quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

No Bar Trapichão começamos a comemorar nossa grande vitória: passamos no Vestibular!!!

Esse Bar funcionava na Avenida Siqueira Campos, de esquina com a Rua Doze de Outubro, ao lado do Trapichão, no Trapiche da Barra. Acho que ainda existe! Um dos momentos mais marcante e feliz das nossas vidas, foi quando passamos no vestibular. Eu e o Equinho(Érico Lages) em Engenharia Civil e o Laurinho(Lauro Farias) em Economia.
Na hora de ser anunciada a relação dos candidatos aprovados no vestibular da UFAL no ano de 1973, pelas emissoras de rádios que existiam em Maceió, toda a turma estava na casa onde eu e minhas irmãs moramos, mas que estava fechada, pois nosso tio Pessoa tinha, prometido que faria uma boa reforma, para que voltássemos a morar nela. 
Estudávamos todas as noite nessa casa. Embora desocupada, data para ser utilizada, pelo menos como casa de estudo. Eu, Equinho, Laurinho e Geraldo "Cabeção"... Estudávamos todas as noites! Tivemos inclusive uma visita histórica durante esse período de intensos estudos que foi a presença do Professor Edson Alcântara, um dos melhores professores de português do estado na época que, atendendo a solicitação do nosso amigo Geraldo "Cabeção", passou algumas horas nos dando dicas de Português. Foi realmente uma verdadeira aula da português!
Enquanto isso, eu estava sozinho em outra casa bem próximo da nossa, que meu tio alugou para morarmos enquanto a reforma não saia. Deitado num sofá, com meu radinho de pilhas encostado no ouvido, esperando o resultado. Tremia mais de que "vara verde" e suava mais de que "tampa de chaleira"! não quis me juntar a turma. Preferi aguardar o resultado sozinho.
Quando a leitura dos aprovados começou, aí eu quase morrí! Quando começou a anunciar os aprovados em Engenharia Civil, meu coração disparou e eu apertava tanto o rádio contra o meu ouvido que só depois do resultado, é que fui sentir dor! Pior foi quando começou a chamar os nomes de pessoas conhecidas: chamou o do Severino "Guaxinim" e de outros colegas do Colégio Moreira e Silva. Mas, quando chamou o nome de meu amigo Érico, e ouvi lá de casa a vibração da turma, eu disse pra mim mesmo : Meu Deus! Vou perder! Achava que já estava terminando de anunciar a relação de aprovados e que o meu nome não estava.  Mas depois de mais doze nomes chamados após o nome do Equinho, chamaram então o meu. O Equinho ficou em 40º lugar e Eu em 53°. Deixei o rádio de lado e de repente ouvi uma gritaria danada, vindo da Rua e lá de casa. Não me contive e chorei! E chorei foi muito! Me levantei do sofá ainda chorando muito e naquelas alturas, todo mundo já estava na porta lá de casa. Minhas irmãs, os vizinhos e a nossa turma. Foi aquela alegria danada! Já tinham cortado o cabelo do Equinho e do Laurinho e, então partiram para cortar o meu. Não fiz a menor resistência! Naquela hora era só alegria.
A nossa primeira comemoração, assim que saiu o resultado foi no Bar Trapichão! Não sei porque cargas d'águas, escolhemos esse Bar para comemorarmos uma das maiores conquistas que, com certeza, iria mudar os rumos das nossas vidas. Tínhamos certeza que o nosso futuro estava garantido e só dependia exclusivamente de cada um de nós. Pelo menos o início estava garantido. Só restava a nós, aproveitar essa chance de ouro, que Deus tinha nos oferecido e estudarmos bastante para sermos excelentes profissionais.
Ganhei um garrafa de uísque da Dona Helena, uma Senhora "balzaquiana" que morava com uma irmã também "balzaquiana" e um irmão solteirão, o Sr. Oscar, quase em frente a nossa antiga casa. Todas pessoas maravilhosas!
Apareceu também, não me lembro de onde, um outra garrafa de bebida, creio que de Run Montilla e então fomos todos para esquina de Dona Amélia, o nosso centro de decisões, para resolver onde iríamos comemorar levando as bebidas que tínhamos ganhado. Na esquina foi a maior gritaria! Foi quando alguém sugeriu o Bar Trapichão. Já tínhamos participado de alguma farras nesse bar e o importante era comemorar! Antes de partir, fizemos uma vaquinha e conseguimos levantar até um bom dinheiro.
Quando lá chegamos, o bar estava vazio. Já era um pouco tarde. Não sei quem falou com o dono do Bar e rapidinho foi liberada para que nós bebêssemos as bebidas que tínhamos levado. Combinamos que pediríamos alguns pratos de tira-gostos como também que tomaríamos algumas cervejas pois, só as duas bebidas que levamos não dava nem pra esquentar o esqueleto. Estávamos em ritmo de festa! 
Creio que nessa comemoração estava eu, Equinho, Laurinho, Geraldo "Cabeção" que tinha passado no vestibular em Recife, o Missinho e o Jarbas que já faziam Medicina, Abelardo e Carlinhos "Matasma", que tinham passado no curso de Tecnólogo de Açucar e outros... Foi realmente uma comemoração maravilhosa. Nessa altura já estávamos com o nossos cabelos todo picotado, cheio de "caminhos de ratos", feitos pela turma logo que saiu o resultado. Mesmo assim, alguém tinha levado um tesoura e insistia em cortar ainda mais.
