sábado, 6 de outubro de 2012

A Fábrica de Gelo!!! Oh! Que saudade!!!

Não poderia deixar de lembrar e escrever algumas linhas sobre Fábrica de Gelo que funcionava na antiga Rua da Floresta, hoje Rua Fernandes de Barros, vizinho ao Colégio São José. O prédio era muito simples. A sua entrada era larga e a porta era de zinco, daquelas de enrolar. No seu interior funcionava a Fábrica de Gelo. 
A Fábrica pertencia a família Pontes e sua proprietária, era a Sra. Maria José Pontes mais conhecida como Dona Zezé, que morava ali perto. Se não estou enganado na Rua Barão de Alagoas. Minha esposa Fatima, conversando com a filha da Dona Zezé, a nossa amiga Vera Pontes, ela informou que a primeira Fábrica de Gelo de Maceió pertenceu a sua Avó, se chamava Fábrica de Gelo Santo Antonio e ficava localizada na Rua Barão de Alagoas. Lembro vagamente dessa fábrica.
Vamos lá! Do lado esquerdo de quem entrava na fábrica, tinha uma pequena mesa com gaveta e uma cadeira, onde normalmente ficava a proprietária do estabelecimento ou alguém de sua confiança, recebendo os pagamentos das pessoas que iam ali comprar gelo, como também ver e orientar seus funcionários, sobre o bom funcionamento da Fábrica. se ão estou enganado, tinha um pequeno escritório,
A criação dessa Fábrica de Gelo, foi muito importante na época pois, tudo que era comercializado em Maceió, que precisasse de ser conservado em baixa temperatura, para o seu transporte ou seu manuseio durante a sua comercialização, o gelo era fundamental. Picolés, sorvetes, pescado... comercializado no mercado e muitas outros locais.
Lembro que a Fábrica de Gelo produzia na época barras de gelo no tamanho aproximado de um metro de comprimento, uns 20 centímetros de largura por 15 centímetros de altura. Essas barras eram fabricadas em fôrmas de zinco com as mesmas dimensões. O processo de como eram fabricadas essas barras, realmente não sei mas, acredito que era similar o da fabricação de picolés, na época. As fôrmas cheias de água mergulhadas em salmoura.
O mais interessante de tudo isso, era a movimentação de pessoas que começava logo cedo, no início da manhã e estendia por todo o dia, dentro e fora da Fábrica. Era Picolezeiros, sorveteiros, o vendedor de raspadinha e todos aqueles que dependiam do gelo para conservar e vender os seus produtos. Muitas pessoas compravam as barras inteiras, quebravam as barras ao meio e levavam em sacos de farinha de trigo, envolvidas em pó de serra, para conservar por mais tempo essas barras. Se não estou enganado, as barras de gelo retiradas das formas eram colocadas para conservar envolvidas em um monte de pó de serra, que havia em quantidade, dentro da fábrica e daí comercializadas.
Era muito interessante como faziam o Picolezeiros e o sorveteiros para conservar os picolés e os sorvetes que vendiam em seus carrinhos pelas ruas de Maceió. Eu morava peto e achava arredado ver e até chupar umas pedrinhas de gelo. Naquela época ainda não existia o isopor. A caixa de isopor. Era uma verdadeira obra de engenharia térmica e funcionava muito bem. Todos aqueles carrinhos de picolés e sorvetes da época, eram construídos praticamente de uma mesma forma. Eram construídos de madeira e zinco e com rodas de bicicletas daquelas de aros menores.
Na parte superior do carrinho tinha uma tampa retangular grande que fechava toda a parte de cima do carrinho e nela existiam dois furos com tampas para acessar os dois recipientes de zinco onde eram colocados os sorvetes e os picolés. A parte interna do carrinho era oca e toda revestida de zinco.
Esses dois recipientes retangulares quando colocados no interior do carrinho, cheios de sorvetes e/ou picolés, ficavam a uma distância das paredes laterais internas do carrinho e entre si, de aproximadamente 10cm, deixando com isso um vazio até o fundo do carrinho entre os recipientes e as paredes laterais internas, até o fundo do carrinho.
Detalhei como era internamente a estrutura do carrinho para ficar mais fácil entender como funcionava o esquema que mantinha congelados o sorvete e os picolés.
