segunda-feira, 10 de setembro de 2012

As noites na calçada da Rua São Domingos! Que maravilha que era!!!

Essas lembranças são as mais saudosas das lembranças, da época em que éramos quase adolescentes. O que queríamos mesmo era curtir a vida. Aproveitar aqueles momentos que na época tinha uma certa mistura de inocência e malícia! No bom sentido, é lógico. Tinhamos curiosidade e queríamos saber e entender de tudo. Quando chegava a noite a nossa Rua São Domingos acordava e se enchia de alegria. Começava realmente a viver! Praticamente em todas as portas das casas tinham moradores sentados na calçada, tomando um "arzinho" e conversando com pessoas da família ou com seus vizinhos ou, muitas vezes sozinho, descansando, pensando na vida, ouvindo o programa "a voz do Brasil" pelo rádio, fumando um cigarro após o jantar ou curtindo a ressaca como fazia nosso avô "Pipipa", esparramado em uma "espreguiçosa". Tinha também alguns casais namorando, sempre vigiados de longe, pelos pais. Alguns moradores mais discretos, observavam o movimento através dos "postigos" existentes na maioria das portas de entrada das casas.
Era muito bom.
Lá em casa não podia ser diferente. Todas as noites minhas irmãs sentavam na calçada, na porta de casa e ficavam conversando e ouvindo música num radinho de pilhas. Me lembro que um dos programas mais ouvidos na época, era "carrossel musical" e, era transmitido por uma rádio AM local. A Rádio Gazeta ou a Difusora de Alagoas. Realmente não me lembro exatamente da Rádio. Tinha um outro que se não estou enganado era "miscelânea sonora", ou coisa parecida, cuja Rádio que transmitia, eu realmente também não me lembro. Todos os dois programas, tocavam sucessos do momento, tanto da jovem guarda, da MPB e músicas internacionais. Junto com minhas irmãs, normalmente a Lourdinha, irmã do Francisquinho e a Eliane, irmã do Edeildo, costumavam participar dessas noitadas. Acompanhavam cantando as músicas tocadas no rádio e na rua todos ouviam. Era uma brasa, mora!
As vezes participava também eu e o Francisquinho que sabia tocar violão muito bem e passávamos a noite cantando, junto com as minhas irmãs e amigas. Quem participava às vezes, era o Tonho, irmão do Francisquinho e da Lourdinha. O Francisquinho e a sua irmã Lourdinha, gostavam muito de cantar em dupla, imitando a famosa dupla da Jovem Guarda, Leno e Lilian. Olha! Não que imitavam muito bem. Fazia a primeira e a segunda voz harmoniosamente. Como era bom! "Quando eu te conheci meu bem, não acreditei..." era um dos trechos da música que mais cantavam. A Dona Osa e seu marido Lourival, também gostavam de ficar na calçada com os filhos. Isso acontecia com Dona Neobel e Seu Francisco, Dona Sitônia e família, os nossos vizinhos Herbert e sua esposa Audinete, Dona Helena, sua irmã e seu irmão Sr. Oscar e muitas outras famílias. A conversa da turma mais antiga girava em torno dos últimos acontecimentos no estado, no Brasil e no mundo, como também conversas de família.
A nossa turma de marmanjos se reunia todas as noites, na esquina da casa da Dona Amélia, na mesma rua e, as brincadeiras se estendiam até altas horas. Não tinha quem não passasse por perto para que a turma não mexesse. Tinham duas irmãs que moravam pra bandas da Rua Sargento Jaime e, nós apelidamos as duas de "CILA" e "Catotinha". A "CILA" era devido aos seus grandes seios, que ela adorava exibi-los nos decotes das blusas que usava. Então fizemos uma comparação com uma Fábrica de Beneficiamento de leite que tinha esse nome. A "Catotinha" devido a sua estranha mania de andar "futucando" o seu Nariz. Seu Toledo, dono de uma venda na esquina em frente, era o que mais sofria com as nossas brincadeiras.
