domingo, 9 de dezembro de 2012

O maravilhoso jogo de Futebol entre Solteiros x Casados: "não tinha rivalidade mas sim, muita resenha e muita união!!!"

A nossa turma, além de ser boa em tudo que fazia, era excelente em criar situações para que pudéssemos aproveitar o nosso tempo juntos. Eram nos rachas, na Venda do Seu Toledo, na Venda do Seu Luiz, no jogo de botão, nas brincadeiras na Esquina de Dona Amélia... Enfim! Sempre estávamos juntos. Era praxe um bom racha na Praça da Faculdade ou na Praia do Sobral, quase que diariamente. Eu confesso que era um verdadeiro "perna-de-pau" mas, mesmo assim, como sempre faltava alguém para formar um dos times, quem era convocado para fazer parte de um os dois times? Eu! Claro! Sempre jogava na defesa. Acredito pelo meu tamanho. Apesar de só ser convocado nessa situação, eu não decepcionava.
Mas se falando em craque de verdade, tínhamos alguns amigos da turma que eram jogadores e profissionais: o Haroldo era um deles e jogava pelo CRB e o Flavio Paquinha um amigo e craque que jogava pelo CSA, na época. Tinha também o Roberto Pinheiro da turma dos mais velhos e era também um excelente jogador. Sem contar com o Missinho que era muito bom no jogo de futebol de salão. Aliás! A grande maioria da turma sabia dominar e bem, uma bola.
A partir do final dos anos 70, quando já tinha uma boa quantidade de amigos da turma casados, surgiu então a ideia de se promover um jogo entre solteiros x casados, que era disputado uma vez por ano, antes da festa de confraternização que promovíamos todos os anos durante o período natalino. Fazíamos nesse período, para aproveitar a vinda de amigos que trabalhavam ou estudavam fora.
A partida era realizada em um dos dois campos de futebol que existiam na Praia de Pajuçara, e que eram alugados por hora, durante toda a semana. Fazíamos então um levantamento para saber os custos do aluguel do campo, como também os da nossa confraternização que sempre acontecia no Vermelhão. Bar e Restaurante que existia no início da Avenida Doutor Antônio Gouveia, bem próximos aos dois campos, de frente a Praia de Pajuçara.
De acordo com o levantamento dos preços do aluguel do campo, contratação de um juiz de futebol para comandar a partida como também do principal: a festa de confraternização da turma após o jogo, dividia-se o montante pela quantidade de pernas-de-paus. Esse levantamento era feito algumas semanas antes da realização do evento e o valor a ser pago por cada participante era entregue ao Seu Luiz, dono da Venda que frequentávamos, que sempre coordenava o evento. Na foto abaixo, algumas pessoas que faziam parte da turma e detalhes da Venda do Seu Luiz, que na foto ele aparece no fundo e o mais alto(seta preta indicando). Existe também no fundo dessa foto, um mural onde Seu Luiz colocava avisos para turma. Se vocês observarem com cuidado, vai ver um aviso dando detalhes do jogo Solteiros x Casados. aviso em papel na cor branca(seta preta indicando). Esse simples detalhe, vale por toda a fotografia.
No dia do jogo, normalmente uma sexta-feira, a concentração era geral. Todo mundo ansioso, aguardava a noite chegar e sabia que a festa tinha hora pra começar mas, não tinha hora para terminar. Com certeza, depois da conta paga, iam sair intermináveis: saideiras, ideiras e tudo que terminasse com eiras..., para a festa não acabar. Era realmente uma noite muito especial para nossa turma. O jogo, as brincadeiras, as doses de aguardente que o treinador de cada equipe oferecia aos seus "pupilos", quando eles lhe pediam água e era cachaça da boa. No mínimo Mucuri, mas tinham outras: pitú, saborosa e tantas mais... Tinha jogador que quando descobria, passava o jogo morrendo de sede! Na foto abaixo, detalhe do aviso colocado no mural, sobre a data do jogo, valor que cada um teria de pagar e o responsável pela arrecadação. Gente isso é maravilhoso! Nessa foto esse jogo ficou imrtalizado.
Eram momentos maravilhosos e de união da nossa turma. As desavenças e os brigas eram deixadas de lado e, só queríamos mesmo era aproveitar a confraternização. Tínhamos de chegar 30 minutos antes do início da partida, para organizar cada time e pressionar os times que estavam jogando no horário para não ultrapassassem o limite do seu horário. Quando o outro jogo acabava, já estava tudo definido antecipadamente: o lado e quem começava jogando. Não podíamos perder um segundo, pois assim como nós pressionamos para o jogo anterior acabar, o mesmo iria acontecer com a gente.
O jogo começava e a torcida, que era na sua maioria formada por reservas dos dois times, que ficavam esquentando os bancos de concreto, que existiam nos dois lados do campo. Essa torcida formada de amigos solteiros e de casados tomava conta do ambiente com seus gritos e frases estridentes empurrando o seu time pra frente. Tinha a presença de algumas figuras do sexo feminino que eram as namoradas, esposas, paqueras e admiradoras. Muitos já tinham ingerido "água que Pinto não bebe" e, estavam aguardando e pronto para substituir qualquer jogador em qualquer posição. Só não jogava quem não queria ou quem não tinha condições de jogar, devido as altas doses de aguardente na "Carcaça". Afinal de contas o jogo, como já falei, fazia parte de uma grande confraternização beber não era proibido.
