quinta-feira, 26 de julho de 2012

Dia 07 de setembro de 2009! "o dia que nasci novamente e estou aqui para contar a história!!!"

Era um feriado prolongado. No dia anterior em que fui acometido de um AVC, um domingo ensolarado, saí com minha esposa e minha filha mais nova pra almoçar. Escolhemos um restaurante mais próximo de casa, pois era um fim de semana prolongado e as estradas estavam muito movimentadas. Fomos então ao Restaurante Carne de Sol do Picuí, localizado na Avenida da Paz, no Centro de Maceió. Lá é servida a carne de sol mais deliciosa de Maceió. Ao chegarmos ao restaurante, tivemos de aguardar um pouco, pois todas as mesas estavam ocupadas em virtude da grande quantidade de turista que começavam a chegar nessa época em Maceió. Situação que não gosto de enfrentar. Mas não demorou muito e já estávamos sentados à mesa fazendo o nosso pedido. Pedimos para o almoço, um prato delicioso, claro! Com a famosa carne do sol do Picuí.
Enquanto esperávamos o almoço sair, tomei umas duas cervejas com minha esposa, com alguns deliciosos petiscos servidos na mesa pelos vários garçons, que faziam esse trabalho. Comecei a me empolgar e pedi então, uma dose de uma boa cachaça mineira. Não sou acostumado a beber cachaça, mas lendo o cardápio, vi que ali servia cachaça mineira, então resolvi experimentar. Ao tomar a dose, senti que ela entrou como se diz no popular: “Rasgando”! Mas nada que me deixasse preocupado. Bem! Almoçamos! Diga-se de passagem, muito bem! A comida estava deliciosa! Não só a carne, mas também todos os acompanhamentos!
Ao voltar para casa, como era feriado no dia seguinte, 07 de setembro, chamei meu cunhado, que é meu vizinho e que já estava tomando "uma" e sua casa e, então continuamos bebendo até "umas horas"! Claro, ouvindo uma boa música, conversando “miolo de pote” e beliscando “qualquer coisa”, como petisco.
Terminada a farra, isso lá por volta das 19:00 horas, tomei um bom banho e como era de praxe, fiz um lanche reforçado e logo que terminei, caí na cama. Não esperei nem a comida assentar no estômago. Dormi que nem uma “pedra”! Confesso que até então, não tinha sentido nada que me chamasse atenção a não ser o meu ronco que já era alto por vida e, quando bebia não tinha que agüentasse! Minha esposa passava a noite me acordando e reclamando que não conseguia dormir. O pior era que ela tinha razão. No outro dia, 07 de setembro, acordei por volta das 08:30 horas com vontade de ir ao banheiro tirar “a água do joelho”! Sentei na cama e logo que sentei, senti que minha cabeça estava inclinada para frente, uma saliva escorria pelo canto direito da boca e também fazia uma espécie de som como se estivesse roncando. Não conseguia parar com aquilo, mas nem me passou pela cabeça, em momento nenhum, que eu estava sendo vítima de um AVC ou qualquer outro tipo de enfermidade. Levantei da cama e minha cabeça estava tão inclinada para frente que ao caminhar, dei uns três a quatro passos e o meu óculos caiu. Tentei pegar com a minha mão direita e, mais por mais que tentasse não conseguia. Era como eu tivesse perdido o controle do meu braço e da minha mão. Chamei um belo de um palavrão e peguei o dito cujo com a mão esquerda, pois a essa altura, não conseguia mais segurar a urina na bexiga.
Caminhei rapidamente para o banheiro, fechei a porta por dentro, pois era uma mania errada que tinha e tirando rapidamente o pijama, fui direto sentar no sanitário, pois já tinha começado a urinar sem conseguir controlar essa vontade. Situação essa, que não era comum para mim. Sentado no sanitário, observei que os sintomas permaneciam os mesmos: Cabeça baixa, babando e roncando. Continuava sem saber o que estava acontecendo comigo. Não passou jamais pela minha cabeça, que estava tendo um AVC. Resolvi então matar minha curiosidade e olhar no espelho se alguma coisa estranha estava acontecendo com minha cabeça, pois apesar de tudo, ainda não tinha perdido os movimentos dos membros do lado direito do meu corpo. Se realmente tinha, ainda não tinha percebido. Pelo menos essa era a sensação que tinha. Ao fazer o movimento para me levantar, apoiando os pés no chão, aconteceu então a grande surpresa: Levei uma tremenda de uma queda! Mesmo assim, ainda não tinha me tocado que tinha sofrido um AVC. Só quando, ao tentar me levantar, senti que realmente o lado direito do meu corpo estava sem qualquer movimento e que tinha realmente sofrido um AVC. Aí sim, senti que o meu caso era sério e teria de pedir ajuda, pois apesar do esforço para me levantar, não conseguia de jeito nenhum. Estava prostrado no chão, muito assustado com aquilo tudo que acontecia comigo e, a princípio, sem saber como faria para pedir socorro e me livrar daquela situação.
