quinta-feira, 21 de julho de 2016

A Venda de Dona Castorina

No final dos anos 50 e início dos anos 60, na esquina da antiga Rua da Floresta(hoje Rua Fernandes de Barros) com a antiga Rua do Apolo(hoje Rua Melo Morais), no Bairro da Levada, bem próximo ao Mercado da Produção, existia uma Venda que era conhecida como a Venda da Dona Castorina. Minha família morou tanto na Rua da Floresta como na Rua Barão de Alagoas. Essa última, bem próxima à citada Venda.
A Dona Castorina além de proprietária da Venda era também a pessoa que na maioria das vezes atendia diariamente os seus fregueses que na realidade, eram pessoas que moravam nas ruas próximas ao seu estabelecimento comercial e pessoas que iam ao mercado. Tinha outra senhora morena, que também atendia. Só não recordo o seu nome. A Dona Castorina e sua família moravam na Rua da Floresta, numa casa que tinha acesso à Venda. Melhor dizendo: a Venda era uma extensão de sua casa. Muitas vezes a Dona Castorina ou alguém da família ficava sentada numa cadeira de balanço, na sala da casa e através de um corredor, ficava observando parte da Venda e esperando algum freguês chegar. Faz tanto tempo que confesso que não lembro muito bem da aparência de Dona Castorina. Apenas que era uma pessoa magra, de cor clara, já de certa idade e tinha os cabelos grisalhos. Ah! Sim! Usava óculos.
A Venda era um local muito estreito, apertado e entupido de mercadorias, principalmente a parte onde Dona Castorina e seus familiares atendiam seus fregueses. Lá se encontrava de tudo: arroz, feijão, farinha, etc... Tudo isso vendido a granel, inclusive o sabão que era vendido na época, em barras de aproximadamente 30cm, mas que era cortado e vendido em pedaços menores, de acordo com a vontade e o bolso do freguês. Tinha ainda o macarrão que na época era vendido em embalagem de papel grosso na cor azul. No balcão construído em madeira ficava uma antiga balança de dois pratos e muitas outras coisas.
Eu e minhas três irmãs éramos muito novos e sempre que alguém lá de casa ia à Venda de Dona Castorina, a gente sempre ia junto. Normalmente íamos com uma empregada que trabalhava há muito tempo lá em casa e que chamávamos de Dina. Lembro muito bem como se fosse hoje, que se comprava muito lá pra casa, o querosene que era usado para tocar fogo no carvão que era utilizado no ferro de passar roupas. Na Venda da Dona Castorina vendia até isso.
Antigamente, pelo menos lá em casa, as roupas eram lavadas com sabão em pedra e anil, quaradas, enxutas e passadas com ferro de passar a carvão. Sem contar com a goma que era utilizada dissolvida em água e passada em determinadas roupas.
Na realidade a Venda de Dona Castorina era uma venda como outra qualquer. O que realmente chamava a nossa atenção, minha de e de minhas irmãs, eram alguns vidros que ficavam expostos em uma das várias prateleiras e que enchiam as nossas bocas de água e desejosos de saborear o que tinha dentro de cada um daqueles vidros. Na realidade aqueles vidros estavam cheios com deliciosos confeitos e outras guloseimas que quando chegávamos à Venda ficávamos vidrados naquele local das prateleiras. Tinha um vidro cheio de “nêgo bom”, que na época era chamado de “bolinha de cabra”. Aquele sim era o verdadeiro “nêgo bom”. Tinham outros vidros entupidos de uns confeitos de hortelã e de mel de abelha, que eram um sucesso de vendas, na época. Tinham outros com vários pirulitos feitos de açúcar derretido em forma de chupeta, de galinha, de pião, espetados em palitos de bambu, etc... etc... Tinha também alguns com uns docinhos brancos com listras coloridas, em forma de bola que se desmanchavam na boca. Todos deliciosos. Agora tinha um vidro com uns confeitos, que até hoje não me sai da memória, que desapareceram do mapa e que gostávamos muito. Eram uns confeitos finos e retangulares de vários sabores, em que no papel que embrulhava cada um desses confeitos tinha os desenhos das várias frutas dos seus variados sabores. Sua cor também variava de acordo com o sabor.
O bom era que de tudo isso que acontecia, era que, quando íamos a Venda, sempre sobrava troco e sempre saíamos de lá com as mãos recheadas dessas guloseimas. Era uma verdadeira festa! Melhor ainda, era que, quando não sobrava troco, a Dona Castorina distribuía confeito, pirulitos e “bolinha de cabra” para todos nós. Era realmente uma festa quando isso acontecia.
Até hoje o prédio onde funcionava a Venda de Dona Castorina, existe. Toda vez que passo pelo local, passa um filme na minha cabeça e volto no tempo. É muito bom relembrar essa época.

Nicolau Cavalcanti em 19 de julho de 2016.

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