Não me lembro se existiu algum time ganhador durante todos os jogos que aconteceram. Só sei de uma coisa: no "frigir dos ovos", todos que participavam desse jogo, saíam ganhando!
O jogo corria normalmente e muitos craques começavam a sentir o peso do cansaço e a garganta seca. Pra mim, puro pretexto, para tomar uma "lapada de pinga". A hora se passava e os jogadores da partida seguinte já começavam a chegar e alguns já gritavam: olhe a hora! Nós já contávamos os minutos para o jogo acabar e começarmos a nossa confraternização no "Vermelhão".
Antes do jogo, os amigos responsáveis pela festa, já tinham acertado tudo com o dono do "Vermelhão" e, já tinha várias mesas juntas forradas e com cadeiras distribuídas por toda a sua extensão. Também em cada lugar em cima da mesa, já tinha uma taça esperando aquele bando de pernas-de-pau sedentos para saciar sua sede com uma cerveja Brahma bem geladinha!
Era o juiz apitar o final da partida, e então saíamos correndo desembestados em direção ao "Vermelhão".  Tinha início então, a nossa maravilhosa confraternização. A cerveja começava a ser distribuída por toda a extensão da mesa como também os tira-gostos. Junto com isso começavam as brincadeiras. Aliás! Antes começar a festa de confraternização, fazíamos um brinde a nossa união, a nossa saúde e a tudo de bom para nossa turma. Todos nós, com os copos cheios de cerveja, fazíamos o tradicional tim, tim e o brinde.
Agora sim, a festa começava com "gosto de gás". O Vermelhão já estava cheio da turma jovem que ali se reunia todas às sextas-feiras, para curtir o espaço. A nossa turma chamava a atenção pelo barulho que fazia, como também pelo time de bonitões que deixavam a mulherada doida. Digo por mim! Que a Fatima não leia essa história!
Bem, a confraternização continuava firme e de vez em quando pedíamos ao garçom para dar uma geral para sabermos quanto ainda tínhamos de grana para continuar a nossa festa. Tinham aqueles que não tomavam cerveja e pagavam as doses por fora, mas eram poucas. Agora, Imaginem uma grande mesa, regada de cerveja e tira-gostos, de frente à Praia da Pajuçara que, além do maravilhoso visual, mesmo sendo noite, tinha também a presença de lindas "cocotas" que abrilhantavam o ambiente. "Velhos tempos, belos dias", como cantava de forma simples e verdadeira, aqueles maravilhosos momentos, Roberto Carlos em uma de suas canções.
O jogo de solteiros x casados enquanto tinha solteiros e casados em número suficiente para formar os dois times, aconteceu e, a cada ano era ainda melhor. Mas um fato lamentável aconteceu. Seu Luiz Tenório nunca participou da nossa confraternização diretamente. Gostava muito da turma mas nunca tinha ido assistir o jogo e muito menos, participar da farra. Era um cara muito sério e não ia aguentar todas as brincadeiras da turma. Mas uma coisa era certa! Ele sempre lamentava que a turma procurasse um outro local para fazer a festa de confraternização. O sonho dele era que antes de morrer ainda fazer uma festa na sua Venda. Um desses anos a turma resolveu então homenagear o Seu Luiz, fazendo a festa na calçada ao lado da sua Venda. Tudo foi feito conforme fazíamos todos os anos. Seu Luiz ficou numa felicidade tão grande, que só vendo!
O jogo foi realizado na Pajuçara e logo após o jogo, voltamos para Venda do Seu Luiz onde na calçada ao lado da Venda, estava montada toda estrutura para nossa festa de confraternização. Dessa vez com a presença do Seu Luiz, que sempre que podia estava com um sorriso aberto e muito satisfeito e feliz com a homenagem que fizemos pra ele. O tira-gosto foi de galeto que Seu Luiz providenciou.
Passado algum tempo, Seu Luiz começou a apresentar problemas no coração e depois de vários e exaustivos exames, a equipe de Cardiologia do Hospital da Santa Casa de Misericórdia, chefiada pelo Dr. Wanderley, optou por uma operação de ponte de safena. Operação que tinha lá os seus riscos, em função de ser um tipo operação nova e que apesar da equipe do Dr. Wanderley já ter realizado inúmeras aqui em Alagoas, os riscos ainda existiam. Seu Luiz foi submetido a essa operação e lamentavelmente não suportando esses riscos veio a falecer.
Isso para nossa turma foi um tiro no peito de cada um de nós. Perdemos o nosso rumo! Perdemos uma pessoa maravilhosa! Ficamos órfãos! Ficamos sem um porto seguro. Com esse acontecimento, a turma se dispersou. Não tínhamos onde nos encontrarmos. Mas a vida é assim. Com o passar dos dias, dos meses, dos anos e de décadas, aprendemos a viver sem aquele Senhor que era, áspero quando tinha de ser, educado sempre mas, não levava abuso de ninguém pra casa. Hoje lembramos dele com muitas saudades e muitas histórias para contar dele e de sua Venda. Não vou me estender mais, pois pretendo futuramente, escrever algumas linhas sobre a Venda do Seu Luiz.

Nicolau Cavalcanti em 08/12/2012

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