As brincadeiras na rua não se limitavam apenas a isso. Brincávamos de "garrafão", de "pular avião", de "pular corda", de "manja", de vôlei, de loto, de dominó, de "picadinho", de pedras, de "doidinho", de dama, ailás, falando desse jogo tínhamos um jogador de fama nacional na rua: o nosso amigo Miguel que na época namorava a Eva, irmã da Eliane, e muito mais jogos... Até "pedra na cabeça dos outros".
Enquanto isso a turma da esquina, não deixada passar nada. Fazia tanto barulho, que às vezes Dona Amélia, que morava só, na casa da esquina, reclamava, pedindo a turma para diminuir a algazarra. A turma diminuía o tom mas, não parava. Quem gostava também de reclamar e com razão, era Seu Toledo, dono de uma "Venda", em frente a esquina, na mesma rua. Morava sozinho na casa e dormia no primeiro andar. Era da janela que ficava bem próxima da esquina que ele reclamava. Baixinho calvo e de cor amarelada, era metido a brabo. Mas, bastava aumentar a voz e o coitado se tremia todo e começava a gagueijar. Era uma criatura maravilhosa. Reclamava e tinha como resposta ou uma vaia quando entrava, ou então uma pedrada na janela. Claro, era apenas uma "pedrinha". Muitas vezes um roleteiro passava vendendo roletes, e a gente pedia os nós da cana, chupava e o resto jogava na janela de seu Toledo. O coitado sofria com a nossa perturbação mas, gostava muito da turma. Era casado com Dona Renilva e tinha um casal de filhos. Mas, depois que se separou da esposa, vivia muito solitário e a sua companhia durante todo o dia, era realmente os amigos da turma. Sempre tinha alguém da turma, na "Venda" e, isso tirava um pouco da sua solidão.
Enquanto isso, na porta lá de casa, a turma da "luluzinha" aumentava. A Eva, irmã da Eliane também participava da "patota". O papo era sobre, jovem guarda, cantores, músicas, paquera, fofocas e muito mais assuntos. Enquanto isso, as horas se passavam e a turma mais velha começava a se recolher e se preparar para dormir. Sabíamos que isso, era um aviso dos mais velhos, alertando que não podíamos demorar muito na calçada. Chegava a hora da turma da "luluzinha" entrar e a rua aos poucos ia ficando deserta e só restava a turma da esquina. Os "locas" como eram chamados aqueles caras que gostavam de perturbar e, a nossa turma não ficava de fora desse conceito.
Bem! Tínhamos de dormir e a turma aos poucos também ia se dispersando e na maioria das vezes, chegava uma hora que tínhamos de entrar, pois se não entrássemos ficaríamos sozinhos. Muitas vezes toda a turma já tinha ido dormir e algum retardatário chegava na esquina. De repente ouvia-se gritos: Niel! Paulinho! Zezinho! E outros mais. Normalmente esses retardatários era o Geraldo "Cabeção", o Laurinho, o Missinho e o Equinho. Esses realmente gostavam de perturbar! Quando estava acordado, olhava por uma parte da porta, se desse, eu dava uma chegada por lá, mas não demorava. Era só pra saber das novidades.
Pois é minha gente! Éramos felizes e sabíamos. Pedíamos à Deus que esses momentos das nossas vidas, não acabasse nunca. Sentíamos a falta durante o dia desse nosso encontro noturno. Aliás, pra nós, toda hora era hora de curtir. Sinto muitas saudades daquela época. Às vezes, quando nos reunimos, todos agora sessentões, uns carecas, outros de cabelos brancos, outros de cabelos pintados, querendo ser novo, outros safenados, outros com algumas seqüelas, decorrentes de doenças própria da idade, nos divertimos muito relembrando as nossas aventuras e os nossos bons momentos vividos nas noites da Rua São Domingos.

Nicolau Cavalcanti em 09/09/2012

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