Pra mim, era como estivesse sonhando. Ainda não tinha caído na real. Acredito que o restante dos amigos que também passaram pensavam o mesmo. Passava um filme na minha cabeça sobre tudo que tinha passado para chegar até ali. O apoio das minhas irmãs, do meu Tio Pessoa, dos amigos, da família foram fundamentais. Com certeza não foi por falta de estudo. Devoramos todos os livros de matemática, trigonometria, geometria, física e muito mais. Estávamos tinindo! Éramos CDF!
Já comentávamos o que iríamos fazer no outro dia. Logo cedo, iríamos raspar a cabeça, bem raspada, com aquele cortador de cabelos que parecia mais um alicate, que quando estava cego arrancava o cabelo na marra e doía pra caramba e claro! aproveitar bastante o momento. 
A farra continuou até altas horas e saímos de lá, aos bagaços. Era mais uma etapa da vida, muito suada, mas vencida de forma incontestável! O Bar, ao contrário do que pensávamos, foi o lugar ideal! Brincamos, bagunçamos e o dono não estava nem aí!
Me lembro que durante o período de preparação para o vestibular, estudávamos também na casa da irmã do Geraldo "Cabeção", no Vergel do Lago. Era muito bom! Muito bom mesmo! A família da irmã do Geraldo era arretada! Todas as noites tinha uma panela de sopa de feijão com macarrão, que devorávamos no intervalo para o lanche e não sobrava nada. Nem pra dona da casa, que fazia a deliciosa sopa, oferecíamos. Se não estou enganado rachávamos a compra do principal ingrediente da sopa: o feijão e o pão francês que acompanhava a sopa. O resto era por conta da irmã do nosso amigo Geraldo. Pense numa mão boa pra cozinhar! o tempero e o sabor eram inconfundíveis! Não me lembro quem de fato ia estudar. Alias! Era eu, o Geraldo e o Equinho. Será que era mesmo? Íamos e voltávamos andando e a resenha era muito legal. Chegávamos na casa da irmã do Geraldo totalmente relaxados.
Nessa época, havia um grande movimento comunista no Brasil, em função da intervenção militar e Alagoas não podia ficar de fora. Tinham vários amigos, não da nossa turma que participavam desses movimentos. Era comum, durante o nosso percurso de volta, na maioria das vezes, da casa da irmã do Geraldo, para nossa casa, encontrarmos pequenos pacotes embrulhados em papel de presente e quando abríamos tinha uma folha de papel onde estava impresso um manifesto escritos por algum desses grupos, esculhambando com o governo e suas arbitrariedades. Encontramos vários desses embrulhos. Encontrávamos também várias folhas que eram soltas nas calçadas, com mesma finalidade. Criticar o governo militar!
Algumas vezes fomos abordados durante o nosso percurso, pela Polícia, encostados na parede e além da revista, daquelas de doer até os ovos, tínhamos de responder aquelas tradicionais perguntas idiotas: "onde estão os panfletos? vão para onde? vem de onde?" O que estão fazendo?... Isso tudo sem nem sequer dar uma boa noite ou pelo menos pedir licença para efetuar a revista que além de ser feita em todo nosso corpo, faziam também em todos os livros e cadernos que levávamos. nós achávamos a maior sacanagem! Mas, como já escrevi, todas essas situações valeram a pena. O bom é lembrar, rir e até escrever sobre tudo aquilo.
No dia seguinte, com muita ressaca, fui raspar a cabeça numa barbearia que existia na Praça do Pirulito, vinho ao Bar do Maurício. Depois iríamos comprar o kit do fera: a boina, no nosso caso azul com o nome "Engenharia Civil" estampado na borda lateral da boina, uma camiseta branca onde tinha estampado o escudo do curso de "Engenharia Civil" e a frase: "fera 73" e para terminar um bolsa plástica, azul com o escudo do curso de Engenharia Civil e escrito "Curso de Engenharia Civil". A boina era arretada! Pense numa desfilada! Todo mundo ficava olhando. As "cocotas", quando passávamos, ficavam olhando e "cochichando"!
Aproveitei a minha ida ao barbeiro e fui passar um "telegrama Western" para meu tio, que morava em Salvador, informando da minha vitória. A agência  da "Western", ficava na Praça Dom Pedro II, no Centro de Maceió, onde mais tarde funcionou a Casa do Colegial, cujo jargão ficou conhecido até hoje: "se no Recife tem! Na Casa do Colegial também tem!"... Claro que fui de boina! Recebi no outro dia um "telegrama Western", do meu Tio me parabenizando.
Fiz Engenharia Civil, por gostar muito de matemática e acredito que me espelhei no meu tio Pessoa. Acredito não! Tenho certeza! Excelente profissional da Engenharia e um homem íntegro, acima de qualquer suspeita.
São momentos da vida que jamais esqueceremos. Fiz questão de imortalizar esse momento tão importante pra todos nós escrevendo essas mal traçadas linhas.

Nicolau Cavalcanti em 12/12/2012

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