terça-feira, 9 de outubro de 2012

O que a música dos Beatles não fazia! Olha a faca! Olha o sangue!!!

É, meus amigos! Essa história é verdadeira e aconteceu comigo. A nossa turma, em se falando de "maiar", isto é, entrar em festas que não éramos convidados, era mestra. Entrava o convidado e os demais o acompanhavam. Se desse certo? Tudo bem! Se não, saíamos todos e íamos procurar um outro local para tentarmos uma outra estratégia.
No caso dessa história, todos nós fomos convidados. Se não estou enganado, era aniversário de uma pessoa ligada a família do Piaba. A casa dessa pessoa, ficava localizada na Rua Sargento Jaime, no Bairro do Prado. Quando chegamos a festa já estava rolando, embalada com as belas baladas da Jovem Guarda. Só isso já bastava para a festa ser de arromba. As "cocotas", com os seus vestidos tubinhos, Mini-saias e cabelos a moda Channel, faziam a festa ficar mais badalada. Nós marmanjos ficávamos ouriçados e cada um que jogasse o seu flerte pra cima das "cocotas" para ver se colava. Se colasse, tudo bem! Se não partia para outra.
Acontece que eu e meu amigo Zezinho, éramos e ainda somos fãs de "carteirinha" dos Beatles. A bebida servida na festa, era aguardente. Só tinha da "branquinha". Toda a turma começou então a tomar da "água que pinto não bebe", pura! Sem nada para tapear a barriga. A festa estava fervendo, as músicas faziam as "cocotas", animadas soltarem as "cadeiras" e dançarem e rebolarem ao som de baladas de sucesso da época.
Enquanto isso, continuávamos conversando, bebendo e participando da festa. A casa era pequena e a festa acontecia na sala da frente da casa, que por sinal, devido a grande quantidade de convidados estava que ninguém tinha condições de andar. Resolvemos então ficar na calçada, pois a casa ficava próxima da praia e na calçada era bem melhor. A brisa que vinha da praia, deixou a turma mais alegre. De repente, a aniversariante colocou um LP dos Beatles e, então toda a turma jovem vibrou. Nós de fora, aplaudimos a escolha. Eu e o Zezinho, resolvemos tomar uma "lapada", em homenagem a música que estava sendo tocada. Tocou mais uma música, daquelas cavernosas, e mais uma vez descemos mais uma dose e isso aconteceu em todas as músicas do LP, dessa vez, com a ajuda da torcida e da "corda" que a turma dava.
Cada música que tocava, a turma aos gritos dizia: vamos lá Niel e Zezinho, vamos brindar aos Beatles! E nós dois já cheio de "manguaça", bebíamos que nem sentíamos. Já estávamos pra lá de Bagdá! Eu não conseguia ficar de pé. O Zezinho também estava muito "chumbado", mas nem tanto como eu. A festa terminou e então resolvemos voltar para a Esquina da Dona Amélia. A nossa turma não deixava passar nada. Nem os próprios membros da turma não estavam isentos de gozação e brincadeiras que só nós mesmos inventávamos.
Eu confesso que naquelas alturas eu estava totalmente embriagado. Eu e meu amigo Zezinho.
Resultado: já estávamos na Praça da Faculdade, bem próximo a esquina, quando a turma resolveu me colocar nos braços e me levar para HPS - Hospital de Pronto Socorro, que ficava a dois quarteirões da Esquina da Dona Amélia. Saíram me levando pelos braços e pelas pernas, na altura dos seus ombros e gritando em voz alta: olha a facada! Abram alas! O homem levou uma facada! Eu naquela época era muito magro e consequentemente, bem leve.
Ainda bem que já era tarde da noite e não tinha praticamente ninguém nas ruas. Chegaram ao HPS correndo e emburacaram de porta à dentro e, gritando, o homem foi esfaqueado! Socorro! O que chamou a atenção de todos que estavam lá, aguardando atendimento e, que correram todos para ver a bizarra cena. Me colocaram deitado num banco e fiquei aguardando o atendimento médico de urgência. O pai do Equinho e do Jarbas, era médico e dava plantão no HPS. Sabendo e lembrando disso, comecei a falar em voz alta que só queria ser atendido pelo Dr. Adávio! Esse era o seu nome! Sim! Dr. Adávio! Repeti por diversas vezes esse pedido. A turma toda morria de rir. No intervalo entre um pedido e outro, cuspia pra cima, aquela saliva grossa que subia e voltava e, que segundo meus amigos, caía na minha testa. Acredito que teve muita mentira nessa história.
