No final dos anos 50 e início dos
anos 60, na esquina da antiga Rua da Floresta(hoje Rua Fernandes de Barros) com
a antiga Rua do Apolo(hoje Rua Melo Morais), no Bairro da Levada, bem próximo
ao Mercado da Produção, existia uma Venda que era conhecida como a Venda da
Dona Castorina. Minha família morou tanto na Rua da Floresta como na Rua Barão
de Alagoas. Essa última, bem próxima à citada Venda.
A Dona Castorina além de proprietária
da Venda era também a pessoa que na maioria das vezes atendia diariamente os
seus fregueses que na realidade, eram pessoas que moravam nas ruas próximas ao
seu estabelecimento comercial e pessoas que iam ao mercado. Tinha outra senhora
morena, que também atendia. Só não recordo o seu nome. A Dona Castorina e sua
família moravam na Rua da Floresta, numa casa que tinha acesso à Venda. Melhor
dizendo: a Venda era uma extensão de sua casa. Muitas vezes a Dona Castorina ou
alguém da família ficava sentada numa cadeira de balanço, na sala da casa e
através de um corredor, ficava observando parte da Venda e esperando algum
freguês chegar. Faz tanto tempo que confesso que não lembro muito bem da
aparência de Dona Castorina. Apenas que era uma pessoa magra, de cor clara, já
de certa idade e tinha os cabelos grisalhos. Ah! Sim! Usava óculos.
A Venda era um local muito estreito, apertado
e entupido de mercadorias, principalmente a parte onde Dona Castorina e seus familiares
atendiam seus fregueses. Lá se encontrava de tudo: arroz, feijão, farinha, etc...
Tudo isso vendido a granel, inclusive o sabão que era vendido na época, em
barras de aproximadamente 30cm, mas que era cortado e vendido em pedaços
menores, de acordo com a vontade e o bolso do freguês. Tinha ainda o macarrão
que na época era vendido em embalagem de papel grosso na cor azul. No balcão
construído em madeira ficava uma antiga balança de dois pratos e muitas outras
coisas.
Eu e minhas três irmãs éramos muito
novos e sempre que alguém lá de casa ia à Venda de Dona Castorina, a gente
sempre ia junto. Normalmente íamos com uma empregada que trabalhava há muito
tempo lá em casa e que chamávamos de Dina. Lembro muito bem como se fosse hoje,
que se comprava muito lá pra casa, o querosene que era usado para tocar fogo no
carvão que era utilizado no ferro de passar roupas. Na Venda da Dona Castorina
vendia até isso.
Antigamente, pelo menos lá em casa,
as roupas eram lavadas com sabão em pedra e anil, quaradas, enxutas e passadas
com ferro de passar a carvão. Sem contar com a goma que era utilizada
dissolvida em água e passada em determinadas roupas.
Na realidade a Venda de Dona
Castorina era uma venda como outra qualquer. O que realmente chamava a nossa
atenção, minha de e de minhas irmãs, eram alguns vidros que ficavam expostos em
uma das várias prateleiras e que enchiam as nossas bocas de água e desejosos de
saborear o que tinha dentro de cada um daqueles vidros. Na realidade aqueles
vidros estavam cheios com deliciosos confeitos e outras guloseimas que quando
chegávamos à Venda ficávamos vidrados naquele local das prateleiras. Tinha um
vidro cheio de “nêgo bom”, que na época era chamado de “bolinha de cabra”. Aquele
sim era o verdadeiro “nêgo bom”. Tinham outros vidros entupidos de uns
confeitos de hortelã e de mel de abelha, que eram um sucesso de vendas, na
época. Tinham outros com vários pirulitos feitos de açúcar derretido em forma
de chupeta, de galinha, de pião, espetados em palitos de bambu, etc... etc... Tinha
também alguns com uns docinhos brancos com listras coloridas, em forma de bola
que se desmanchavam na boca. Todos deliciosos. Agora tinha um vidro com uns
confeitos, que até hoje não me sai da memória, que desapareceram do mapa e que
gostávamos muito. Eram uns confeitos finos e retangulares de vários sabores, em
que no papel que embrulhava cada um desses confeitos tinha os desenhos das
várias frutas dos seus variados sabores. Sua cor também variava de acordo com o
sabor.
O bom era que de tudo isso que
acontecia, era que, quando íamos a Venda, sempre sobrava troco e sempre saíamos
de lá com as mãos recheadas dessas guloseimas. Era uma verdadeira festa! Melhor
ainda, era que, quando não sobrava troco, a Dona Castorina distribuía confeito,
pirulitos e “bolinha de cabra” para todos nós. Era realmente uma festa quando
isso acontecia.
Até hoje o prédio onde funcionava a
Venda de Dona Castorina, existe. Toda vez que passo pelo local, passa um filme
na minha cabeça e volto no tempo. É muito bom relembrar essa época.
Lembrar o passado na nossa idade é sempre prazeroso.
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