se referindo ao “Negão”: "Escureceu"! "Escureceeeeu..."! O “Negão” olhou para trás, encarou a turma e continuou andando e acredito que pensando: "me aguardem, seus filhos de uma rapariga"! E, dando as costas, foi embora acompanhando o restante do grupo. O Jarbinha aproveitando a "bobeira do galalau", gritou mais uma vez chamando o “Negão” de "Escureceeeeu"! Mas dessa vez, com toda a força que tinha nos pulmões! Bem, depois disso, o Jarbinha e restante da turma que estava na esquina foram todos embora! Se mandaram!
Como era de costume, sempre tinha alguém da turma na esquina. Saía uma turma, logo chegava outra. Foi o que aconteceu naquela tarde, quando Eu, Beto "Torreiro", "Biu Bomba", "Pujú", Paulinho "Buçu" e o próprio Jarbas, chegamos à esquina! Chegamos alegres e descontraídos, sentamos na calçada e começamos a conversar sem perceber a armadilha que a turma de "Marujos", aprontava para nós. E o pior era que dessa vez a "Marujada" tinha razão! Estávamos realmente distraídos, quando de repente, apareceu um baita de um “Negão” na nossa frente e apontando pra nós, disse para os demais do grupo que o acompanhava. Eram no mínimo dez! Cada um mais forte do que o outro! Parece até que tinham sido escolhidos a dedo! Se posicionaram à nossa frente: Foi essa turma aí! Vamos mostrar para esses vagabundos quem é "Escureceu"! Disse o "Negão"! Aí a situação escureceu foi pra nós! O "cacete" começou! Para nosso azar, estávamos sentados na calçada o que facilitou o ataque da "Marujada". Além do mais, éramos apenas cinco. Até nesse ponto os "Marujos" eram covardes! Começaram dando chutes em todos nós. Só se via e ouvia as canelas da "Marujada" passar e estalar nas nossas. O Paulinho "Buçu" e Beto Torreiro, por sorte, conseguiram se levantar e correram em direção à Rua São Domingos e nada aconteceu com eles, a não ser o susto e alguns pontapés. O Beto "Torreiro" estava com um rádio de pilhas na mão. Ao se levantar, levou uma porrada nos braços, com isso o rádio soltou da sua mão e num rápido movimento, conseguiu resgata-lo de volta e, tome "pique"! O Jarbinha, também logo se livrou assim que a confusão começou e correu na direção de sua casa, levou uns tapinhas mas escapou ileso. Até nisso o nosso amigo tinha sorte! Só restou Eu, o "Biu Bomba" e o "Pujú". Eu e o "Biu Bomba" corremos em direção à Praça da Faculdade, pensando que tínhamos escapado dos chutes e das porradas da "Marujada". Aí aconteceu o pior! A Praça estava era cheia desses malditos "Aprendizes"! Tinham pra mais de vinte, todos de punhos cerrados nos aguardando, para também baixar o cassete! Passamos por uma verdadeira barreira humana. Humana não! De "brutamontes"! Levando murros, chutes, tapas, puxavantes, rasgaram nossas camisas, tentando nos agarrar. Graças a Deus, isso não aconteceu. Se não teria sido bem pior! Não sei o que seria de nós! Corríamos tanto! Mais tanto! Que parecia até que tínhamos uma turbina no centro do traseiro! Perdemos nossas sandálias havaianas e, mesmo assim, não parávamos de correr e driblar cada um daqueles "filhos da puta" que surgiam à nossa frente. Driblávamos mais do que o Mané Garrincha, nos seus tempos áureos! Não tínhamos para onde fugir. Já estávamos bastante cansados, sem saber até quando iríamos agüentar aquele sufoco. Pensamos até que eles iriam nos alcançar e acabar com a gente. Olhamos para um lado e para o outro e não víamos nenhuma saída. Pedíamos a Deus para nos ajudar e nos livrar daquela situação. Foi aí que de repente, avistamos uma turma de "Feras" de medicina da Escola de Ciências Médicas que estava em greve e acampada em um galpão existente na Avenida Siqueira Campos, em frente a Praça e, todos que lá estavam olhavam assustados para tudo o que estava acontecendo. sem entender o que realmente estava acontecendo. Aceleramos o passo num último esforço, pois além de exaustos do "pique" em que vínhamos, já tínhamos apanhado bastante e sentíamos que mais algumas passadas, seríamos alcançados por aquele bando de "Marujos". Decidimos então partir em direção ao galpão. Era a única saída e última chance que tínhamos e não podíamos desperdiça-la. Tinha que dá certo! Quando a turma percebeu que nós dois e um bando de marinheiros estávamos indo na direção do galpão, começaram a gritar e entrar correndo para o interior do galpão, pedindo socorro. Já estávamos muito próximos, atravessamos a Avenida e já na calçada do galpão alguns "Feras", os últimos a entrarem no galpão, já estavam baixando o enorme de portão de ferro, daqueles de enrolar quando nós, já abaixados e pedindo socorro, conseguimos entrar de portão à dentro e graças a Deus, chegamos ao interior do galpão! A turma de "Feras" conseguiu, por sorte, fechar o portão, mas mesmo assim estavam muito assustados. O bando de marinheiros, do lado de fora, ficou nos encarando, bufando de raiva, dizendo palavrões e balançando o portão, querendo entrar a todo custo, para saciar a sua sede de vingança. Não conseguíamos dar uma palavra, mal conseguíamos respirar como também ficar de pé! O coração só faltava sair pela boca! As nossas pernas tremiam mais do que "vara verde"! Estávamos totalmente pálidos, sem um pingo de sangue na pele. A boca estava seca e com uma saliva grossa na língua e estávamos também, morrendo de sede. Suava mais do que "tampa de chaleira". As pessoas ainda assustadas tentavam nos ajudar e ao mesmo tempo espantar a turma de marinheiros. Não sei como, mas de repente e aos poucos, foram indo embora e graças a Deus! desapareceram!
Ficamos um bom tempo no interior do galpão e só saímos quando a situação estava realmente segura. Antes de saírmos pedimos mil desculpas a turma de "feras" de medicina, mostrando que nada tínhamos a ver com tudo aquilo que estava acontecendo. Na realidade "estávamos no lugar errado na hora errada!". Na frente do galpão tinham muitos curiosos de olhos arregalados e doidos por novidades. Saímos cabisbaixos, muito envergonhados e nos dirigimos para a esquina onde tudo tinha começado e o tumulto estava generalizado. Havia um zum, zum, zum danado de todos que esperavam a gente voltar para saber o que realmente tinha acontecido e se estávamos de fato bem.
Enquanto tudo aquilo acontecia com a gente, soubemos que o nosso amigo Pujú, não teve a mesma “sorte” que a gente. Bem, sorte não seria a palavra mais certa, pois apanhamos e levamos muitas porradas mas, estávamos bem! Ele, coitado, quando tentou se levantar, na hora em que os marinheiros chegaram na esquina, recebeu uma bela de uma rasteira de um dos "marujos" e não suportando a porrada nas canelas, caiu na rua e a "marujada", sem um pingo de dó, pulou em cima do coitado e "baixou a lenha" e só o largou no meio da Avenida Siqueira Campos, bem perto da porta de sua casa, quando tiveram certeza de que o coitado estava bem "amaciado", como se faz com bife de carne de segunda: bate-se bastante para amacia-lo!
Toda a redondeza soube do ocorrido. Muitos vizinhos, foram lá em casa para saber como Eu estava. A noite na esquina, foi o assunto mais comentado e servimos de gozação para todos que lá estiveram. Esse papo durou um bom tempo e ainda hoje comentamos, em nossas reuniões. No outro dia, acordamos todo arrebentado e com vários hematomas pelo corpo e, quando nos encontramos, na esquina, rimos de toda aquela confusão. É como já citei: "Estávamos no lugar errado na hora errada!!!".
Depois desse episódio, quando estávamos na esquina, ficávamos sempre observando o movimento na Praça para não sermos surpreendidos com mais uma dessas desagradáveis surpresas! Algum movimento diferente: "pernas pra que te quero", ligávamos a turbina e saíamos em disparada para casa! "Melhor prevenir do que remediar"! Todos esse fatos, me faz lembrar de como era maravilhosa aquela vida cheia de aventuras. Muitas vezes ganhando mas também muitas vezes perdendo!!! Pra nossa turma o importante era fazer! "O que desse, eram outros quinhentos!!!".

Nicolau Cavalcanti em 20/07/2012

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