quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

As loucuras que aprontávamos com os nativos que iam arriscar a sorte nos bingo promovidos pela FAPE!!!

Antes da construção do o Estádio "Rei Pelé", foi criada pelo governo do estado a FAPE - Fundação Alagoana de Promoções Esportiva, tendo como Superintendente, um dos grandes empresários e homens públicos da época, o Sr. Napoleão Barbosa. A FAPE foi criada com o único propósito de arrecadar fundos para ajudar na construção do Estádio Trapichão. Se não estou enganado a FAPE funcionava na Rua Boa Vista, no Centro, bem próximo ao Prédio da antiga Monte Máquinas, hoje uma das agências do INSS.
Eram sorteados na época vários automóveis, a maioria da marca Willys: tinha a Rural, o Jipe, a Picape... Não lembro se entrava também o Aero Willys!? Tinham também de outras marcas e de vários modelos. Tinha até Caminhão. Até casas foram sorteadas! Não me lembro quantos sorteios eram realizados durante o mês, só sei que no dia do sorteio, Maceió praticamente parava. Os sorteios eram realizados no terreno onde ia ser construído o Estádio Trapichão e eram realizados em forma de bingos e, quem preenchesse primeiro a "cartela", ganhava o sorteio e por conseguinte, levava o prêmio. Se fosse apenas uma pessoa o prêmio era só para essa pessoa, mas se várias pessoas conseguissem preencher a "cartela", o prêmio era dividido por todas essas pessoas. O bom era que os prêmios eram entregues na hora. O terreno se não me engano, era um sítio de coqueiros e que já tinha sido iniciados os primeiros trabalhos, como o corte dos coqueiros, e a retirada de todos os troncos e palhas. Só restaram no terreno as raízes dos coqueiros. Eram muitas raízes em função, lógico, do terreno ter sido um sítio de coqueiros como já falei anteriormente. Várias pessoas marcavam inclusive, a "cartela" em cima dessas raízes. Acredito que esses bingos ocorreram na segunda metade da década de 60.
Muitas pessoas que participavam do bingo, vinham de todo o estado. Chegavam de todo o tipo de transporte inclusive de trem. O trem quando chegava, em Maceió, parava na Avenida Siqueira Campos e então descia um bando de nativos vindos de todos os lugares por onde o trem passava. Essa turma se juntava as outras pessoas  que iam em direção ao local do Bingo e formavam um verdadeiro tsunami. Essa imensa onda formada de pessoas, se deslocava em massa, passando por cima de tudo. Dava até medo acompanhar essa onda.
No local do sorteio tinha mais gente do que não sei o que! Era um zum, zum, zum  e danado! O terreno era formado por uma mistura de areia da praia, areia preta e resto de raiz de coqueiro revolvidas em função do trabalho de terraplanagem. Haviam também muitos pés de coqueiros que tinham sido cortados pela raiz, ficando apenas aqueles monte de tocos, onde as pessoas de vez em quando subiam para dar uma espiada na multidão.
Nem sempre participávamos dos sorteios. Muitas vezes íamos até o local do sorteio, só para perturbar. Por exemplo: quando o sorteio começava e uma boa quantidade de pedras já haviam sido chamadas, aí gritávamos: bati! Bati! Era aquele alvoroço das pessoas se espremiam e esperavam o sortudo aparecer e acompanhar o resultado da conferência. Nem saíamos do lugar! A vaia então cobria!
Quando não íamos, ficávamos então na Esquina de Dona Amélia, aprontando tudo que tinha direito pra cima dos nativos que iam arriscar a sorte no bingo. Eram aproximadamente de quinze a vinte amigos doidos para descarregar um pouco de adrenalina em cima dessa imensa onda que se dirigia em bloco e cadenciada para o local do sorteio.
O local era muito grande e dava para acomodar toda essa gente ávida e esperançosa e ainda sobrava muito espaço. No meio desse espaço era colocado um caminhão que servia de palanque e de onde o locutor oficial chamava o bingo. A grande dificuldade era de se chegar até o caminhão, quando alguém batia e da demora para se conferir a cartela, pedra por pedra, principalmente quando havia mais de um ganhador. Além do empurra, empurra, tinham também aqueles engraçadinhos que torciam descaradamente na cara do pretenso ganhador,  para que não fosse verdade. E se realmente o coitado tinha errado na, marcação da "cartela", levava uma estridente vaia bem dada por todos os participantes do bingo.