Esperamos um bom tempo para que alguém viesse me atender e enquanto isso eu continuava chamando pelo Dr. Adávio e cuspindo para cima e acertando a testa. Depois de um bom tempo, apareceu uma pessoa vestida de branco e, não é que pensei que era o Dr. Adávio? Mas me enganei redondamente. Na realidade era um enfermeiro que veio aplicar uma dose de glicose, para cortar o efeito do álcool no sangue. Eu então, olhei para o enfermeiro e falei: "Dr. empurre bem devagarinho! Aí a turma caiu na gaitada! o enfermeiro permanecia sério.
Já estava melhor da "birita" e, muito impaciente, mexia muito o braço dificultando o trabalho do enfermeiro. Só sei que depois de um grande sacrifício, consegui tomar a dose de glicose. Fui orientado a demorar um pouco deitado para que a glicose fizesse efeito. Olha! foi um santo remédio! Demoramos um pouco e logo tomei pé da situação mas ainda estava sob o efeito da "água que pinto não bebe"! Deitado, via as coisas rodando em minha volta. Resolvemos então ir para casa. Ou melhor, para Esquina de Dona Amélia.
Me levantei um pouco cambaleante e, aos poucos consegui dar minhas primeiras passadas. Cada vez que tocava o calcanhar no chão, minha cabeça doía e parecia que tinha um sino dentro dela. O meu cérebro parecia que estava solto, dentro da cabeça. Era uma sensação horrível. Pior de tudo, era a gozação que a turma fazia comigo.
Depois de uma longa caminhada, apesar de estarmos apenas a duas quadras de casa, chegamos na esquina. Não aguentei e fui para casa. Aí, com um gesto, pedi para a turma ficar em silêncio, uma vez que, queria chegar em casa sem ser notado. Dava algumas passadas e depois me virava pra turma e gritava pessoal! Pessoal! E fazia mais uma vez o gesto pedindo silêncio. Fui assim até em casa sempre parando, gritando e fazendo o gesto pedindo silêncio. A turma, gozava da minha cara. Agora era a turma quem fazia: gritava Niel! Silêncio! Aí Eu respondia aos gritos e repetia o gesto pedindo silêncio.
Bem! Cheguei em casa e não sei como dormi. Me acordei no outro dia com um gosto de "cabo de guarda-chuva", na boca, com uma dor de cabeça muito grande e ainda meio tonto. Não entrava nada! Não aguentava ver qualquer tipo de comida, quanto mais comer. O braço em que tomei a dose de glicose, tinha no local onde foi perfurado pela agulha uma enorme roncha. Acredito pela dificuldade que o coitado do enfermeiro teve para aplicar a dose de glicose em mim.
Passei o dia muito mal, só melhorando no final da tarde. Durante o dia, vários amigos da turma estiveram lá em casa, querendo saber da minha situação e rindo de tudo o que tinha ocorrido naquela madrugada. Isso me dava uma ideia de como seria a gozação que, com certeza, ira acontecer quando fosse pra esquina à noite.
Quando saí de casa para ir a esquina, quando a turma me avistou de longe, começou a encarnação. A turma lá da esquina gritava: eu quero o Dr. Adávio! E caiam na gaitada! Quando cheguei na esquina, aí a zona ficou generalizada e sem controle. Tive de engolir junto com o mal estar que ainda sentia, toda aquela gozação. Mas, em nome do Beatles, era aceitável.
Pensando bem, a minha ida ao HPS, muito embora, apesar de ficar muito chateado, foi necessária. A glicose cortou o efeito do álcool. Só faltou o Zezinho. Tanto Eu como ele, estávamos de "porre" e, se tivéssemos ficado na Esquina de Dona Amélia, talvez todo esse zum, zum, zum... Teria sido bem maior.
Como falei, aconteceu mas, tudo em nome dos Beatles! Valeu a pena! Essa história rendeu por muitas e muitas noites, mas graças a Deus, a turma aos poucos foi esquecendo. Mesmo assim, quando nos reunimos por um motivo qualquer, essa história não pode deixar de ser relembrada. Muito bom relembrar as aventuras do passado.

Nicolau Cavalcanti em 09/10/2012

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