O que se via diariamente e por todo o dia, na calçada em frente a Fábrica de Gelo, eram inúmeros carrinhos sem a tampa de cima e os seus responsáveis quebrando a barra de gelo em pequenos pedaços e enchendo esses espaços vazios com o gelo quebrado até a superfície dos recipientes, de forma que o gelo tomasse todos os espaços vazios entre a estrutura interna o carrinho e as dos recipientes. Depois se colocava pó de serra  e por último panos úmidos acompanhando as partes onde havia gelo para conservar por mais tempo o gelo, deixando apenas as aberturas dos recipientes livres. No final colocava-se a tampa maior, fechando toda a parte superior do carrinho e pronto. Tinham algumas tampas que tinham inclusive cadeado.
Agora era só sair por aí anunciando e vendendo sorvetes e picolés. Tinha vendedor que era conhecido de longe, pela forma de como anunciavam seus produtos. A Sorveteria Rialto, era famosa e tinha muitos carrinhos! No lado em que o Picolezeiro ficava e empurrava o carrinho, tinha uma espécie de um baú, onde se guardavam as casquinhas e as palhetas para servir e degustar os deliciosos sorvetes. Tinha também um pequeno furo com uma rolha na parte de baixo e servia para retirar a água que acumulava no interior do carrinho, depois que o gelo começasse a derreter.
Já os vendedores de raspadinha tinha um processo mais simples. A raspadinha nada mais era, do que a garapa do sumo da fruta ou de algumas essências, mais o gelo raspado. As raspadinhas mais encontradas, eram de coco, de maracujá, de coco com maçã e de coco com tutti-frutti. Tinha também de essência de baunilha, de maçã e de tutti-frutti. Inicialmente eram vendidas em copos americanos. Aqueles que todos conhecem e tomaram vitamina de banana. 
O carro do vendedor de raspadinha, era bem maior. Na parte de cima do carrinho, dos lados tinham em volta nas extremidades vários quadrados fabricados em madeira, cujo espaço só dava para encaixar um litro de garapa. Só não tinha do lado onde o Vendedor de Raspadinha empurrava o carro. Em cima, além da estrutura fabricada para colocar os litros com as garapas, para que ficassem expostos para o freguês, tinha também, no centro, um retângulo feito de madeira só para sustentar um pedaço de uma barra de gelo e evitar que a barra escorregasse durante o movimento do carro e na hora de raspar o gelo.
Para conservar o pedaço da barra gelo, se cobria o dito cujo com um pedaço de pano. Usava-se muito, sacos de farinha de trigo. Por fim, o uma espécie de tampa de madeira, revestida internamente de zinco, que se encaixava no retângulo de madeira que servia para sustentar o pedaço de gelo. Para se raspar o gelo, era usado um raspador especial. Uma espécie de plaina, com o formato de um paralelogramo, com uma tampa, formando um recipiente para acumular o gelo raspado. Embaixo, do lado onde ficava o Vendedor de Raspadinha, tinha uma pequena porta que dava acesso ao interior do carrinho e onde eram guardados pedaços de gelo conservados em pó de serra.
Para se preparar uma raspadinha era muito simples. Era só raspar o gelo com o raspador, colocar o gelo raspado no copo, colocar a garapa de acordo com a escolha do freguês, e pronto! Estava pronta uma das bebidas mais deliciosas e mais vendidas, principalmente na praia. Eu particularmente gostava muito de coco ou coco com maçã. Mas, não tendo essas, descia qualquer uma. Eram deliciosas! Principalmente quando se estava de ressaca!
A Fábrica de Gelo, funcionou por muito tempo, mas com o surgimento de outras fábricas de gelo em outros pontos da cidade, como também novas formas de fabricar o gelo, como as diversas opções de gelo vendidas no mercado, tais como: gelo em floco, gelo já triturado, gelo em cubo... Como a Fábrica de Gelo, não acompanhou essas novas tecnologias e consequentemente a nova demanda, lamentavelmente fechou as portas. Na realidade, não sei o real motivo da fábrica fechar. 
A minha intenção de escrever algumas linhas sobre essa Fábrica de Gelo foi, como já citei no início, simplesmente para mostrar a sua grande importância na época, para Maceió.

Nicolau Cavalcanti em 06/10/2012

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