Mudando de "pau pra cacete", quando não íamos marcar ou apenas acompanhar a chamada do bingo, ficávamos, como já falei, reunidos na esquina da casa de Dona Amélia, tirando onda com os nativos que na sua grande maioria, viam do interior. Dava até pena, o que aprontávamos!
Uma das brincadeiras que sempre fazíamos era a seguinte: um ou dois dos amigos da turma se infiltrava no meio da multidão que só queriam mesmo era chegar no local do bingo. Na hora que iam atravessar a Rua São Domingos, isto é: da Venda do Seu Toledo para a Esquina de Dona Amélia, onde a turma estava, quando chegavam no meio da rua, os dois amigos gritavam: Olha o carro! socorro! Vai bater na gente! Corram! E aí os dois corriam desesperados para junto da nossa turma. As coitadas das pessoas, distraídas, se assustavam e corriam desesperadas pro outro lado da rua, na esquina onde estávamos. Muitos ficavam puto da vida, chamavam palavrões e ameaçavam partir para cima da gente, mas quando viam a turma que teriam de enfrentar, desistiam e resmungando seguiam em frente. Quando os coitados davam as costas para turma e a distância era segura, aí começávamos: veado, filho da puta... Essa brincadeira se repetia várias e várias vezes até que cansávamos.
Uma outra brincadeira que fazíamos era simular uma briga entre dois amigos. Tudo estava indo muito bem, aquela massa de gente seguia em direção ao local do bingo, quando de repente: dois dois nossos amigos da turma começavam um "bate boca", fingindo uma discussão que ficava mais acirrada a medida que juntava mais gente e os coitados que passavam apressados pra não perder um único número se quer do sorteio, paravam e ficavam olhando e muitas vezes até torcendo para que, aquela discussão que parecia ser real, terminasse em tapa. Depois de muito "bate boca" simulado e já havia um grande número de pessoas paradas assistindo, os dois rindo se a abraçavam e zombavam de todos que ali estavam parados assistindo a discussão. Muitas pessoas gostavam e riam, mas tinham outras que ficavam com muita raiva e esculhambando continuavam a sua caminhada ainda mais apressada.
A mesma situação ocorria quando os nativos passavam pela esquina e davam as costas naquele ritmo desenfreado  e começávamos então a provocar em voz alta: "bando de bestas! Otários! Os coitados nem olhavam pra traz, de tão atrasados que estavam. Alguns mais corajosos tentavam nos encarar e levavam uma boa de uma vaia.
Os cabeças dessas brincadeiras sempre foram: Geraldo "Cabeção", Equinho, Laurinho e Missinhos. Esses comandavam de fato, as loucuras da turma.
A mais comum das loucuras nessas horas, era xingar com alguém que tinha algo de diferente: nariz grande, era "ventão"; baixinho, era "tamborete de gandaia"; alto, era "espanador da lua", barrigudo, era "jarrão"; magro, era "caveira elétrica"; careca, era "sem telha"; feio, era "Zé bonitinho"; veado, era "bicha ou veado" mesmo; Cocota da bunda grande, era "tanajura", gostosa, era gostosa mesmo ou então "minha tara" e tinha muito mais... Passou diante da turma, pessoas com alguma dessas características, com certeza apelávamos, não por maldade, mas sim pelas nossa idade. Simplesmente Surgia por impulso. Éramos aborrecentes! Tínhamos de fazer qualquer coisa para, como já disse. anteriormente, diminuir os níveis de adrenalina de todos nós.
Quando dava tempo montávamos até armadilhas. essa era pesada! Nessas horas, sempre tínhamos uma caixa de sapato ou uma caixa qualquer com as dimensões parecidas. Normalmente usávamos um pedaço de tijolo ou então alguma pedra parecida mas que coubesse dentro da caixa. Ficávamos na esquina enquanto um dos nossos amigos colocava no meio da calçada uma das pedras e cobria com a caixa de sapato. Ficávamos então na espreita, esperando que alguém apressado, ou algum otário desse um bom chute na caixa. Se assim o fizesse, tava lascado! Pois além de chutar a caixa chutava também a pedra! Nós observando, só víamos o neguinho chamar uma baita de uma "porra" e sair mancando e resmungando. Aí começava a nossa "encarnação": um gritava: aí meu pé! O Haroldo, irmão do Bebéu dava uma daquelas gaitadas estridentes dizendo: "uuuiii! Aiiii meu pezinho!!! As vezes, o "chuta pedra", puto da vida, tentava encarar a nossa turma e então revidávamos o que fazia com que o "chuta pedra" mesmo mancando, saísse correndo. Aí aproveitávamos para dar uma boa de uma vaia e elogia-lo com palavras como: FDP, veado, otário, vá tomar no cú... Mas tudo isso não passava de simples brincadeiras! Pelo menos para nós!