Ouvi a voz de minha esposa no nosso quarto e tentei chamá-la. Quem foi que disse que conseguia falar claramente qualquer palavra? A voz estava totalmente embolada! Já estava muito assustado e nervoso! Fiquei ainda mais assustado, quando notei que até isso, não conseguia fazer. E agora! Murmurei mais alto algo parecido com o nome dela, pedindo ajuda e ela me respondeu perguntando se eu já tinha começado o dia com minhas brincadeiras! Antes fosse! Ela ainda não tinha notado de que algo errado estava acontecendo comigo. Insisti ainda mais alto ainda e foi aí que ela com a voz assustada, me perguntou: Nicolau! Nicolau! Está tudo bem com você? Como não tinha como fazer com que ela entendesse o que estava se passando comigo naquele momento, pois a voz não ajudava, a coitada então começou a chorar e batendo repetidamente na porta, implorava para que eu abrisse a mesma. Tentou arrombar a porta e como não conseguia, correu para o quarto vizinho e chamou a nossa filha mais nova, a Renatinha, que ao ver a mãe naquele estado, já entrou no meu quarto, aos prantos! Aí a situação piorou ainda mais! As duas choravam muito e, nada resolviam.
Como já tinha consciência da minha situação e o sangue nas veias já tinha esfriado, senti que com calma poderia tentar passar alguma informação para tentar ajuda-las resolver esse problema, pois apesar de tudo, estava lúcido e não tinha sofrido qualquer tipo de lesão na queda. Então falei calmamente para as duas: “Prestem atenção! Sofri um derrame, levei uma queda, mas estou bem! Só não posso me levantar! Chame o seu irmão para arrombar a porta do banheiro e ligue para o SAMU para enviar uma ambulância para me socorrer e me levar para o hospital”. Creio que entenderam o meu recado, pois rapidinho, não só seu irmão estava tentando abrir a porta, como também vários vizinhos que moram nos prédios em frente a nossa casa, que ouviram minha filha chamando o seu tio e chorando aos prantos, desceram e também começaram a ajudar. Enquanto isso, meu cunhado fez um furo na porta próximo ao ferrolho por onde minha esposa colocou a mão e, eu mesmo caído, orientei como ela deveria fazer com a mão para abrir o ferrolho. Em seguida me colocaram na cama e me vestiram uma roupa para ir para o Hospital. Chorei bastante depois que me retiram do banheiro, a medida que ficava mais claro na minha mente a minha situação. Graças a Deus! A SAMU chegou! Vou contar uma verdade: Espero que ninguém nunca precise utilizar a SAMU, mais fiquei impressionado com a rapidez e o pronto atendimento do pessoal! Estão todos de parabéns! Fizeram todos os procedimentos de praxe, para o meu caso e em menos de quinze minutos já estava no hospital Arthur Ramos, que fica a menos de cinco minutos de minha casa recebendo os primeiros socorros da equipe de plantão. Gostaria de abrir um parêntese e agradecer a equipe da SAMU e a todas as pessoa que junto com a minha família me socorreram. Foram fundamentais!
Numa primeira avaliação foi constatado realmente que tinha sofrido um AVC e que a minhas condições vitais eram boas e que não precisaria ir para UTI. Ufa! Menos mal! Colheram sangue para alguns exames de rotina, aferiram minha pressão e por fim, me deram alguns remédios.