Agora! nem tudo era bom pra nós! Estávamos sempre pronto para bater em retida! Isto é! Pernas pra que ti quero! Quando era para corrermos, não tinha quem nos segurasse! Virávamos campeões olímpicos nos 100 metros rasos. Aliás! O Missinho era um excelente corredor! Sempre disputava corrida nos jogos estudantis.
Uma outra brincadeira que era muito simples e fácil de fazer era a da carteira: só precisávamos de um pedaço de cordão ou um pedaço de nylon para pesca. Quanto mais fino melhor! E de uma carteira de cédulas velha e pronto! Amarrávamos a carteira em uma das pontas do nylon ou do cordão. Alguém da turma atravessa a Avenida e colocava a carteira na calçada da Praça da Faculdade e então ficávamos escondidos esperando que alguém notasse a carteira de bobeira na calçada e tentasse pegar. Na hora que a pessoa se abaixava para pegar a carteira, puxávamos então o cordão e o cara tomava susto da porra e na maioria das vezes saia descabriado, olhando de um lado para o outro. Tinham outros que davam conta da carteira na caçada e não tinham coragem de pega-la de primeira. Davam algumas passadas e depois paravam, encaravam a isca, voltavam e sem querer querendo, davam aquela abaixadinha discreta para abocanhar a dita cuja. Na hora de pegar a carteira, puxávamos o cordão! PQP! Gritava o coitado! A vaia cobria no centro e o coitado saía sem nem olhar para traz. Outros, corriam atrás da carteira e se a gente desse bobeira, perdíamos a dita cuja. 
Só fazíamos essas duas últimas brincadeiras quando o movimento estava mais calmo, pois na hora do pique, com certeza seríamos arrastados pela aquela grande onda viva e além pisoteados seríamos linchados. Graças a Deus, nunca levamos a pior, a não ser na história dos malditos marinheiros. Só de lembrar fico todo arrepiado com a surra que eu e mais uns dois da turma levamos! Nem quando passava pela Capitania dos Portos tinha coragem de olhar para o prédio, que dirá encarar um deles.
Todas essas brincadeiras fazíamos sempre que podíamos ou quando tínhamos as ferramentas em mãos, como era o caso da pedra escondida debaixo da caixa ou no caso da carteira. Agora tinha uma coisa! Se fizéssemos alguma coisa de muito errada, sempre tinha alguém mais velho nos observando e tínhamos que arcar com os prejuízos.
Me lembro que certa vez, estávamos todos reunidos na Esquina de Dona Amélia quando o nosso amigo Zezinho, inventou de tocar fogo na grama seca que existia em um dos vários canteiros que existe até hoje na Praça da Faculdade. O fogo começou a se alastrar, quando de repente o Heitor irmão do Helbert, que estava jogando dominó com uma turma que se reunia todas as noites num quartinho em frente a Praça, onde morava um sapateiro muito conhecido na redondeza, partiu em direção à Praça. ou melhor, mais precisamente em direção ao Zezinho! Pediu então para o nosso amigo apagasse o fogo. Zezinho metido a brabo, abriu suas asas e disse: apague você! Você não é meu pai! O Heitor era uma pessoa que ninguém podia pisar nos seus calos! Era daqueles como diz o matuto: não é flor que se cheire! Ouvindo aquele desaforo, não deu outra! Pegou o Zezinho pelo muque e disse: ah, é! Veremos! E jogou o Zezinho no meio do fogo. A gente do outro lado da Praça, só via o Zezinho pular e sapatear bem ligeiro apagando o fogo!  Na realidade, era um fogo muito baixo e que não ia causar perigo ao Zezinho. O coitado teve de apagar o fogo todinho e o Heitor só soltou ele quando o fogo estava totalmente apagado. Ele então correu ao encontro da turma e quando chegou levou foi uma boa de uma vaia! Era bom demais! Tudo que fazíamos e tudo que vivíamos naquela época era o nosso combustível. Ficou tudo na nossa memória. Lembrar desses maravilhosos momentos é voltar no tempo e lembrar o quanto éramos felizes!

Nicolau Cavalcanti em 05/12/2012

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