Passei o resto da manhã num ambulatório em observação e no início da tarde fui para um apartamento. Foi muito bom, pois ficamos mais a vontade eu e minha família e então podemos relaxar e por os pés no chão e traçar um plano emergencial para lidarmos com aquela situação. Na mesma tarde fui levado para fazer um exame de tomografia computadorizada da cabeça para verificar qual tipo de AVC tinha sofrido: Isquêmico ou hemorrágico. Ficou então constatado de acordo com o laudo do exame, que eu tinha sofrido um AVC do tipo isquêmico, segundo a neurologista, o exame ainda não mostrava a área do cérebro afetada. Se tivesse sofrido um AVC hemorrágico, já teria aparecido a área afetada nesse primeiro exame. Fiz também outro exame e se não me engano foi uma ultra-sonografia colorida das carótidas.
Nos demais dias, a rotina era a mesma: Remédios, fisioterapia de leve, assistir televisão, receber muitas visitas de parentes, amigos e colegas de trabalho. Se não estou enganado, na primeira semana de internação recebemos mais de cento e vinte visitas muito importantes de parentes, colegas de trabalho e amigos. Na maioria das vezes, a cada visita eu chorava, pois como já tinha comentado , estava com os nervos à flor da pele. O pior de tudo foi digerir essa nova situação. Dormi bom e acordei sem poder fazer praticamente nada.
Nessa fase, a rotina de minha família mudou radicalmente. As minhas filhas se revezavam durante o dia para tentar conciliar estudo, estágios, trabalho, etc... Para ficar pelo menos um horário comigo. A minha esposa, além de revezar também o seu tempo com minhas filhas, dormia todos os dias comigo.
Não só de preocupação e tristeza se vivia no meu apartamento. Quando toda a nossa família estava reunida o ambiente ficava muito alegre. Brincavam com a minha situação, riam muito, quando eu tentava falar alguma coisa e a língua enrolava e não saía "patavinas" nenhuma. Faziam de mim, “gato e sapato”. Um negócio que mudou radicalmente, foi a minha alimentação. Passei a seguir um regime muito rígido, coisa que até hoje venho seguindo. Estava muito gordo, na época e era fundamental que perdesse alguns quilos, alguns não, vários.
Aconteceu inclusive comigo e minha esposa um fato muito interessante e no mínimo pitoresco! Todo dia tomava banho e ia até o banheiro com a ajuda de um enfermeiro. Lá, eu me virava com a ajuda de minha esposa. Certo dia, decidimos então fazer tudo, sem a ajuda de ninguém. Só nós dois. Saímos então agarrados um ao outro se arrastando até o banheiro. Lá ficava sentado numa cadeira e tomava meu banho tranqüilo. Terminei de tomar banho, enxuguei meu corpo com a ajuda de minha esposa e enrolado na toalha, partimos da volta para o quarto, para vestir uma roupa limpa. Eu escorado na minha esposa e juntos um segurando o outro, seguimos com o nosso passo que nem de tartaruga podíamos chamar! Estávamos já conseguindo chegar à cama, quando de repente: Perdi o equilíbrio e fomos caindo em câmara lenta. Fazíamos um esforço danado para não cair. Eu tentando me segurar nela e também segurar ela. O mesmo aconteceu com ela. Nesse cai, mas não cai, o que caiu mesmo, foi a minha toalha. Não agüentamos ver aquela cena bizarra e, caímos na gargalhada! Não existe um ditado que diz: “o céu é o limite”, no nosso caso foi o contrário: “o chão é o limite”. Só paramos lógico, no chão. Agora imaginem a cena: eu pelado, nu com a mão no bolso, sem poder me levantar, mesmo com a ajuda da minha esposa! Na realidade continuávamos rindo pra se acabar e não tinha esforço que desse resultado. Então ela levantou, me cobriu com a toalha e saiu correndo para pedir socorro. Chegaram então duas enfermeiras para ajudar e rapidinho já estava sentado na cama colocando uma roupa limpa. Foi realmente muito engraçado e até hoje quando lembramos ou contamos para alguém, ainda damos umas boas risadas!
Passei dez dias internado. E assim que recebi alta, voltei para casa. Agora ia começar a minha adaptação nas tarefas diária. Seria um longo aprendizado. A minha família, principalmente a minha esposa Fatima, sofreu bastante com tudo isso. Voltei para casa utilizando cadeira de rodas para me deslocar. Pense no sufoco! Depois contarei essa nova fase que não foi nada fácil para todos nós!!!

Nicolau Cavalcanti em 26/07/2012

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